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As possibilidades da Psicologia em emergências e desastres

Uma cena dramática de um tornado massivo atravessando uma área urbana ao entardecer. O céu escuro e carregado contrasta com a luz dourada do pôr do sol, enquanto uma nuvem de poeira e detritos toma conta das ruas. Casas e carros estão visíveis, transmitindo um cenário de devastação iminente. Árvores desfolhadas e postes danificados reforçam o clima de urgência e perigo. A imagem ilustra o impacto de desastres naturais como tornados e serve como ponto de partida para explorar as possibilidades da Psicologia em emergências e desastres. Aborda como os profissionais podem intervir para apoiar indivíduos e comunidades em cenários de crise extrema, promovendo resiliência e recuperação.

por Gabriel Marcos Crociari

A psicologia em emergências e situações de desastres é um campo de atuação historicamente recente no Brasil, se considerarmos outros modelos existentes. Podemos considerar que se trata de possibilidades de intervenção ainda em construção, uma vez que outras áreas do conhecimento, como a engenharia, logística, geografia e sociologia, já trabalham há muito tempo com estudos e ações voltadas a situações de desastres (De Assis & Ferreira, 2013).

Desastres são eventos que podem ser desencadeados por inúmeros fatores, em sua grande maioria decorrentes de ações humanas, podendo ser tecnológicos, ambientais, químicos, geológicos, entre outros. Tais eventos geram perdas humanas, danos estruturais e materiais, consequências socioeconômicas e impacta toda dinâmica de vida de uma sociedade afetada, uma vez que comunidades inteiras podem ser deslocadas e serviços interrompidos.

A Gestão Integral de Riscos de Desastres envolve ações que atuarão de maneira preventiva, para evitar ou contingenciar riscos; na preparação para capacitação de agentes locais diante de riscos identificados; na resposta, em situações em que ocorra um evento desastroso; e na recuperação buscando proteger vidas e propriedades, promover resiliência das comunidades e reestabelecer a sociedade (Alves et al. 2012).

No Brasil, o cenário compete a especificidades geográficas, climáticas, sociológicas e culturais, o que cria um contexto propício para eventos mais comuns em território brasileiro como as tempestades, inundações e alagamentos, deslizamentos, estiagem, incêndios, entre outros, o que nos difere de outros países (Melo, 2012).

Em território brasileiro, lembramos o acidente com envolvendo Césio-137 ocorrido em Goiânia, em 13 de setembro de 1987, considerado o maior desastre radioativo no Brasil e também do mundo ocorrido fora de uma usina nuclear. Essa catástrofe ganhou atenção do país e do mundo por ter  colocado em risco a vida de muitas pessoas durante um longo período de tempo. Esse fato marca o início da atuação da psicologia em eventos adversos no Brasil, pois fixa o primeiro envolvimento da área com desastres (Paulino & Sant’ana, 2018).

Em situações adversas como os desastres, a psicologia oferece suporte emocional e cuidados psicológicos às vítimas. Os profissionais da psicologia podem ajudar a avaliar os efeitos psicológicos nocivos aos afetados, como estressores e trauma, ansiedade e, possivelmente, transtorno de estresse pós-traumático.

Além disso, auxiliam no manejo das questões psicológicas dos afetados, vítimas e profissionais de resposta, além de auxiliar no engajamento da comunidade na reestruturação, no desenvolvimento de estratégias adaptativas, resiliência, emponderamento de atores locais e na recuperação psicológica. Treinamentos de equipes de resgate, desenvolvimento de programas de intervenção e apoio comunitário para atenuar os efeitos adversos a longo prazo também estão entre as ações possíveis (Melo & Santos, 2011).

Os primeiros estudos na área sobre desastres e seus reais efeitos se iniciaram no ano de 1909, quando o médico psiquiatra e pesquisador Edward Stierlin desenvolveu e articulou os primeiros ensaios para uma melhor compreensão dos efeitos relacionados às emoções de pessoas envolvidas em desastres.

Por outro lado, a práxis psicológica vem a cada dia, se consolidando em nosso país, tanto como em emergências, como em enchentes em cidades brasileiras, quanto a desastres de comoção nacional, como o ocorrido na Boate Kiss no munícipio de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em que intervenções de prevenção de desastres e promoção de saúde foram bem sucedidas (Melo & Santos, 2011; Silva et al., 2013).

Os procedimentos de resposta a crise de desastres podem ser iniciados imediatamente após o ocorrido, podendo ter como foto crianças, adultos ou as famílias afetadas direta ou indiretamente ao evento, além das equipes de trabalho que também vivenciam o desastre. Uma das intervenções utilizadas nesses cenários é o que chamamos de Primeiros Socorros Psicológicos (PSP), também conhecido como Primeiros Cuidados Psicológicos (PCP) ou Primeiros Auxílios Psicológicos (PAP).

As principais fases do atendimento de Primeiros Socorros Psicológicos são: preparação, primeiros contatos, segurança e conforto, estabilização, busca de informação, assistência prática, contato com apoio social, estratégias de manejo e contato com serviços de colaboração. O National Center for PTSD, apresenta um protocolo de aplicação de PSP com a intenção de regulamentar o tratamento das vítimas com fundamento em dados sobre reações severas de estresse. É importante enfatizar que os PSP, é uma técnica de saúde mental, que pode ser aplicada por qualquer pessoa treinada (De Assis & Ferreira, 2013).

Os PSP objetivam reduzir o estresse percebido pelos afetados diante de um evento com potencial traumático, como o desastre. É importante ressaltar também que os PSP podem ser aplicados por qualquer profissional da área de saúde mental, em especial, psicólogos e psiquiatras, mas também por qualquer outra pessoa treinada. De acordo com o Projeto Sphere (2011) e o IASC (2007), os primeiros cuidados psicológicos funcionam como uma resposta humana e de total apoio às pessoas que estão em situação de sofrimento e necessidade de apoio.

Os PCP incluem os seguintes pontos:

  • Oferecer apoio e cuidado práticos não invasivos;
  • Avaliar necessidades e preocupações;
  • Ajudar as pessoas a suprir suas necessidades básicas (por exemplo, alimentação, água e informação);
  • Escutar as pessoas, sem pressioná-las a falar;
  • Confortar as pessoas e ajudá-las a se sentirem calmas;
  • Ajudar as pessoas na busca de informações, serviços e suportes sociais;
  • Proteger as pessoas de danos adicionais.

Esse modelo de cuidado pode ser destinado a pessoas abaladas e/ou que foram expostas recentemente a uma situação de crise grave, entretanto, nem todas as pessoas que vivenciam um desastre precisarão de apoio psicológico ou de PSP, uma vez que podem ter repertório adaptativo suficiente para lidar com uma situação de crise. O procedimento padrão é não forçar ajuda a quem não deseja, mas sim, que esteja completamente à disposição daqueles indivíduos que desejam seu apoio.

A atuação eficaz do profissional junto à comunidade das localidades afetadas pelos eventos trágicos acabou se apresentando um êxito nas diversas ações em que o profissional de psicologia esteve presente (Gomes & Cavalcante, 2012; Gonçalves, Guareschi & Roso, 2018; Vasconcelos & Cury, 2017; Weintraud et al., 2015).

Com esse entendimento, a presença de psicólogos em equipes direcionadas exclusivamente a atenção e aos cuidados das pessoas afetadas pelos eventos trágicos devem ser norteadas pesando na potencialização das redes afetivas e colaborativas em atuação nesses locais. Pois, mesmo com os efeitos negativos que desastres possam causar ao indivíduo, sentimentos de profunda conexão e coletividade podem se fazer presentes na comunidade que foi afetada (Pereira & Mansano, 2020).

Dentro das intervenções estudadas até hoje pela psicologia, é visível a necessidade real da construção de um espaço de disponibilidade para o protagonismo dos profissionais da psicologia através do seu saber numa proposta que se baseie pelo diálogo e empatia, entendendo a complexidade de todas as estratégias para lidar com esses acontecimentos trágicos que, em muitos casos, coloca em risco a vida dos afetados (Gonçalves et al., 2018).

Como observamos na literatura, os cuidados psicológicos devem ser dirigidos a toda comunidade afetada, portanto, a ação psicológica deverá estar alinhada à diversidade de demanda. Como aponta Maria Helena Franco:

A postura atual recomenda que a resposta ao desastre, com cuidados em situações traumáticas, se destine a sobreviventes machucados ou não machucados; parentes e amigos enlutados e traumatizados; equipe de assistência emergencial; membros da equipe de resgate e outros serviços de apoio; membros da mídia que cobriram o fato; e vítimas secundárias (Franco, 2005, p. 178).

Desse modo, a articulação eficaz da psicologia em desastres deve estar alinhada com a cultura e especificidades regionais, bem como com atores comunitários do local atingido. Nesse sentido, agentes comunitários devem ser auxiliados para que possam assumir papéis ativos dentro do processo de construção de estratégias de ressignificação dos efeitos traumáticos daquele evento.

O psicólogo deve, portando, investir na participação comunitária para reconstrução local, na garantia e preservação de direitos, na elaboração das perdas, na viabilidade dos rituais e na reorganização socioafetiva daquela coletividade (Weintraud et al. 2015).

Em conclusão, compreendemos que o trabalho da psicologia em emergências e desastres precisa ser articulada multiprofissionalmente, ter autonomia para gerir a resposta de saúde mental direcionada a toda população envolvida, bem como utilizar de métodos que estejam alinhados com as especificidades da ocorrência e com a população atingida. Vale ressaltar que, para além do assistencialismo que a psicologia pode oferecer, também pode trabalhar com as potencialidades da comunidade local favorecendo seu protagonismo.

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Referências

Alves, R. B., Lacerda, M. A. C., Legal, E. J. (2012). A atuação do psicólogo diante dos desastres naturais: uma revisão (v. 17, p. 307-315). Psicologia em estudo.https://www.scielo.br/j/pe/a/5wCT3zj4Bg9XBrmL3wfct8D/abstract/?lang=pt

De Assis, F. D. L., Ferreira, I. C. ()2013. Gerenciamento de crise: a psicologia atuando em situações de emergências e desastres.http://www.abrapede.org.br/wp-content/uploads/2013/05/TCC-Diogenes.pdf

Franco, M. H. P. (2021). A intervenção psicológica em emergências. Summus Ed..

Melo, C. A., Santos, F. A. (2011). As contribuições da psicologia nas emergências e desastres (v. 15, n. 15, p. 169-181). Psicólogo informação. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/

Melo, J. R. M. (2012). Respostas a desastres naturais. https://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Jose_Roberto_Miller_Melo.pdf

Paulino, A. F., Sant’ana, F. G. F. (). A psicologia diante de emergências e desastres. In: Franco, Maria Helena Pereira (Org.) (2015). A intervenção psicológica em emergências: Fundamentos para a prática (pp.17-60). Summus. file:///C:/Users/Rose/Downloads/5309-Texto%20do%20artigo-17628-1-10-20181030.pdf

Silva, T. L. G., Mello, P. G., Silveira, K. A. L., Wolffenbüttel, L., Lobo, B. O. M., Bicca, C. H. M., Oliveira, R. G., Kristensen, C. H. (2013). Primeiros Socorros Psicológicos: relato de intervenção em crise em Santa Maria (15(1):93-104). Rev. bras. psicoter. http://rbp.celg.org.br/detalhe_artigo.asp?id=113

Weintraub, A. C. A. M., Noal, D. S., Vicente, L. N.,  Knobloch, F. (2015). Atuação do psicólogo em situações de desastre: reflexões a partir da práxis (19, 287-298). Interface-Comunicação, Saúde, Educação.. https://doi.org/10.1590/1807-57622014.0564

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