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Procedimento de Desenhos-Estórias: Resenha

por Carlos Eduardo Bovenzo Filho – Departamento de Produtos e Pesquisa – Vetor Editora

Capa do livro Procedimento de Desenhos-Estórias

Resenha Procedimento de Desenhos-Estórias: formas derivadas, desenvolvimentos e expansões – Walter Trinca

 

Capa do livro Procedimento de Desenhos-EstóriasNa apresentação da obra, Trinca (2013) expõe os dois tipos de técnicas compreensivas na investigação da personalidade enfatizadas em seu trabalho: O Procedimento Desenhos-Estórias (D-E) e Procedimento Desenho de Família com Estórias (DF-E). Além disso, tece uma compreensão geral acerca desta técnica, seus objetivos, os tipos existentes, áreas nas quais tal ferramenta pode ser aplicada e, por fim, os cinco fatores fundamentais do Procedimento D-E: Configuração básica (unidades de produção), diálogo gráfico-verbal (inquérito), mensagem inconsciente inteiriça (transmitida gráfica e verbalmente), foco nodal (diferentes setores de aplicação) e, por fim, aplicação inicial – na qual os efeitos da técnica se condicionam à detecção de conteúdos que surgem no início do atendimento […] (Trinca, 2013, p. 10).

Após reforçar que o Procedimento Desenho-Estória e suas formas distintas não consiste em um teste psicológico, no capítulo um – Formas Tradicionais de Aplicação, Trinca (2013) explica que, apesar de existirem formas derivadas (como o desenho da família, etc.), isso não extingue a natureza desta técnica, mas apenas amplia a sua aplicabilidade. Posterior a isso, o autor traz a maneira correta de ministrar os Desenhos-Estórias e Desenhos da Família com Estórias, enfatizando que ambas as técnicas, manejadas por um psicólogo devidamente qualificado e registrado, podem ser aplicadas em qualquer público (que, obviamente, seja possível a aplicação).

 

CAPÍTULO II, Desenvolvimento do Procedimento Desenhos-Estória

O capítulo dois, Desenvolvimento do Procedimento Desenhos-Estória, escrito por Ana Maria Trapé Trinca, traz de forma breve o contexto histórico da psicologia, no qual a técnica de Desenhos-Estória emergia. Em seguida, a autora mostra a amplitude do uso psicoterapêutico do D-E em situações específicas, expondo pesquisas que consolidam a intensa contribuição clínica dessa técnica nas seguintes áreas, a saber: psicoterapia breve, intermediação terapêutica, impasse terapêutico, diagnóstico preventivo e interventivo, área social, área de deficiências, estudos da família e outros. Já no campo médico, o uso do D-E se faz presente na obstetrícia, oncologia, doenças físicas, hospitalização e intervenções cirúrgicas e psicossomática.

O capítulo três, intitulado Procedimento de Desenhos-Estória: Emprego como forma de entrevista psicológica, escrito por Sônia Mestriner, aborda por meio de diferentes estudos as contribuições do D-E enquanto forma de entrevista, até mesmo, diagnóstica, mostrando-se como uma técnica que possibilita uma relação bastante estreita e particular entre psicólogo e paciente/cliente. A autora cita estudos de técnicas não verbais enquanto recursos facilitadores para a emergência de conteúdos latentes, trazendo importantes nomes, como Winnicott (técnica do rabisco), reforçando pelo referencial teórico de Aberastury, a qual explicou as manifestações inconscientes que surgem por meio da expressão lúdica. Por fim, é apresentado um estudo de caso, voltado ao emprego do D-E em uma entrevista diagnóstica.

 

CAPÍTULO IV, O pensamento clínico na utilização do Procedimento de Desenhos-Estórias

No capítulo quatro, O pensamento clínico na utilização do Procedimento de Desenhos-Estórias, Walter Trinca promove a explicação inicial do pensamento clínico no diagnóstico da personalidade, trazendo ao leitor as diferentes formas de se compreender a dinâmica psíquica do sujeito, concatenando vinhetas clínicas nas quais a aplicação e interpretação do D-E se fez presente.

Já no quinto capítulo, O uso do Procedimento de Desenhos-Estórias na abordagem fenomenológico-existencial, Ancona-Lopez evidencia a técnica do D-E como um recurso que subsidia, em termos da abordagem citada, o diálogo entre o profissional e a criança, juntamente da compreensão da subjetividade desta última, e como ela se apresenta e enxerga o mundo e o momento presente. A autora salienta a importância de, nesse processo, envolver os pais, pois estes são de grande importância na composição subjetiva da criança e, consequentemente, fazem parte da forma como a própria criança vivencia e experiencia situações de sua vida.

Em O Procedimento de Desenhos-Estória e as contribuições de D. W. Winnicott, sexto capítulo da obra, Maria Amiralian expõe contribuições da Teoria do Amadurecimento de Winnicott e a sua aplicabilidade no manejo clínico do D-E, complementando, ao término do capítulo, com um estudo de caso.

 

CAPÍTULO VII, O uso do Procedimento de Desenhos-Estórias na entrevista devolutiva

No sétimo capítulo, intitulado O uso do Procedimento de Desenhos-Estórias na entrevista devolutiva, Elisa Villela expõe algumas considerações profissionais acerca do aspecto dinâmico da devolutiva e a importância de sua elaboração para o paciente/cliente. Mais à frente, fundamenta, por meio da teoria Winnicottiana, o D-E enquanto técnica mediadora da relação paciente/cliente x psicólogo e, também, como um recurso subsidiário no emergir de conteúdos afetivos. Por meio de explicações e um caso ilustrativo, a autora mostra o quão importante se faz a técnica do D-E enquanto instrumento mediador em uma entrevista devolutiva, de modo que, ao serem retomadas as unidades dos desenhos, possam favorecer novas associações, ou então, sustentarem a existência de conteúdos devolvidos ao paciente.

O capítulo oito, Um modelo de pesquisa qualitativa com a utilização do Procedimento de Desenhos-Estórias, escrito por Walter Trinca e Maria Martão, traz ao leitor uma das possibilidades de pesquisa realizada por meio do D-E, buscando o fato de este instrumento ser capaz de evidenciar problemáticas inconscientes comuns aos integrantes de um grupo. O autor mostra alguns cuidados que o pesquisador deve tomar no manejo e seleção dos grupos e, posteriormente, elucida, via estudos, a possibilidade de ocorrer a existência comum dos aspectos inconscientes entre os indivíduos de um grupo. Por meio disso, a proposta dos autores foi “empregar a psicanálise como ciência discriminativa de configurações inconscientes (…)” (p. 228), apontando o D-E enquanto um meio útil no contexto de pesquisa.

 

CAPÍTULO IX, Laços e embaraços: o Procedimento de Desenhos de Família com Estórias na compreensão cruzada dos psicodinamismos de mãe e filha

No capítulo nove, Laços e embaraços: o Procedimento de Desenhos de Família com Estórias na compreensão cruzada dos psicodinamismos de mãe e filha, Barbieri apresenta considerações iniciais, moldadas na sociologia, acerca das relações familiares e suas constantes mudanças, sobretudo no aspecto do substrato da relação mãe x filho e seus desdobramentos desenvolvimentistas. Em seguida, a autora expõe, por meio de dois casos clínicos, a aplicabilidade do Procedimento de Desenhos-Estórias, mostrando o quão favorável, em termos compreensivos, é a ferramenta para a elucidação dos conteúdos latentes que enovelam essa dinâmica.

O capítulo 10, intitulado Rabiscando Desenhos-Estórias com Tema: pesquisa psicanalítica de imaginários coletivos, escrito por Vaisberg e Ambrosio, evidencia o Procedimento de Desenhos-Estórias enquanto técnica compreensiva mediante ao imaginário coletivo de grupos específicos. Nesse cenário de pesquisa, o Procedimento permite a rememoração e, embora estruturalmente diferente, a reedição da Técnica do Rabisco de Winnicott, de modo que possibilite experiências criadoras em um ambiente bordado por “encontros brincadeiras” (p. 279) entre pesquisador e participante (ou psicanalista e paciente).

Já o capítulo 11, D-E com Tema: pesquisas realizadas, escrito por Martão, revela um levantamento dos diferentes temas que o D-E fora aplicado enquanto técnica compreensiva frente ao imaginário coletivo e representações sociais, envolvendo: Psicologia hospitalar, infância e adolescência (contextos específicos), exercício profissional, situações em abrigos e adoções, relações familiares, relacionamentos amorosos, envelhecimento, avaliação psicológica, psicoterapia e, inclusive, criminologia e educação ambiental, mostrando assim a vastidão contextual comportada pelo Procedimento D-E.

 

CAPÍTULO FINAL, Derivações do Procedimento de Desenhos-Estórias: atendimentos em grupo

No último capítulo da obra, Derivações do Procedimento de Desenhos-Estórias: atendimentos em grupo, Tardivo expõe contribuições acerca do uso do D-E em atendimentos grupais. A autora discorre acerca da referida técnica enquanto subsídio mediador nas consultas terapêuticas postuladas por Winnicott e, também, nas oficinas terapêuticas (voltadas aos grupos). Por fim, são expostos casos ilustrativos no contexto grupal, demonstrando a aplicabilidade do Procedimento Desenhos-Estória com tema.

Efetivamente, a obra resenhada abarca um conteúdo que confirma a aplicabilidade ampla e flexível do Procedimento de Desenhos-Estórias enquanto técnica subsidiária no diagnóstico psicológico compreensivo e, especialmente, na elaboração de pesquisas com temas diversificados. Destarte, consiste em uma leitura de rica contribuição para a prática clínica-acadêmica do psicólogo, sendo, então, um material indispensável para a sustentação do saber psi, este enquanto pedra angular do cuidado para com a subjetividade humana.

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