por Ester Borges
“Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.”
Carlos Drummond de Andrade
Escrever não é tarefa fácil. Ler, por outro lado, é altamente prazeroso e edificante. A produção de um livro sempre desafia seu autor em algum momento, daí a profunda admiração e respeito por quem se aventura nessa seara.
Não discerne bem o caminho aquele que se abstém da luz do conhecimento a partir da leitura técnica, ou temas afins, na ampla estrada da ciência do cuidado com o Outro.
A eficácia se constrói na escola dos autores que investiram tempo registrando vivências e saberes experimentados na didática científica dos experimentos e da prática. Anaconda-Lopez (2022)¹ menciona que, ao lermos determinado fato embasado em conhecimentos específicos, nos tornamos capazes de realizar diagnóstico no campo da ciência a que esses conhecimentos se referem.
A autora segue dizendo que compreender uma folha de papel demanda estudo do material que a compõe, ou seja, impossível olvidar o fato de que conhecimento e leitura são indissociáveis, sobretudo quando se trata do ser humano.
Falando apenas no âmbito da saúde mental, os livros são mensageiros de pressupostos, propostas, fundamentos, intercâmbios de temas, práticas, apontamentos resultantes de pesquisas, teorias, registros de especialistas, escrita como resultado de longos períodos de observação, textos orientativos, reflexões, métodos psicoterapêuticos, manuais teórico-práticos, informações contrastantes da evolução de abordagens.
São obras que pretendem diminuir lacunas de construtos e um sem-fim de contribuições ao alcance daqueles que pretendem explorar, estudar, verticalizar conhecimentos para, então, socraticamente dizer “só sei que nada sei” e continuar perseguindo com prazer e dor o caminho fascinante do saber.
Por outro lado, o virtuoso hábito da leitura, citando o mote do Clube do Livro/2023, de Gabriela Prioli e Leandro Karnal, “ler abre portas” funciona como o fio condutor para ampliar visões, como forma de inteligir questionamentos, como riqueza que ampara e se dispõe a responder a partir de um conhecimento robusto e confiante às demandas que chegam.
A estante colorida atrás de si ou o kindle ao alcance da mão e/ou o tempo investido na leitura dos títulos que abrigam significa empenho de quem acredita e investe em vidas, tecendo e construindo novos comportamentos, permitindo mudanças, tal engenheiros, arquitetos, jardineiros, só que em construção de vidas – em suas mais diversas necessidades.
Quanto maior o conhecimento, mais estratégias e expertise para navegar em águas profundas das complexidades desse ser humano tão singular. ”Se mar calmo não faz bons marinheiros”² fica evidente que águas tumultuosas exigem maestria, sapiência, discernimento, conhecimento e muita coragem. Tanto maior o nível dos enfrentamentos, maior investimento em tudo isso se faz necessário. Pensar assim é buscar saber mais, para entregar mais.
O exercício profissional de um psicoterapeuta depende em grande parte, ou quase totalmente, desses amigos e companheiros de labor, os livros – fiéis escudeiros nos impasses e dúvidas, evitando decisões rasas, equívocos, ignorâncias desnecessárias por estarem disponíveis a consultas e ao ensino.
Gratidão aos escritores, às editoras, aos mestres, às Universidades, aos centros de pesquisa, a todos aqueles que incentivam, participam ativa, direta ou indiretamente na construção, organização e publicação de livros.
O empenho de todos os que labutam na direção do saber, espalhados pelo mundo, são pequenos faróis na imensidão da noite orquestrada por psicopatologias as mais diversas, para quem precisam se beneficiar da luz do conhecimento a fim de vencer o medo, a dor, as trevas e o sofrimento a que estão expostos no adoecimento mental.
1 Anaconda-Lopez, M. (2022). Contexto geral do diagnóstico psicológico (p.13). In Trinca,W. Diagnóstico psicológico: a prática clínica. São Paulo, Vetor Editora.
2 Título do livro de Max Fercondini (ator, apresentador, piloto, escritor e velejador).
Ester Borges
Graduada em Psicologia pelo CEULP/ULBRA (2018); Pós-graduanda em Avaliações Psicológicas – FGI; Capacitação em Desenvolvimento e Liderança (IPOG), experiência e atuação na área de Psicologia Organizacional, (Maqcampo/John Deere) atuando em RH como T & D, ênfase em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Habilidades Sociais; Analista de Forças Pessoais (Instituto Flow de Psicologia Positiva).
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