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O machismo como base do preconceito em suas diferentes manifestações na sociedade

A imagem mostra uma mão segurando um cubo de madeira com o símbolo masculino (escudo de marte) gravado em preto. Ao fundo, desfocado, aparece outro cubo com o símbolo feminino (espelho de vênus). A composição destaca a escolha ou a ênfase no masculino, simbolizando a prevalência de padrões machistas. O cenário é simples, com um fundo neutro e uma superfície de madeira, reforçando o foco na mensagem central sobre gênero e desigualdade.

por Jean Claudio dos Santos Parra

Este artigo consiste em um resumo de uma pesquisa em andamento que busca desvelar as raízes profundas do machismo e sua relação intrínseca com estruturas de poder, normas de gênero e construções sociais que perpetuam desigualdades e discriminações em nossa sociedade. Nossa investigação examina uma série de abordagens filosóficas, sociológicas e teóricas para compreender como o machismo serve como alicerce para manifestações variadas de preconceito.

O machismo é um problema profundo que serve de base para a manifestação de várias formas de preconceito em nossa sociedade. Nos dias atuais, questões relacionadas à identidade como o feminismo, a luta contra o racismo e o combate à LGBTfobia, ganham destaque, mas enfrentam resistência e críticas. Este estudo tem como propósito analisar de forma abrangente como o machismo está intrinsecamente ligado a estruturas de poder, normas de gênero e construções sociais que perpetuam desigualdades e discriminações.

A importância deste estudo reside na necessidade de compreendermos as raízes do preconceito em nossa sociedade, muitas vezes enraizado no machismo. As diferentes perspectivas filosóficas e sociológicas abordadas neste trabalho oferecem uma visão ampla e completa das complexas conexões entre o machismo, as estruturas de poder e as normas de gênero, contribuindo para o avanço em direção a sociedades mais justas e igualitárias.

 

A Origem da Desigualdade entre os Homens

Jean-Jacques Rousseau, em seu livro “A Origem da Desigualdade entre os Homens” apresenta conclusões e reflexões sobre a condição humana e as desigualdades sociais. Rousseau (1755/2017) argumenta que a desigualdade não é inerente à natureza humana, mas sim uma consequência da evolução da sociedade.

Ela resulta da introdução da propriedade privada, da competição e do desenvolvimento de instituições sociais complexas.

O autor lamenta a perda da liberdade e igualdade naturais do estado de natureza à medida que a sociedade se desenvolve. Rousseau (1755/2017) acredita que a civilização tornou as pessoas mais dependentes, egoístas e desiguais, afastando-as de sua verdadeira natureza, e sugere que a solução é a criação de contratos sociais baseados na vontade geral, que representam o interesse comum de toda a sociedade e preservam a liberdade e a igualdade.

Rousseau (1755/2017) critica ainda a instituição da propriedade privada como a principal causa das desigualdades. Ele argumenta que a propriedade privada deve ser regulamentada de forma a beneficiar a sociedade como um todo, em vez de acentuar as diferenças entre os ricos e os pobres. Cabe ressaltar que o machismo também se enraíza nesse contexto, à medida que as estruturas sociais historicamente atribuem papéis de gênero desiguais, com os homens frequentemente exercendo poder e controle sobre as mulheres.

 

A Evolução das Estruturas Sociais

Friedrich Engels (1884/2014), em seu livro “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado,” argumenta que a sociedade humana passou por diferentes estágios de evolução, começando com a comunidade primitiva, passando pelo sistema de escravidão, feudalismo e chegando ao capitalismo. Ele descreve como as mudanças nas relações de produção e propriedade moldaram a organização social em cada estágio.

Nesse contexto, o autor descreve a sociedade primitiva como uma comunidade baseada na propriedade coletiva dos meios de produção e na igualdade social. A família, nesse estágio, era uma unidade de produção e não estava vinculada à propriedade privada. A autoridade era difusa, e não havia classes sociais distintas.

Engels (1884/2014) argumenta ainda que a propriedade privada dos meios de produção começou a surgir com o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais. Isso levou à divisão do trabalho e à acumulação de propriedade por parte de alguns membros da sociedade, criando as bases para a desigualdade e a exploração como forma de manutenção da ordem social através da proteção dos interesses da classe dominante.

Com isso, cabe citar a lógica do patriarcado, que consiste na ideia de uma sociedade em que os homens detêm o poder, resultando na dominação masculina e opressão das mulheres. Não é mera coincidência a relação entre o machismo e a influência religiosa de cunho judaico-cristã, uma vez que o termo “patriarcado” se originou da combinação das palavras gregas “pater” (pai) e “arkhe” (comando) e que os denominados “patriarcas” eram considerados os líderes da Igreja e chefes de família que seguia os ensinamentos religiosos.

É possível inferir que é justamente neste ponto que as questões religiosas e político-econômicas se entrelaçam fornecendo os elementos necessários para o machismo ganhar a forma de um sistema operante, fundamentado e fortalecido pela instituição social de maior poder na sociedade até os dias atuais.

 

A Influência do Cristianismo

O cristianismo exerceu uma forte influência sobre o pensamento ocidental e em sociedades colonizadas por europeus, promovendo a ideia de que a submissão das mulheres com base em diferenças biológicas era justa e funcional. Além disso, a propriedade privada levou à formação da família monogâmica, na qual as mulheres passaram a ser consideradas propriedade dos homens.

Tradições morais cristãs, como a ideia de uma família heteronormativa com papéis tradicionalmente definidos para homens e mulheres, também contribuíram para a percepção de que as mulheres eram propriedade dos homens, encarregadas dos cuidados domésticos e da satisfação sexual dos homens, enquanto estes eram responsáveis pelo sustento financeiro da família. Essa visão reflete os deveres sociais arraigados na sociedade patriarcal.

Por sua vez, Rousseau (1755/2017) critica as estruturas sociais que historicamente atribuíram papéis de gênero desiguais, frequentemente dando aos homens poder e controle sobre as mulheres, o que contribuiu para a desigualdade de gênero. Dessa forma, é possível inferir que Engels e Rousseau compartilham a preocupação de que a superação da desigualdade deve incluir a erradicação do machismo e a promoção da igualdade de gênero como parte fundamental do processo de criação de sociedades mais justas e igualitárias.

  

O Poder e a Subjetividade

Percebe-se então que a desigualdade, incluindo a desigualdade de gênero, e as questões de poder parecem estar intrinsecamente ligados. Nesse sentido, cabe ressaltar alguns dos principais trabalhos de Michel Foucault, conhecido por suas contribuições críticas nos campos da filosofia, sociologia e estudos culturais. Suas obras oferecem perspectivas distintas, mas relacionadas, sobre o funcionamento do poder e da subjetividade.

O livro “Vigiar e Punir” explora a evolução dos sistemas de punição e vigilância na sociedade ocidental, desde a punição física pública até a vigilância e o controle disciplinares nas prisões e instituições modernas. Nesta obra, Foucault (1975/2014) demonstra como o poder disciplinar e a vigilância são usados para controlar e moldar o comportamento, enfatizando a importância da análise crítica das instituições de controle e punição.

Em “A Vontade de Saber”, Foucault (1976/2020) desafia a ideia de que a sociedade reprimiu a sexualidade ao longo da história. Em vez disso, ele sugere que a sexualidade se torna cada vez mais objeto de atenção, discussão e regulamentação. O autor introduz o conceito de “biopoder”, que destaca como o controle do Estado e das instituições sociais se estende à vida e aos corpos.

Dessa forma, Foucault (1976/2020) aponta que a sexualidade é vista como uma área em que o poder é exercido de maneira sutil e complexa, moldando as identidades e práticas sexuais das pessoas. Isso se aplica também ao machismo, pois as normas de gênero são socialmente construídas e reforçadas, perpetuando estereótipos e preconceitos em relação às mulheres e outras identidades de gênero.

Já em “Microfísica do Poder,” Foucault (1977/2021) explora as formas mais sutis e insidiosas de poder que permeiam a vida cotidiana e argumenta que o poder não está apenas nas instituições políticas, mas também nas estruturas sociais, culturais e cotidianas. Ele destaca como as normas sociais, as práticas disciplinares e a vigilância constante exercem controle sobre o comportamento das pessoas.

A noção de “panoptismo” é introduzida por Foucault (1977/2021), na qual a vigilância constante e invisível é usada como uma forma eficaz de controle. Além disso, essa análise de Foucault também pode ser relacionada ao machismo, uma vez que a sociedade muitas vezes vigia e julga as mulheres por sua aparência, comportamento e conformidade com as expectativas de gênero.

No segundo volume de “História da Sexualidade,” intitulado “O Uso dos Prazeres,” Foucault (1978/2020) investiga as relações entre ética, prazer e sexualidade na Grécia Antiga e destaca como a ética estava ligada ao “cuidado de si,” uma prática de autorreflexão, moderação e autenticidade, promovendo assim a autossuficiência e a autonomia dos indivíduos.

A comparação com a moralidade cristã subsequente, que se baseia na obediência a normas externas e na busca da salvação em contraposição aos desejos e prazeres, evidencia as diferentes tradições culturais e filosóficas ao longo da história em relação à conduta humana.

 

Desconstruindo a Dominação Masculina

Essas estruturas de poder podem ser usadas para controlar e moldar o comportamento de indivíduos e grupos marginalizados, perpetuando preconceitos e discriminação. Pierre Bourdieu, um renomado sociólogo francês, explorou a relação entre tais estruturas e a desigualdade de gênero em seu livro “A Dominação Masculina”.

Bourdieu (1998/2019) argumenta que a dominação masculina não é uma consequência inevitável da biologia, mas sim uma construção social. Ele explora como a sociedade atribui papéis de gênero e cria hierarquias baseadas na ideia de masculinidade como norma.

A dinâmica entre patriarcado e a dominação masculina existe há muito tempo e sugere que as atitudes dos homens em relação às mulheres e seus comportamentos são reflexos do passado e de como nossos antepassados estabeleceram um suposto padrão de gênero. Isso ocorreu porque as relações sociais entre homens e mulheres foram construídas em um contexto de disputa política, que inicialmente favoreceu os homens.

Bourdieu (1998/2019) destaca a importância da resistência e da luta contra a dominação masculina. Ele argumenta que as mudanças sociais podem ocorrer quando as pessoas desafiam as normas de gênero e trabalham para transformar as estruturas de poder.

No que tange o cuidado de si proposto por Foucault e a questão da dominação masculina de Bourdieu, tais análises podem ser relacionadas ao trabalho de Judith Butler (2003/2018) em seu livro “Problemas de Gênero”. A obra propõe uma abordagem contemporânea para a questão de gênero, destacando como o gênero é uma construção social e como suas normas são mantidas e contestadas.

Simone de Beauvoir (1949/2009), em “O Segundo Sexo,” lançou as bases para as discussões feministas e de gênero contemporâneas. Beauvoir examina como as mulheres historicamente foram definidas em relação aos homens, explorando as implicações disso para as mulheres e a sociedade, uma vez que as mulheres historicamente foram definidas em relação aos homens, ou seja, como o outro que contrapõe-se à figura central numa sociedade machista.

Em resumo, o machismo, como base do preconceito, permeia as diferentes manifestações de discriminação em nossa sociedade. As análises filosóficas, sociológicas e teóricas apresentadas neste estudo enfatizam a necessidade de desafiar e transformar as normas de gênero, as estruturas de poder e as construções sociais que perpetuam a desigualdade. Promover a igualdade de gênero e a resistência ao machismo são passos essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

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Jean Claudio dos Santos Parra

Bacharel em Psicologia pelas Faculdades Integradas de Três Lagoas (FITL/AEMS) (2019), Especialista em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) (2021), Pós-graduado em Psicologia Social pela Faculdade Futura (2023), Docente no curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Três Lagoas (FITL/AEMS) (2022-Atualmente).

Referências

Beauvoir, S. (2009). O segundo sexo (2ª ed.). Nova Fronteira.

Bourdieu, P. (2019). A dominação masculina: A condição feminina e a violência simbólica (15ª ed.). Bertrand Brasil.

Butler, J. (2018). Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade Civilização Brasileira.

Engels, F. (2014). A origem da família, da propriedade privada e do Estado. BestBolso.

Foucault, M. (2014). Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão (42ª ed.). Editora Vozes.

Foucault, M. (2020). História da Sexualidade: A Vontade do Saber (11ª ed., vol. 1). Paz & Terra.

Foucault, M. (2020). História da Sexualidade: O Uso dos Prazeres (8ª ed., vol. 2). Paz & Terra.

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