por Josiane Fernandes Lozigia Carrapato
O Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Bauru, anteriormente, chamado Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS) de Bauru foi implantado, em 25 de agosto de 1995, com a finalidade de realizar atividades educativas, aconselhamento e atendimento anônimo a indivíduos interessados no diagnóstico da infecção pelo HIV.
O CTA tem por missão promover a equidade e o acesso ao aconselhamento, ao diagnóstico do HIV, sífilis, hepatite B, hepatite C e à prevenção dessas e demais Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), favorecendo segmentos populacionais em situação de maior vulnerabilidade.
Diante desta expertise em vinculação com a população vulnerável, incluindo as pessoas transexuais e travestis, o CTA foi o serviço escolhido para implantação do Ambulatório de Assistência Especializada às pessoas Travestis e Transexuais, sendo inaugurado em 12 de novembro de 2020 o Ambulatório TT.
Ao iniciarmos o atendimento à população Travesti e Transexual, percebemos a existência de duplo sofrimento, primeiramente na orientação sexual e posteriormente na identidade de gênero. Há exclusão escolar, familiar e social, então, nas intervenções, verificamos a necessidade da abordagem com foco no acolhimento e humanização.
A população transexual e travesti sofre inúmeras violências no cotidiano e, ao mesmo tempo, são invisíveis no aspecto legal e assistencial, pois não são respeitados nem mesmo no nome social.
De acordo com Benevides e Nogueira (2020), em um dossiê de assassinatos e violências contra travestis e transexuais feito pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil), foram feitos vários apontamentos que reforçam o preconceito e violência acometida a essas pessoas em território brasileiro.
A violência junto a população trans ocorre através de tipificações diferentes desde a física até a violência moral, entretanto silenciada por medo e muitas vezes também por vergonha. Silva et al. (2016) refere que a violência efetuada nesta população é acentuada pelo silenciamento das agressões sofridas e pela invisibilidade no contexto social e institucional refletindo na inibição dos direitos humanos e no ocultamento da realidade.
Uma das violências inerentes à vida da população trans é a psicológica, pois desde o início da percepção da identidade de gênero e orientação sexual diferente da considerada socialmente “aceita” há questionamentos voltadas a essas questões.
De acordo com Pardini e Oliveira (2017), a violência psicológica é constante na vida desta população através do não reconhecimento de suas identidades e seus direitos básicos ao uso de um nome que os representem, uso do banheiro adequado com sua identidade de gênero, saúde, educação e emprego.
É também perceptível a invisibilidade dessa população perante a sociedade e a falta de pesquisas científicas que embasam conhecimento e ações que possam modificar este cenário.
Diante destes apontamentos, surgiu o Ambulatório TT, que realiza assistência interdisciplinar construindo e reconstruindo terminologias e valores através de aprendizado coletivo com a população trans e travestis.
Os objetivos do ambulatório são: promover o cuidado integral deste segmento populacional, propiciar atendimento interprofissional e possibilitar acesso aos serviços de saúde e demais dispositivos se fizer necessário. A população Transexual e Travesti é invisível diante do olhar preconceituoso e estigmatizante da sociedade, assim o Ambulatório TT foi idealizado e implantado buscando dar espaço para ser e sentir sem medo da discriminação e do preconceito.
Os atendimentos são realizados através do acolhimento inicial, avaliação social, avaliação psicológica, avaliação de enfermagem e avaliação com médica endocrinologista. Diante dos atendimentos e das necessidades individuais, são direcionados para o grupo terapêutico, processo de hormonioterapia, cadastramento de intenção para cirurgia de redesignação de gênero, atendimento familiar, mediação nas relações laborais, entre outras.
O Ambulatório TT na área da saúde busca realizar suas ações intersetoriais e interdisciplinares, mas é necessário efetivar políticas públicas específicas, transversais e interseccionais.
É possível possibilitar a visibilidade e a transformação da vida da população trans desconstruindo o ciclo de violência iniciado normalmente nas famílias, posteriormente nas escolas, nas relações sociais, no espaço do trabalho, nas políticas públicas, nas instituições evitando sofrimento e até mesmo a morte – morte essa que pode ser do corpo físico ou a morte social, sendo a última mais dolorosa na qual o indivíduo morre um pouco todos os dias pela ignorância da sociedade.
Drª Josiane Fernandes Lozigia Carrapato
Assistente Social, Especialista em administração de serviços de saúde pública e hospitalar, Terapeuta de Casal e Famílias, Especialista em Avaliação de Serviços de Saúde, Mestre e Doutora em Saúde Coletiva pela Unesp/Faculdade de Medicina de Botucatu, Psicopedagoga, Graduanda do 4º ano de Psicologia pela FIB – Faculdades Integradas de Bauru, Docente e psicopedagoga do Centro Universitário de Bauru – ITE, Coordenadora do CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento de Bauru.
Referências
Benevides, B. G., Nogueira, S. N. B. (2021). Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020. Expresso Popular, ANTRA, IBTE.
Pardini, B. A., Oliveira, V. H. (2017). Vivenciando a transexualidade: o impacto da violência psicológica na vida das pessoas transexuais (n.1, v.1, pp. 110-118). Psicologia – Saberes & Práticas.
Silva, G. W. S., et al (2016). Situações de violência contra travestis e transexuais em um município do nordeste brasileiro (37(2)). Rev Gaúcha Enferm.
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