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O luto e a ressignificação de perdas

Close-up rosto de um homem com as mãos abertas, juntas, em frente a boca e olhar triste.

Conversando sobre luto e ressignificando perdas

por Lélia Faleiros

 

Dê palavras à tristeza.
O pesar que não fala endurece o coração já sofrido.
Shakespeare

Em outubro de 2020, a Vetor Editora, lançou um instrumento, em forma de baralho, que tem sido utilizado por profissionais que trabalham com perdas e lutos.

Esse material de uso individual e grupal constitui uma ferramenta terapêutica de intervenção e facilitação de conversas que permitem ao enlutado, de forma segura e acolhedora, expressar seus sentimentos e organizar sua experiência de ausência e sofrimento.

Há uma tendência natural em vincular a palavra luto à morte de alguém, pois é por esse tipo de luto que se tem mais espaço de expressão na nossa sociedade. Contudo enlutar-se é um processo muito mais complexo que pode acontecer diante de outras perdas no decorrer da nossa existência.

As pessoas passam por perdas significativas, como separação, mudanças de país, de trabalho e, consequentemente, têm de enfrentar muitos lutos ao longo da vida. Sem dúvida, a perda física de um amor é a perda das perdas.

Como se não bastasse, vivemos um período de pandemia da Covid-19, que já avança para mais de um ano e produz um luto difícil, cruel, de muito desamparo e solidão.

As pessoas estão em isolamento, as crianças e adolescentes sem suas rotinas de escola, as famílias que perdem seus amores não podem acompanhar a internação e muito menos realizar o ritual de velório e sepultamento, pois foram, por orientação das organizações sanitárias, suprimidos e encurtados esse direito.

A pandemia será uma marca indelével para todos. Temos discussões que preveem lutos complicados que exigirão diagnósticos especializados, muito acolhimento e trabalho de escuta.

A experiência de conviver com a morte e com a ideia de finitude tem sido uma constante em nossas vidas e, infelizmente, somos muito mal preparados e pouco educados para lidar com essas perdas que, independente da nossa vontade, fazem parte da existência de qualquer ser humano.

Uma das condições indispensáveis para que o processo de luto seja elaborado e possa permitir uma reorganização na nova vida é que a pessoa possa expressar seus sentimentos, inquietações e angústias diante da perda. Toda expressão e comunicação de sentimentos, dúvidas e anseios são bem-vindos nesse período.

Como psicólogas e especialistas em luto, fomos construindo, ao longo de nossa prática em consultório e em grupos de apoio ao luto, materiais que auxiliassem a comunicação, a expressão de sentimentos, a troca de experiência e a possibilidade de intervenção do terapeuta.

O modelo dual do luto descrito por (Strobe & Schut,1999) sugere a possibilidade de alternância entre a orientação voltada para a perda, e a orientação voltada para a restauração.

Capa do Baralho Conversando Sobre o Luto e Ressignificando PerdasCom base nessa ideia, o baralho foi construído com 120 perguntas que estão divididas em cores e eixos temáticos que contemplam essas possibilidades de alternâncias e oscilações, além de facilitar a incursão do participante em conhecer seu próprio processo de luto.

O baralho, embora lúdico, não é um jogo, ou contrário, é um instrumento de diagnóstico do terapeuta e de autoconhecimento do paciente. Ele pode ser usado no contexto clínico ou mesmo em reunião grupal, sempre mediado por um profissional que tenha algum conhecimento e estudo na área de tanatologia e luto. Os eixos temáticos são:

  1. Narrativa: São perguntas que predominam o favorecimento da contação de fatos. A narrativa é importante para o enlutado processar a história e o evento da perda, seja simbólica ou concreta;
  2. Expressão: São perguntas em que predominam o incentivo à expressão de sentimentos e emoções a respeito da perda, de quem morreu, do episódio da morte e de questões correlatas;
  3. Reparação: São perguntas predominantemente voltadas para orientação de reparação, de restauração da relação que tinha com o falecido e da internalização desta;
  4. Informação: São perguntas que sinalizam o nível de informação que o enlutado tem sobre o processo de luto que está vivenciando e abrem espaço para a psicoeducação;
  5. Memorialização: São perguntas nas quais predomina o incentivo ao processo de homenagens e o resgate das memórias que o falecido deixou;
  6. Reconstrução: São perguntas predominantemente favorecedoras do processo de reconstrução da vida a partir da perda, ressignificando o futuro em ações que possam reorganizar o indivíduo;
  7. Autoanálise: São perguntas que favorecem ao enlutado perceber a si mesmo, observar suas emoções, seus medos, sua saúde, entre outras coisas. Essas perguntas funcionam como fator protetivo para problemas que ele possa antecipar e buscar ajuda.

 

A utilização desse material tem contribuído em larga escala para a condução e intervenção do profissional que coordena o grupo e/ou o indivíduo.

Por ser um recurso disparador de conversas, ele também contribui para que o enlutado se autorize e consiga compartilhar com segurança e sem nenhuma reprovação os seus sentimentos e suas emoções.

Vale a pena conhecer esse material!

 

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Assista NESTE LINK ao Webinar Conversando sobre perdas e luto, por, Lélia Faleiros.

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