por Alessandra Pinatti Kinjo, consultora comercial da Vetor Editora, Mestre em Psicologia pela USP – Ribeirão Preto.
A importância da ciência nos instrumentos de avaliação no contexto organizacional
Independente da área de formação do profissional de RH, as organizações utilizam-se de ferramentas, técnicas e instrumentos para avaliar as pessoas tanto no momento da seleção para identificar aspectos comportamentais e cognitivos como para promover o desenvolvimento desse colaborador.
Nesses processos de avaliações são usadas várias estratégias tais como entrevistas (por competências, situacionais, estruturadas, semiestruturadas, livres), dinâmica de grupo, aplicação de testes psicológicos, aplicação de técnicas comportamentais, jogos, entre outros. A combinação desses múltiplos métodos de avaliação proporciona maior segurança nas tomadas de decisão e diminui o risco de escolhas equivocadas e prejudiciais aos envolvidos tanto para a empresa como para o avaliado.
Cabe ao profissional responsável pelas avaliações definir qual instrumento ou combinação de técnicas que será empregada para alcançar os objetivos daquela avaliação, refletindo sobre as vantagens e desvantagens dos procedimentos utilizados, tais como: entrevistas, aplicação de testes psicológicos, dinâmicas de grupos, jogos, análise de currículos, entre outros.
Por isso, faz-se necessário estar atento para algumas questões:
- Qual o critério que estamos usando para escolher esses instrumentos ou técnicas?
- Será que o instrumento ou técnica escolhido tem qualificações científicas?
- Temos tempo hábil para estudar o material, de modo a garantir qualidade da avaliação?
Quando usamos um teste psicológico, temos a garantia de ele ter sido submetido à Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica (CCAP) do Conselho Federal de Psicologia (CFP) para apreciação. Isto porque os testes têm o objetivo de identificar, descrever, qualificar e mensurar as características psicológicas, por meio de procedimentos sistemáticos de observação e descrição do comportamento.
Quando aprovados pelo CFP, os testes psicológicos possuem consistência técnico-científica e precisa atender os requisitos mínimos obrigatórios, como fundamentação teórica, definição dos objetivos e contexto de avaliação, pertinência teórica e qualidade técnica dos estímulos utilizados, apresentação empírica sobre características técnicas dos itens, estudos de validade e de precisão para as interpretações dos resultados, no entanto, quando não for um teste psicológico, devemos nos atentar para a cientificidade desse instrumento.
Por isso, o método científico é visto como um conjunto de atividades sistemáticas e racionais que permite alcançar os objetivos com maior segurança e economia.
Segundo Pasquali (1998), para a construção de um instrumento, existem três procedimentos, a saber: teóricos, empíricos (experimentais) e analíticos (estatísticos). O procedimento teórico refere-se à fundamentação ou explicitação da teoria. No empírico, envolve-se a coleta de dados por meio do instrumento construído com base na teoria, já o procedimento analítico terá a decisão se sua teoria tem ou não alguma consistência, ou seja, com base na verificação empírica que se pode ou não confirmar a validade de uma teoria.
A validade de um teste, basicamente, diz respeito ao cumprimento da tarefa de medir o que de destinou a medir, ou seja, é a comprovação que o teste mede aquilo a que ele se propõe. Para isso, existem algumas técnicas para realizar essa verificação, são elas, a saber: validação de conteúdo, validação aparente e análise semântica.
A validação de conteúdo é a compreensão dos itens com base na teoria, isto é, é a análise item a item feita por juízes qualificados no assunto, na verificação da formulação do item, para que o avaliem quanto ao construto a que ele se refere. A validação aparente é a verificação dos itens que não se referem com o objetivo proposto e que, consequentemente, pode afetar negativamente os resultados finais do instrumento. Já a análise semântica é a compreensão do item quanto ao seu significado e escrita (Pasquali, 1998).
A precisão (também conhecida como confiabilidade, ou ainda, fidedignidade) refere-se à estabilidade do teste, de maneira que, quanto mais próximas forem as pontuações obtidas por métodos ou em situações diferentes, maior será a consistência do teste (Anastasi & Urbina 2000). A confiabilidade está relacionada com a consistência dos resultados obtidos quando o mesmo indivíduo ou objeto é avaliado, medido e ou quantificado mais de uma vez, verificando a constância dos resultados.
Padronização ou normatização refere-se à necessidade de existir uma uniformidade em todos os procedimentos no uso de um teste válido e preciso: desde a aplicação (uniformidade nas instruções e nas condições em que o teste será aplicado, controle no grupo de pessoas) até o desenvolvimento de parâmetros para a interpretação dos resultados obtidos.
As transformações no mundo de trabalho têm exigido novas posturas e estratégias, porém, deve-se atentar para que atuação do profissional de RH seja embasada em critérios científicos e metodológicos, permitindo um trabalho de qualidade e responsabilidade técnica.
O uso de instrumentos não científicos no processo de avaliação de uma pessoa pode proporcionar uma avaliação inadequada, trazendo prejuízos tanto para os avaliados como para a organização, como se observa na insatisfação, desmotivação, baixa produtividade, problemas de relacionamento interpessoal, entre outros, podendo culminar com o desligamento desse colaborador da companhia onde exerce sua atividade laboral.
Referências
Referências
Anastasi, A., & Urbina, S. (2000). Testagem psicológica. 7ª ed. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.
Conselho Federal de Psicologia [CFP]. (2018). Resolução n. 9, de 25 de abril de 2018. Brasília, DF: CFP.
Tolfo, S. R. (2020). Capítulo 1. In Gestão de Pessoas e Saúde Mental do Trabalhador – Fundamentos e Intervenções com base na Psicologia (1ª ed., pp. 21-38). São Paulo, SP: Vetor Editora.
Pasquali, L. (1998). Princípios de elaboração de escalas psicológicas. Rev. Psiquiatr. Clín. São Paulo, 25(5), 206-13.
Pasquali, L. (2003). Psicometria: teoria dos testes na Psicologia e Educação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes.
Vizzotto, M., Rossi, V., Dias, M., Rusticci, R., Farhat, C., & Reidhl, A. (2016). Breve reflexão sobre a importância do método científico. Rev. Psicólogo informação, 20.
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