por Ester Borges
A etmoligia da palavra luto oferece sentido mais amplo do seu significado. Do latim luctus,us ‘dor, mágoa, lástima’ (Dicionário Online de Português), apontando, assim, para questões que, para além da morte, são inevitáveis ao longo da vida.
O baralho Conversando Sobre Luto pode ser visto e utilizado como suporte social em vários tipos de perdas, para amparar aqueles cujas perdas não dizem respeito apenas ao luto/morte.
A literatura sobre o tema aborda os comportamentos reativos mais diversos assim como as diversas formas de lidar, cuidar e orientar pessoas enlutadas – mas se há um consenso seria o quão difícil e quão poucos estariam habilitados para ajudar pessoas enlutadas.
Soares e Mautoni (2013)¹ comentam sobre como atualmente o luto se tornou algo que deve ser pouco evidente, pouco importante e bem curto. A sociedade não “dá permissão” a um lamento mais prologado ou a sinais mais evidentes (tarja preta na fachada das lojas, vestimentas pretas etc.), o choro deve ser breve e contido – independentemente do tipo de luto o indivíduo é estimulado a “engolir o choro” e seguir, usando termos como “a vida continua”, “a fila anda”, “o que passou, passou”.
Essa realidade, longe de minimizar ou encurtar de fato o luto, adoece a sociedade, deixa feridas que, por não serem respeitadas e tratadas a contento, afetam convivências, destroem casamentos, carreiras, amizades, inibem a liberdade de indivíduos antes saudáveis e capazes de viver a vida com mais alegria e saúde mental.
O baralho foi pensado para ajudar a fazer frente a tudo isso, se mostrando uma ferramenta facilitadora da comunicação, reconhecendo, respeitando e ajudando na elaboração dos sentimentos advindos das perdas.
Creio que o maior trunfo desse instrumento é a “permissão” dada para contar e recontar sua história, apropriando-se da experiência vivida, seja ela qual for, além de deixar o enlutado perceber-se como sobrevivente da perda.
Os autores reiteram que “a ideia não é tirar a dor psíquica, mas mitigar, aliviar, afrouxar o sofrimento psíquico”, o que é facilitado pela organização de objetivos técnicos didáticos do baralho, digamos assim, que favorece “os seguintes elementos de uma comunicação facilitadora do processo de luto: expressão, narrativa, reparação, informação, memorização, reconstrução e autoanálise.
O embasamento teórico científico tranquiliza ao tempo que facilita oferencendo visão e entendimento do tema. Dessa forma o facilitador pode se preparar a contento para uso do instrumento no contato com o manual, que vai desde explorar o sentido do tema, passando pelas contribuições teóricas variadas com suas particularidades, chegando às instruções claras, organizadas e sensívies fiéis ao cumprimento do objetivo do instrumento, de ser um recurso terapêutico estruturado para colaborar com o trabalho psíquico imposto pela experiência da perda.
Tudo pensando com base na larga experiência e conhecimento das autoras sobre o tema.
Vale muito a pena adquirir tanto para aprender mais sobre o luto quanto para ser instrumento de facilitação para esse Outro que sofre sem ferramentas para lidar com o peso de perdas que desnoteiam a caminhada deixando-os desampardos e com medo.
1. Soares, E. G. B.; Mautoni, M. A. de A. G. (2013). Conversando sobre o luto. Ed. Ágora; direitos desta edição reservados por Summus Editorial.
Ester Borges
Graduada em Psicologia pelo CEULP/ULBRA (2018); Pós-graduanda em Avaliações Psicológicas – FGI; Capacitação em Desenvolvimento e Liderança (IPOG), experiência e atuação na área de Psicologia Organizacional, (Maqcampo/John Deere) atuando em RH como T & D, ênfase em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Habilidades Sociais; Analista de Forças Pessoais (Instituto Flow de Psicologia Positiva).
Referência
Cogo, A. S., Naleto, A. L., Oliveira, L. C. F. (2020). Barallho conversando sobre o luto e ressignificando perdas (1ª ed.). Vetor Editora.
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