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Sinais de uma criança com transtorno opositivo desafiador

por Wendell Noronha Amorim

Garoto com expressão brava com o dedo indicador direito sobre a boca, sugerindo silêncio.

Quando Johnny, 10 anos de idade, foi pela primeira vez ao consultório de Psicologia, seu pai havia informado que estava com dificuldades para lidar com o comportamento do filho. Na primeira sessão, antes mesmo de iniciar o atendimento, Johnny teve algumas atitudes socialmente inadequadas.

Deixou as torneiras abertas e esparramou todos os papéis-toalha no banheiro. Mexeu em vários objetos na recepção e não se importou quando a secretária lhe solicitou que aguardasse sua vez sentado. Quando entrou no consultório, Johnny parecia não dar importância alguma para o que o psicólogo lhe perguntava.

Durante a sessão inicial, o pai mostrou alguns vídeos nos quais a criança tinha ataques de raiva, jogava materiais escolares no lixo e irritava seus colegas e professores.

Crianças e adolescentes com comportamento similar ao de Johnny são algo mais comum do que se parece. Chamamos de transtornos disruptivo do controle de impulsos e da conduta os distúrbios que envolvem essa maneira descontrolada de agir. Nesse grupo, no caso de Johnny, trata-se de transtorno de oposição desafiante (TOD).

O TOD é considerado uma alteração muito frequente em crianças e adolescentes, em torno de 2 a 6%. São aquelas crianças/adolescentes com um padrão de humor raivoso e irritável, que constantemente perdem a calma, pois se irritam facilmente.

Além disso, apresentam comportamento questionador, provocador, desobediente e desafiante, ou seja, desafiam figuras de autoridade, como os pais, os professores ou outros. Também se recusam a obedecer às regras ou às solicitações dessas figuras de autoridades.

Por exemplo, a criança opõe-se aos comandos dos pais, faz o contrário do que é solicitado, quer mandar nos colegas, recusa-se a realizar as atividades escolares.

Outro aspecto importante é o fato de crianças com TOD geralmente não se considerarem responsáveis por seus atos inadequados e costumarem culpar as pessoas próximas ou as circunstâncias.

Para os pais, as dificuldades em manejar as atitudes do filho e os problemas ocasionados pelo comportamento da criança podem chegar ao ponto de evitarem sair com os filhos além do estritamente necessário, por exemplo, evitar passear com a criança.

 

E qual a causa desse transtorno?

Fatores individuais, familiares, sociais, culturais e genéticos podem aumentar o risco de uma criança desenvolver o transtorno. Atualmente, os pesquisadores preferem utilizar os termos “fatores de risco” e “fatores de proteção”, evitando apontar causas específicas.

Alguns dos fatores de risco são: instabilidade familiar, rejeição social, pobreza, maus-tratos, exposição a agentes tóxicos durante a gravidez, alterações em neurotransmissores (serotonina, norepinefrina e dopamina), alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (envolvido na secreção do cortisol) e alterações em circuitos cerebrais pré-frontais envolvidos no controle do comportamento.

Em contrapartida, os fatores de proteção referem-se às condições favoráveis que contribuem para proporcionar desfechos positivos para a criança/adolescente.

Entre tais fatores, destacam-se: ambiente familiar acolhedor, envolvimento em atividades pró-sociais, envolvimento em atividades extracurriculares, envolvimento com pares que se comportam de maneira convencional, isto é, colegas que desaprovam a violência. Tais fatores podem reduzir os riscos de comportamento antissocial.

 

Há tratamento?

O primeiro passo é diagnosticar, ou seja, identificar que aquela criança apresenta o padrão de comportamento e atitudes que são característicos do transtorno. Em muitos casos, não é fácil avaliar o TOD no consultório clínico, especialmente por se tratar de um ambiente estruturado e com tempo limitado. Por isso, é importante coletar informações sobre o meio familiar e escolar da criança.

Após o diagnóstico, estabelece-se um plano de intervenção, o qual deve envolver cuidadores, criança e profissionais especializados (médico, psicólogo, neuropsicólogo, pedagogo). Assim, o tratamento pode envolver uso de medicamentos (p. ex., risperidona e aripiprazol), psicoterapia, psicoeducação familiar, apoio escolar, entre outros, dependendo das dificuldades e do comportamento apresentado pela criança.

Vale ressaltar a importância da intervenção, pois o TOD pode evoluir para outras formas mais graves. Além disso, é comum (na clínica) encontrar pais com receio do tratamento medicamentoso, porém, dependendo da gravidade dos sintomas, a medicação pode ajudar na diminuição dos sintomas de falta de controle dos impulsos e da agressividade.

O treinamento de pais também é fundamental para o manejo dos sintomas do TOD, além de ser extremamente importante para o sucesso do tratamento.

 

Wendell Noronha Amorim

É professor e psicólogo clínico, especialista em avaliação e reabilitação neuropsicológica.

Referências

American Psychiatric Association [APA]. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-V (5th. ed.). Washington, DC: American Psychiatric Association.
Dumas, J. (2011). Psicopatologia da infância e da adolescência. Porto Alegre, RS: Artmed.
Ghosh, A., Ray, A., & Basu, A. (2017). Oppositional defiant disorder: current insight. Psychology Research and behavior Management, 10, 353-367. doi 10.2147/PRBM.S120582

 

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