João Pedro recebe do seu chefe a missão de executar, no prazo de um mês, um projeto inusitado de grande importância para a recuperação da empresa, que vem navegando em oceano vermelho nos últimos tempos.
João não faz a menor ideia por onde começar, mas precisa compartilhar com sua equipe as bases desse novo projeto e começar a coordenar sua execução. João sempre foi um líder inspirador, bom ouvinte e incentivador de boas práticas da liderança participativa. Porém, o último ano não foi realmente fácil.
As pressões por resultado aumentaram sobremaneira e os prazos vêm se encurtando sistematicamente. Para completar, sua equipe teve de ser reduzida em 30% no último mês.
Isso tudo tem levado João a um estado de estresse alguns níveis acima do considerado produtivo e sua capacidade de manter um relacionamento saudável com a equipe vem sendo minada.
Situações estressantes como essa são cada vez mais frequentes, não é mesmo? Pois é, em tempos de calmaria e prosperidade, líderes preparados são capazes de fazer aflorar um ambiente virtuoso, isto é, quando equipe e liderança trabalham como uma engrenagem perfeita, bem lubrificada e potência ajustada ao tamanho da demanda.
Porém, crises são recorrentes e sazonais, diante desta constatação, é fundamental então que tenhamos consciência disso com o intuito de estar fortalecido para enfrentar a tempestade quando ela chegar.
No quadro pintado acima, temos dois grandes vetores apontando para o caos: a ameaça de fracasso, alimentada pela falta de experiência no projeto proposto; e a sensação da possibilidade de perda de uma oportunidade única para conseguir visibilidade na organização e viabilizar voos mais altos.
Líderes despreparados enveredam pela rota clássica da truculência e do sacrifício. Partem para a centralização das ações e acionam o modo comando e controle. O resultado, invariavelmente, é um desastre e a destruição do moral da equipe, danos difíceis de serem reparados posteriormente.
A rota clássica dos estímulos que experimentamos nas decisões que tomamos e nas ações que praticamos passa por três pontos: pensamentos (julgamentos), emoções e sensações.
Quando inseridos em um cenário de alto conteúdo estressante, fazemos então essa usina geradora de grande energia funcionar a todo vapor.
Diante de tamanha ameaça, instintivamente, recorremos aos nossos recursos mais primitivos que remontam às nossas origens mais remotas. Ao projetar o resultado mais desastroso, tarefa fácil para o humano, acionamos involuntariamente nosso sistema de alarme e defesa, ficando prontos para pancadas e mordidas.
Coração bombeia mais forte, respiração encurta, músculos enrijecem, digestão paralisa e a visão fecha. Começamos nesse momento a viver emocionalmente o estado da perda que sequer ocorreu. Sentimos a dor física, tristeza, raiva, frustração, em um círculo vicioso que se perpetua pela aversão àquilo que estamos passando.
Você então pode imaginar o quão tóxico o líder pode se tornar quando é sequestrado por esses estímulos.
No entanto, vale ressaltar que todo o processo de acolhimento dos estímulos externos acontece nos domínios do corpo humano, portanto, em região passível de reconhecimento e controle. Não me refiro aqui ao controle do ambiente externo, mas, sim, administrar a forma como respondemos a ele.
Lembrando sempre que quanto maior o desafio maior a necessidade de um preparo. Veja por exemplo os esportistas, o preparo físico que um jogador de futebol precisa para ter sua performance equilibrada durante os noventa minutos de uma partida. Ou, um piloto de Fórmula 1 sentado em um cockpit por um longo período a uma altíssima temperatura, sujeito a força centrífuga de cada curva.
No exercício da liderança, não é muito diferente, mas o primeiro passo para o aumento significativo das chances de sucesso é a consciência do processo, o reconhecimento de pensamentos e sensações e a capacidade de gerir as ações empregadas. A tarefa não é fácil, mas possível.
Como se preparar então para uma vida profissional e pessoal com respostas mais habilidosas aos estímulos positivos e negativos? A resposta vem se configurando de forma robusta com evidências empíricas crescentes dentro dos centros acadêmicos mais renomados no mundo: meditação Mindfulness ou Atenção Plena.
Programa Mindfulness-Based Stress Reduction Clinic
Jon-Kabat Zinn, fundador do programa Mindfulness-Based Stress Reduction Clinic na universidade de Massachusetts e um dos maiores responsáveis pela ocidentalização da prática meditativa distante do viés religioso, define Mindfulness como um “estado de presença integral no momento presente, de maneira intencional e sem julgamentos”.
A lógica repousa na capacidade de se doar totalmente a tudo que acontece no instante vivido, sendo capaz de observar cuidadosamente a realidade como se apresenta e não como a projetamos, isto é, livre de nossos vieses interpretativos contaminados por desejos e aversões.
Voltemos então ao João Pedro. Na situação em que se encontra, seus pensamentos podem estar voltados para o medo do fracasso, possivelmente reforçado por alguma experiência malsucedida do passado, tal como: “isso está indo para o mesmo caminho como daquela outra vez em que me dei mal”; ou/e sentimento de um futuro frustrado com a perda da oportunidade de confirmar sua competência para cargos mais elevados.
Esse também se amplifica pela ameaça, criada por seu EGO, do não atendimento das expectativas, imaginárias, da família com relação ao seu sucesso na carreira.
Como podemos constatar, o assédio é grande no nível mental. Seguindo a rota do desequilíbrio humano, todo esse conjunto de pensamentos conecta com emoções, estas, por sua vez, desembocam em sensações corporais.
João possivelmente está contaminado pelo medo, pelo sentimento de perda, está vivendo emocional e sensitivamente o fracasso que nem sequer está perto de ocorrer. Muito provavelmente começará a distribuir todo esse mal-estar para sua equipe, e pior, sem ter a mínima ideia de que isso está acontecendo.
A prática regular da meditação Mindfulness (Atenção Plena) não só para liderança, mas para equipes é um recurso poderosíssimo no fortalecimento da condição humana mais virtuosa de centramento naquilo que é preciso ser feito momento a momento.
Nessa condição, líderes e equipes são capazes de esvaziar suas mochilas pesadas, deixando então aflorar o que há de melhor em cada elemento, na forma individual de cada um, no entanto zelando pela complementariedade e consciência do todo.
O MBSR (Mindfulness Based Stress Reduction) para empresas é um protocolo com vasta comprovação de sucesso e aplicação mundo afora. São oito semanas de treinamento com objetivo de capacitar profissionais de qualquer nível ou área de especialidade em uma prática regular de Atenção Plena.
As práticas podem ser formais – quando dedicamos um tempo específico para uma atividade preestabelecida; ou informais – quando executamos atividades corriqueiras, como escovar os dentes, caminhar com a consciência plena no momento presente.
O protocolo segue um roteiro de ampliação da compreensão dos processos mentais com atividades de passagem de conteúdo no formato apresentação, atividades experienciais em que praticamos de maneira construtiva as várias formas de meditação, e participativa, com partilhas individuais dirigidas ao grupo, o que possibilita o aprendizado coletivo e a integração humanizada da equipe.
Ainda que distante de ser uma lista exaustiva, os benefícios do programa de oito semanas baseado em Mindfulness (MBSR) para as empresas são, a saber:
- Redução do estresse entre os participantes
- Aumento do nível de inteligência emocional
- Aumento da sensibilidade interpessoal
- Níveis maiores de resiliência pessoal
- Redução na taxa de absenteísmo
- Elevação do autoconhecimento e integração com outros
- Aumento da habilidade de comunicação
- Aumento da concentração e da atenção
- Redução da impulsividade
- Maior capacidade de reter e trabalhar informações
- Melhoria no padrão de sono
- Diminuição da exaustão psicológica (depressão e ansiedade)
- Melhoria no bem-estar geral e na satisfação pessoal e profissional
(Livro: The Mindful Workplace, Michael Chaskalson)
Vale reforçar que o Mindfulness não é uma fórmula mágica ou um antídoto de dose única. O programa de oito semanas é uma iniciação ao que pretende transformar-se em práticas regulares e diárias, assim como comer, tomar banho, exercitar o corpo, etc.
Também não tem contraindicações ou indicação de faixa etária. Pode ser aplicado dos 8 aos 180 anos.
Muitas empresas se beneficiam da prática regular do Mindfulness, sendo o Google uma das pioneiras e mais adaptada com seu programa mundialmente conhecido chamado “Search Inside Yourself”. Vale muito a pena pesquisar a respeito.
Então, que tal dar uma chance a essa janela de possibilidades chamada Mindfulness (Atenção Plena)?
Se precisar de ajuda, entre em contato com a Vetor Serviços e consulte nossos Programas de Treinamentos.
Laudio Nogues
Especialista em General Managment, Global Leadership, instrutor de Mindfulness pelo Centro de Mindfulness, sócio e fundador da Linha da Vida Consultoria de Carreira e Negócios.
Referências Literárias:
- Viver a Catástrofe Total (Full Catastrphe Living 2013), John Kabat-Zinn (Palas Athenas)
- The Mindful Workplace (2011), Michael Chaskalson (Wiley-Blackwell)
- Atenção Plena (Mindfulness 2011), Mark Williams e Dr. Danny Penman (Sextante)
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