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Entre razão e emoção há saída?

por Letícia Conserva Cassarotti

Homem subindo uma escadaria em direção à rua.

Uma análise crítica ao pensamento dicotômico desse falso paradoxo

Ao longo da história encontramos diferentes entendimentos sobre a relação entre pensamento e emoção e cada uma delas diz respeito a um condicionante cultural e histórico.

Na antiguidade os filósofos acreditavam que as emoções deveriam ser evitadas pois prejudicavam a racionalidade dos processos de tomadas de decisão. Até hoje ouvimos resquícios desse pensamento, como em situações de trabalho na qual somos incentivados a “deixar de lado nossas emoções para não interferir na nossa atuação profissional” causando a falsa sensação de que as emoções “contaminariam” um julgamento imparcial.

Essa ideia permanece até hoje na cultura e no repertório das pessoas, colocando a racionalidade e as emoções em lados opostos e inconciliáveis.

Essa discussão tem raízes profundas, mas é em 1872, em um estudo de Charles Darwin que temos as primeiras bases para um entendimento diferente desse impasse. Em sua obra The Expression Of Emotion In Man And Animal (A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais) Darwin investiga as expressões faciais de homens e animais.

Ao que tudo indica, a motivação para essa investigação foi a leitura de uma obra do anatomista Charles Bell (1774-1842), na qual o autor afirma que determinados músculos do homem existiam somente para expressar emoções. Como para Darwin esta visão se opunha à hipótese de que o homem evoluiu de alguma espécie primitiva, resolveu analisá-la.

Sua investigação permite concluir que as emoções básicas tiveram um papel fundamental na sobrevivência das espécies, de modo que a alegria, por exemplo, foi fundamental na afiliação dos indivíduos e cumpriu um papel no surgimento da coletividade. Mais tarde, na escala evolutiva, outros mecanismos moldam as emoções secundárias e a constante evolução humana, sua adaptação na cultura e na sociedade formam a miríade de emoções humanas que experimentamos hoje.

Estudos recentes como os de Cheney e Seyfarth (2012) ajudam a corroborar essa tese. Os autores afirmam que a evolução da linguagem entre humanos e a existência de comunicação semântica em primatas expressam que as relações sociais aplicaram considerável pressão sobre a cognição e a inteligência, ou seja, há evidências evolutivas de que a nossa cognição foi fundada e modulada por aspectos emocionais.

Respaldando essa perspectiva, Vasconcelos et al (2009) defende que foi a socialização que possibilitou as bases do desenvolvimento do intelecto humano. Portanto, as emoções são parte da nossa evolução, nos ajudaram a moldar os complexos processos cognitivos que temos hoje e nos ajudam diariamente na tomada de decisões.

Retomando discussões já bem conhecidas na psicologia, que remontam a Freud, sabemos que não podemos simplesmente ignorar ou reprimir nossas emoções sem custo para nosso bem- estar. As teorias mais recentes em psicologia conceituam as emoções como um conjunto de manifestações neurofisiológicas desencadeadas por estímulos biopsicossociais de origem interna ou externa, que leva cada indivíduo a reagir de uma forma particular (Gondim, 2016).

Já para a cognição, a conceituação mais abrangente define como a combinação de processos neurológicos envolvidos na aquisição do conhecimento, incluindo o pensamento, a memória, a linguagem, a atenção, o raciocínio, o juízo, a imaginação, a percepção e as funções executivas (Caixeta, 2014). O desenvolvimento do sistema cognitivo depende, portanto, da interação de diversos fatores, dentre eles, fatores emocionais.

 

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Letícia Conserva Cassarotti

Psicóloga formada pela UFMS (2015), com pós-graduação em Avaliação Psicológica pelo IPOG (2018), atua na área de Avaliação Psicológica em processos de Gestão de Pessoas e Saúde do Trabalhador, bem como na capacitação em Técnicas de Exame e Avaliação Psicológica para psicólogos no estado de Santa Catarina.

Referências

Caixeta, L. (2014). Tratado de Neuropsiquiatiria: Neurologia cognitiva e do comportamento e neuropsicologia. Atheneu.
Dorothy L. Cheney e Robert M. Seyfarth (2012). The evolution of a cooperative social mind: Oxford Handbook of comparative evolutionary psychology. Oxford University Press.
Darwin C. (1872). The expression of the emotions in man and animals. John Murray. http://darwin-online.org.uk/
Gondim, S. M. G. (2016). Manual de orientação e autodesenvolvimento emocional: reconhecendo, compreendendo e lidando com as emoções no dia a dia. Vetor Editora.
Silvio José Lemos Vasconcellos; Antonio Jaeger; Maria Alice Parente; Cláudio Simon Hutz (2009). A psicologia evolucionista e os domínios da cognição social (v. 25, n. 3). Psicologia: Teoria e Pesquisa.

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