por Aline Battisti Archer, Doutora em Psicologia das Organizações e do Trabalho.
No mundo empresarial, é comum ouvirmos a seguinte frase: “Não entendo o que está acontecendo, minha equipe recebe um alto salário em comparação ao mercado de trabalho e ainda assim está desmotivada”.
Ou, ainda, “Os profissionais da minha equipe só sabem reclamar, nunca estão contentes com nada”. Sob essa perspectiva, de que o salário é a principal fonte motivadora das pessoas e que elas vivem para reclamar, com o tempo, torna-se frustrante gerenciar pessoas.
Afinal, os recursos financeiros são limitados nas organizações – não é possível aumentar o tempo todo o salário de todo mundo – e as pessoas parecem insaciáveis.
No entanto, se entendermos sob outra perspectiva a concepção de motivação, alternativas se abrem, e justificam-se, ainda mais, a necessidade e a importância da atuação de excelentes líderes nas empresas. Essa concepção possui dois pressupostos básicos:
- A motivação sempre está atrelada a um comportamento. Não faz sentido, portanto, afirmar que uma pessoa está desmotivada. Na realidade, ela está desmotivada para fazer algo. Um profissional, por exemplo, pode estar motivado para trabalhar em um projeto e não em outro.
- A motivação é sempre determinada por múltiplos fatores. Voltando ao exemplo, o que pode fazer o profissional gostar de trabalhar em um projeto e não em outro talvez sejam as características do projeto, as características das pessoas com as quais ele trabalhará e/ou as características do líder do projeto.
Com base nessas premissas, é possível entender a razão pela qual o salário não funciona como o único motivador das pessoas. Ele pode ser um fator importante, dada a sociedade em que vivemos, mas não necessariamente será o principal motivador, ou suficiente por si só.
Há vários outros fatores que podem aumentar a motivação dos profissionais. Esses aspectos podem ser organizados em três grandes categorias: interação social, características do trabalho, e investimento e reconhecimento profissional.
Do ponto de vista da interação social, pode ser motivador para muitas pessoas ter a oportunidade de apresentar resultados para seu líder; dar opinião para ele, quando solicitado; ter a oportunidade de realizar trabalho em grupo; ou só ter que realizar trabalho de modo individual.
Em relação às características do trabalho, trabalhar com uma área de interesse, resolver problemas ou desenvolver projetos, assumir novas responsabilidades ou trabalhar com horários flexíveis também podem ser aspectos motivadores.
E em relação à categoria investimento e reconhecimento, pode ser muito motivador para o profissional receber treinamento, participar de happy hours promovidos pela empresa, ter uniforme de trabalho, trabalhar com equipamentos de qualidade, receber um dia ou período de folga como recompensa por um bom trabalho, receber um agradecimento escrito pela gerência superior ou ser promovido.
Todos esses e vários outros fatores podem ter o papel de motivar as pessoas. Mas eles não são motivadores em si. É preciso que o líder, assessorado por um profissional capacitado e, muitas vezes, externo à empresa, descubra quais são os fatores que motivam o comportamento das pessoas no contexto daquela organização e gerencie esses fatores a favor do desempenho desejado.
A motivação não é uma flor bonita que está dentro de nós. A motivação é um estado – você está desmotivado, você não é desmotivado. Portanto, ela é circunstanciada: em certas circunstâncias ela existe, em outras não, ou não na mesma intensidade.
As organizações não devem esperar que uma flor nasça em cada um ou se lamentar porque ela ainda não nasceu. É papel das organizações – gestores e líderes – criar as circunstâncias para que as pessoas se sintam e se mantenham cada vez mais motivadas no seu ambiente de trabalho, para que, assim, alcancem os melhores resultados e desejem criar raízes em uma rica terra, voltada para o desenvolvimento humano e organizacional.
Aline Battisti Archer
Doutora em Psicologia das Organizações e do Trabalho pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Psicologia das Organizações e do Trabalho pela UFSC. Graduada em Psicologia pela UFSC. Consultora e Mentora de Negócios e Carreira.
Atualmente trabalha com assessoria, pesquisa e desenvolvimento de comportamento humano em organizações, nas áreas relacionadas a gestão de desempenho profissional, formação profissional, desenvolvimento profissional, padronização de processos, avaliação de desempenho, avaliação de cursos de formação e educação a distância.
É professora do curso de Psicologia e de Administração no Centro Universitário de Brusque (UNIFEBE). Membro do grupo de pesquisa de Análise do Comportamento Aplicada nas Organizações da UFSC e do Laboratório Fator Humano.
Referências
Botomé, S. P. (2001). Sobre a noção de comportamento. In H. P. M. Feltes, & U. Ziles (Orgs.), Filosofia: diálogo de horizontes (pp. 685-708). Porto Alegre: EDIPUCRS.
Daniels, A., & Bailey, J. S. (2014). Performance management: changing behavior that drives organizational effectiveness. Atlanta: PMP.
Hübner, M. M. C. (2012). Fundamentos de psicologia: temas clássicos de psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.