por Priscila Arana de Souza, advogada e psicóloga.
Iniciei no colégio com boas notas. Após percalços duros da vida, meus pais acabaram mudando-me de colégio. Ao todo foram quatro escolas, isso foi bem difícil e acredito que de alguma maneira colaborou para minha dificuldade como aluna durante alguns anos. No meu último colégio (Mater Dei), tornei-me uma aluna com dificuldades, mas muito esforçada, o que sempre foi muito valorizado em minha família.
Ao sair da escola iniciei o curso de Direito com 19 anos de idade, e naquele momento confesso não ter certeza alguma do que gostaria de exercer como carreira, contudo, entre a gama de profissões existentes e levando em consideração a possibilidade de me tornar uma advogada de sucesso, com uma profissão socialmente valorizada e respeitada, com o incentivo do meu pai e ao mesmo tempo com a chance de exercer meu senso de justiça, enveredei-me de cabeça no direito.
Foi uma caminhada longa os cinco anos de faculdade, fiz estágio durante toda a graduação e ali tive uma ideia do que era a advocacia na prática, na vida real. Minha noção anterior sobre a profissão fora alicerçada naqueles clássicos filmes americanos nos quais os advogados eram excelentes justiceiros, cheios de argumentos e fundamentados pela Lei. Para que tenham uma ideia da minha total falta de noção, fui descobrir no 2º ano de graduação que eu precisaria prestar o temido exame da ordem dos advogados do Brasil (OAB/SP), quase morri do coração!
Bem, formei-me em 2002, prestei o exame da OAB e passei na segunda tentativa. Dali para frente eu precisava encarar a vida dentro dos escritórios. Foi muito difícil conseguir um emprego no início, busquei por um ano, cheguei a trabalhar de lojista até que tive uma ótima oportunidade de trabalho, mas com um salário irrisório. Trabalhei nesse escritório por dois anos e logo fui chamada para trabalhar num escritório de porte médio, no qual advoguei por dez anos na área de Direito Administrativo e Cível.
Foi uma ótima oportunidade de vida, mas fui percebendo aos poucos que o direito não era uma profissão a qual eu me identificava, sempre gostei de trabalhar com pessoas, sempre fui muito voltada ao lado humano e cheguei a ouvir diversas vezes de cartorários no Fórum:
“Doutora, você é a única advogada que está sorrindo na OAB, porque você exerce essa profissão?”.
Aquilo não fazia o menor sentido para mim, pois, a meu ver, uma profissão não poderia me deixar tão séria o tempo todo, aquilo não fazia parte da minha essência. Eu persisti mais alguns anos, pós-graduei-me em direito tributário na Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes (LFG), iniciei outra pós-graduação em responsabilidade civil na Fundação Getulio Vargas (FGV), mas felicidade e engajamento não faziam parte da minha vida profissional. Eu continuava pela persistência, disciplina e pela crença de que parar não era uma opção. Mas já sabia que aquilo não era o que eu queria para minha vida. Só faltava coragem para mudar.
A gota d’água e a mudança de profissão
Casei-me em 2006, engravidei em 2007 e me separei grávida de cinco meses em 2008. Foi um momento muito difícil pessoalmente e o qual me trouxe muita reflexão. Meu filho nasceu e após os quatro meses de licença-maternidade eu retornei ao escritório, contudo, eu me sentia a pior mãe de todo o universo, pois o trabalho me consumiu, não consegui pegá-lo na escolinha até os cinco anos. Aquilo me machucava, pois me via numa profissão em que eu ganhava bem, mas não tinha sentido e propósito para mim. Além de perder momentos que gostaria de estar presente com meu único filho.
Entre conversas e leituras, resolvi fazer um Coach executivo semanal e em seis meses virei minha vida, dei abertura ao meu verdadeiro propósito de vida, que era estudar sobre a mente humana, trabalhar com pessoas, auxiliar, aprender sobre comportamentos, emoções, neurociências, práticas de Mindfulness, Psicologia Positiva etc.
Escrevi uma carta ao meu chefe, agradeci imensamente a oportunidade, o carinho, os anos de trabalho conjunto, as possibilidades financeiras que o escritório me proporcionou para tomar tal decisão, comprei um lindo presente e me demiti aos 32 anos de idade, um filho de 5 anos, separada e pronta para ingressar em outra graduação e trabalhar na nova área. Após anunciar aos meus colegas de trabalho, tive desde apoio a risadas, e comentários como: “Você é louca!”.
O que me moveu?
Com 32 anos, a “certeza” de que iria viver, no mínimo, uns 90 anos me fez entender que eu tinha anos para me formar novamente. Ingressei na faculdade de psicologia em 2012 e me formei em 2017, ainda neste ano me especializei em Hipnose Ericksoniana pela ATC, em 2018 me especializei em Desenvolvimento Humano e Psicologia Positiva (uma ciência em total ascensão) no Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG) e em 2019 me especializei em Fronteiras da Neurociência no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e também me formei como Instrutora de Mindfulness (atenção plena no momento presente) pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ali comecei a me encontrar totalmente, lia tudo sobre psicologia, Mindfulness, Psicologia Positiva e neurociência, amava cada vez mais participar de discussões, palestras, congressos e embates sobre a psicologia, tinha mudado efetivamente de profissão. Iniciei meus atendimentos em clínica particular, após treinar por dois anos como voluntária na Faculdade e também em comunidades e escolas públicas.
Hoje:
- coordeno a área de psicologia de um projeto pré-olímpico de Karatê, esporte que pratiquei por 17 anos, e após me formar, fui convidada pelo meu Mestre Geraldo De Paula, então Head Coach do Projeto. Levei minhas duas sócias comigo (Adriana Brasil e Annelise Larangeira).
- Fui a coordenadora porque era pré-requisito que todos os coordenadores multidisciplinares fossem faixa preta de karatê, além de profissionais em suas respectivas áreas;
atendo na clínica e no esporte (cofundadora do Desportemind); - ministro palestras;
- Sou cofundadora da Conectar Mentes Academy (escola de negócios e desenvolvimento humano).
Amo de paixão o que faço e foi a melhor mudança que já escolhi fazer. Sou engajada no trabalho com propósito e sentido. Agradeço a Deus, ao meu filho e a minha coragem.
Gostou do artigo? Recomendo a leitura do artigo O processo de transição de carreira.
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