Por Carlos Eduardo Bovenzo Filho
Publicada no ano de 2023, a obra A organização do pensamento clínico em psicoterapia, organizada por Walter Trinca, é composta por 17 capítulos de autorias distintas, divididos em duas partes. Trata-se de um trabalho com linguagem clara e de leitura agradável, indispensável para aqueles que se preocupam com a dor psíquica.
A primeira parte da obra contém 12 capítulos. Nesta primeira parte, os capítulos proporcionarão um alicerce para que o leitor amplie suas compreensões acerca das pesquisas dos grandes expoentes em psicoterapia e psicanálise, bem como a sua importância para o estabelecimento de análises clínicas.
Além disso, a Parte I promove importantes considerações sobre o trabalho em psicoterapia, bem como as complexas conceituações que permeiam tal prática.
Dentre elas, encontram-se a distinção entre ser interior e self, bem como as fragilidades e angústias que permeiam o sujeito, influenciando sua forma de experienciar o mundo (interno e externo).
Outro ponto preponderante da Parte I diz respeito ao forte embasamento nos conceitos da psicanálise objetal, sobretudo articulando a fragilidade do self e a busca por objetos que versam a proteção do sujeito.
Tais análises e discussões contidas na obra representam, por meio de palavras, a realidade clínica contemporânea: pacientes cada vez mais fragilizados e perdidos na busca de preenchimento de vazios, mobilizados por uma busca ativamente cega de objetos que (quiçá) suprirão suas angústias e necessidades.
Somadas ao anterior acima, a Parte I evidencia, de maneira cirúrgica, o quão as “tragédias iniciais” como o alcoolismo, violência doméstica, drogadição, dentre outras, exercem influência primeva no ser interior do feto – ou seja, a cova que necessita ser preenchida pelo sujeito foi, outrora, cavada pelo próprio mundo externo.
Sendo assim, busca-se o preenchimento de um vazio e satisfação de necessidades em seu próprio agente causador: o objeto.
A Parte II, composta por quatro capítulos, aborda inicialmente a utilização do Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) enquanto instrumento que permite a livre associação e consequente emergência de conflitos afetivos. Realizando um adendo, o D-E consiste em uma técnica enriquecedora para a prática clínica-investigativa em psicologia.
Outro assunto abordado envolve a aproximação entre psicanálise e estética (em busca da forma de algo) enquanto aproximação dos conteúdos inconscientes. No capítulo 14, especificamente, Oliveira (2023) dá a ênfase ao objeto estético (conteúdo do analisando) enquanto fonte emocional, conflituosa, porém cuja análise permite reorganização de si e momentos construtivos em termos clínicos.
Adiante, a Parte II aborda, no capítulo 15, sobre a importância de atitudes profissionais que vão além do conhecimento teórico e técnico, abarcando duas vertentes: (1) capacidade do analista de sustentar o acontecer clínico como um encontro humano e (2) consciência crítico-social (o sofrimento do paciente está associado a uma realidade macrossocial).
Por fim, no capítulo 16, Éric Hamaraqui realiza a complexa articulação sobre a busca de si mesmo na confluência de três campos: filosófico, psicanalítico e estético. Há a consideração reflexiva e necessária para o leitor sob a condição artística do psicanalista em “desenhar ou pintar os movimentos mais imperceptíveis da vida psíquica, sendo o ’espelho mágico’ destes” (Hamaraqui, 2023, p. 195).
Na parte final da obra, há a ênfase na Psicanálise Compreensiva, abarcando as principais considerações sobre as contribuições teórico-clínicas do Dr. Walter Trinca, caracterizadas preponderantes para a compreensão do funcionamento psíquico por meio de dois subsistemas: self e ser interior.
Carlos Eduardo Bovenzo Filho
Graduado em Psicologia pela Universidade Guarulhos (UNG), pós-graduado em Psicologia Jurídica e Pós-graduando em Psicologia Clínica. É psicólogo clínico (CRP 06/148842), com experiência em avaliação psicológica e psicoterapia de orientação psicodinâmica (crianças, adolescentes, adultos e casais). É professor especialista I da Universidade Guarulhos e atua como psicólogo no Departamento de Produtos e Pesquisa da Vetor Editora.