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A TRIACOG como instrumento de rastreio de processos neurodegenerativos em idosos

Imagem em preto e branco de um idoso de cabelos e barba grisalhos, usando óculos, com uma expressão reflexiva enquanto apoia a mão no queixo. Ele está vestindo uma camisa social clara. Ao fundo, desfocado, é possível identificar prédios altos e uma paisagem urbana, sugerindo um contexto de cidade. A imagem evoca introspecção e foco, representando o tema da saúde mental e envelhecimento, alinhado à ideia de rastrear processos neurodegenerativos.

por Ana Paula Souza da Silva e Daniela Garcia Bandeca Shwingel

A população idosa no Brasil está em constante crescimento, e com isso, houve também um aumento do número de casos de demência nesse grupo, tornando-se um desafio para a saúde pública.

No ano de 2010, a população idosa correspondia a 10% do total de habitantes no país; já em 2020 chegou em 13% e a previsão é que em 2040 a porcentagem atinja 23,8%. Segundo Teixeira, Diniz e Malloy-Diniz (2017), no ano de 2050 a expectativa é que 22% da população mundial terá 65 anos ou mais.

Com o aumento da população idosa, aumenta-se também os índices de demência nesse grupo. A dependência e progressiva perda da autonomia influencia no risco de institucionalização em idosos com demência, o que têm se tornado um problema para a saúde pública (Santos, Bessa & Xavier, 2020; Zidan et al., 2012).

A demência caracteriza-se como a deterioração das funções cognitivas, com múltiplos déficits principalmente em relação à memória, mas também há a presença de anormalidades motoras, como distúrbios de marcha, diminuição na força dos membros inferiores e superiores e no controle da postura, principalmente no início, ou em fases pré-clínicas do diagnóstico da demência.

Idosos com início de comprometimento cognitivo apresentam diminuição do equilíbrio o que ocasiona um maior risco de queda. A doença de Alzheimer (DA) é responsável por cerca de 50-70% de todas as demências (Talmelli, 2013; Zidan et al., 2012).

Comumente os sintomas iniciais da demência são confundidos com o processo normal de envelhecer, o que ocasiona um atraso no diagnóstico. A primeira consulta costuma ser por influência do familiar ou cuidador que percebe alterações no comportamento do idoso, como desinteresse, irritabilidade, confusão, sintomas depressivos, entre outras queixas (Guimarães, Pinto & Tebaldi, 2015).

Especialistas têm se esforçado para diagnosticar a doença desde o início, garantindo qualidade de vida aos pacientes, pois quanto maior o tempo para o diagnóstico, maiores serão os danos e comprometimento no tecido cerebral, com alterações cognitivas como memória, funcionalidade e comportamento.

O diagnóstico de demência é feito através de uma bateria de testes e exames, iniciando pelo exame clínico junto com testes neuropsicológicos que apontem para déficits em duas ou mais áreas cognitivas. Os sintomas iniciais e principais costumam ser perda de memória e de outras funções.

Algumas das escalas de testes neuropsicológicos não avaliam funções, porém com eles é possível avaliar a evolução da doença, o que facilita o trabalho do psicólogo com diferentes métodos terapêuticos para o tratamento das necessidades do paciente. Junto aos testes, é muito importante que haja a entrevista clínica, inclusive com os cuidadores e familiares do idoso, colhendo o máximo de informações possíveis sobre ele. As funções mais citadas por familiares e cuidadores são as alterações de humor e ansiedade, perda de memória e déficits cognitivos (Oliveira & Batista, 2020).

O objetivo da avaliação neuropsicológica é a de investigar e avaliar alterações cognitivas comportamentais e emocionais nos indivíduos que tenham suspeita de transtorno de desenvolvimento, disfunção ou lesão neurológica e, também em casos psiquiátricos (Rodrigues, 2017). Para este tipo de investigação, utilizam-se entrevistas, observações clínicas e teste psicológicos de rastreio cognitivo, dentre eles técnicas de triagem.

Triagens são técnicas utilizadas para identificar condições clínicas, e a avaliação neuropsicológica com um instrumento de triagem cognitiva tem o intuito de avaliar o perfil global do paciente, e dessa forma identificar quem possui riscos para o comprometimento cognitivo (Rodrigues, 2017).

Ilustração da capa do teste TRIACOG (Triagem Cognitiva)Numa pesquisa realizada com cinco idosas no Centro Dia da Vila Vicentina de Bauru, com idades entre 70 e 94 anos, todas diagnosticadas com algum grau de demência, foi utilizado a TRIACOG (Triagem Cognitiva), que se trata de um instrumento idealizado para avaliar adultos e idosos que sofreram um AVC (acidente vascular cerebral) e outras doenças cerebrovasculares, e também, portadores de doenças psiquiátricas e neurológicas, através de 22 tarefas cognitivas breves. Os resultados deste estudo demonstram a eficácia do TRIACOG como uma ferramenta de rastreamento da perda cogniti

va em idosos com demência. Além disso, a relação entre o desempenho cognitivo e o estágio da demência enfatiza a necessidade de uma detecção precoce e intervenção adequada. A identificação precoce de comprometimento cognitivo pode levar a melhores resultados e uma melhor qualidade de vida para os pacientes (Guimarães, Pinto & Tebaldi, 2015).

A eficiência da TRIACOG em relação ao tempo de aplicação e dos materiais necessários o torna uma ferramenta prática para profissionais de saúde que trabalham com idosos com demência, entretanto, só é possível utilizá-lo em idosos que sejam alfabetizados, já que algumas tarefas consistem em ler frases, fazer cálculos e escrita com ditado.

Esse estudo contribui para o entendimento da importância da avaliação cognitiva em pacientes com demência e destaca a necessidade de implementar medidas preventivas e terapêuticas desde os estágios iniciais da doença (Guimarães, Pinto & Tebaldi, 2015; Rodrigues, Bandeira& Sales, 2021).

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Ana Paula Souza da Silva

Discente do curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Bauru.

 

Daniela Garcia Bandeca Schwingel

Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade do Sagrado Coração (2019), Especialista em Neuropsicologia pelo IPOG (2022). Especialista em Psicologia do Trânsito – Título proferido pelo Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo (2009), Especialização em Psicologia Clínica pelo HRAC – Hospital de Anomalias Crânio faciais, USP – Bauru (2003), Especialização em Psicopedagogia pela Universidade do Sagrado Coração (2002).

Possui graduação em Psicologia – Licenciatura e Formação de Psicólogo pela Universidade do Sagrado Coração (1997). Proprietária da Psicovita, representante de editoras de testes psicológicos, onde presta serviços de assessoria e treinamento na área de avaliação psicológica.

Docente convidada do curso de Especialização em Neuropsicologia do CENSUPEG, na disciplina de Psicometria Aplicada à Avaliação Neuropsicológica. Docente da FIB – Bauru (Faculdades Integradas de Bauru) no curso de Psicologia, disciplina de Avaliação Psicológica, Psicodiagnóstico e Técnicas de Observação e Entrevista.

Referências

Guimarães, L. F. O., Pinto, C. T., Tebaldi, J. B. (2015). Alzheimer: diagnóstico precoce auxiliando na qualidade de vida do cuidador (v. 12, n. 23 e 24, p. 11-30). Memorialidades: http://periodicos.uesc.br/index.php/memorialidades/article/view/1304.

Oliveira, L. C., Batista, F. L. A (2020). Importância do Diagnóstico Precoce da Doença De Alzheimer. Série: Sociedade, Saúde e Meio ambiente. Faculdade Alfredo Nasser, Goiânia, v. 3, p. 206-217, 2020. https://servicosonlineaparecida.unifan.edu.br/files/docBiblioteca/ebooks/°°384977551.pdf#page=206

Rodrigues, J. C., Bandeira, D. R., Sales, J. F. (2021). TRIACOG Triagem cognitiva: Livro de instruções (Manual) (1ª. ed., v. 1, p. 250). Vetor Editora

Rodrigues, J. C. (2017). Triagem cognitiva nas doenças cerebrovasculares: Processo de construção e propriedades psicométricas do instrumento TRIACOG. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia, Porto Alegre https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/185096.

Schmidt, L. F. S. (2020). Normas clínicas do instrumento TRIACOG para rastreio cognitivo após acidente vascular cerebral. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia. Porto Alegre. http://hdl.handle.net/10183/221722

Talmelli, L. F. S. et al. (2013). Doença de Alzheimer: declínio funcional e estágio da demência (v. 26, p. 219-225). Acta Paulista de Enfermagem. https://www.scielo.br/j/ape/a/6QYKZNFvLPCq9Vp3vKqRPGC

Teixeira, A. L., Diniz, B. S., Malloy-Diniz, L. F. (2017). Psicogeriatria na prática clínica (1ª ed., p. 448). Pearson Clinical Brasil.

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