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Psicologia: por que me tomas?

por, Simone Pierri, Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Atriz. Graduanda de Psicologia pela Universidade Nove de Julho (Uninove).

Mulher segurando uma placa com um ponto de interrogação a frente do rosto.

Ainda que estejamos diante de uma Ciência consideravelmente jovem e ao mesmo tempo complexa no que tange à teoria e à prática, aquele que por ela foi seduzido carrega dentro de si uma espécie de “impulso vital”, como se tivéssemos sido tocados por Eros, cuja ação fosse determinante para que o envolvimento se apresentasse a todos de forma fatal.

Prazer e vida estão em seu cerne e disso independe o que foi ao certo aquilo que nos tenha levado a essa paixão (Pathos). Todavia, cabe aqui, ainda assim, estabelecerem-se, por ora, algumas possíveis hipóteses por se escolher percorrer seus meandros. Os motivos são muitos, vários. Quiçá um gosto especial por pessoas e suas máscaras diárias; pelo previsível e pelo inusitado das ações humanas… Também, como diria Contardo Calligaris (2007), “um gosto pronunciado pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por diferentes que sejam de vocês”.

Ao rememorarem-se quaisquer comentários primórdios de semestres iniciais de um curso de Psicologia, pode-se ter, por vezes, dos alunos uma escolha que recai sobre eles próprios, haja vista apresentarem-se como pessoas que já tiveram algum tipo de sofrimento emocional, e o curso, de alguma forma, poderia responder-lhes muitos de seus questionamentos pessoais.

Além disso, observa-se a busca para ajudar algum familiar e uma compreensão mais significativa e científica do que é o ser humano e do que é a mente, bem como das respostas aos mistérios nela envolvidos.

Cabe aqui salientar que o fato de enxergar-se no curso um possível banco de respostas para suas próprias questões merece atenção redobrada, já que uma atuação mais adequada do psicólogo requer um profissional que, durante sua formação, tenha avançado no conhecimento de si e de suas próprias e dilemáticas questões.

Dessa forma, a terapia, para o estudante em formação, tornar-se-ia bastante desejável. Para Calligaris (2007), “uma psicoterapia é uma experiência que transforma; pode-se sair dela sem o sofrimento do qual a gente se queixava inicialmente, mas ao custo de uma mudança. Na saída, não somos os mesmos sem dor; somos outros, diferentes”.
Afinal, por quem me tomas?

Aquele que se permite adentrar e percorrer os labirintos da Psicologia é quem carrega em si a marca da inquietude, da certeza do movimento próprio da mudança, que dedica sua escuta ao outro (e este, um ser em aprendizagem no construir de seu próprio protagonismo no mundo, seja diante do belo, seja diante do estranho, seja diante do adverso).

Vivemos tempos difíceis. O sofrimento emocional cresce a cada dia, gritos silenciosos em busca de apoio, auxílio e orientação para os mais diferentes medos, angústias e dilemas são em larga escala reflexos de uma sociedade infelizmente adoecida pela intolerância, indiferença e individualismo, tornando imprescindível a existência do profissional da psicologia.

Para tanto, é mister ampliarmos a pesquisa, ou seja, fazermos Ciência, pois, dessa forma, podem-se alcançar efetivas contribuições ao coletivo, visto que se busca com estudo e pesquisa constantes uma compreensão mais plena do homem e de tudo aquilo que permeia sua subjetividade. Segundo Cruces (2008), o psicólogo deve ser tanto um pesquisador quanto um profissional, pois deve, sem dúvida, desenvolver-se a si, assim como trabalhar para o desenvolvimento da Ciência que ele promove.

Muitos podem caminhar pela vida, sorvê-la de maneira intensa, sentir a alegria ou sua dor, e outros, simplesmente, se arrastarem ou fecharem os olhos para ela e para seus mistérios. Dificilmente os últimos não escolheriam a Psicologia… Os primeiros possuem dentro de si a fagulha, se assim podemos dizer, da curiosidade pelo outro.

A curiosidade que sempre moveu e move o homem. Daquele que busca entender o outro dentro de sua diversidade, de suas lacunas, dentro de suas angústias, para mais tarde auxiliá-lo, por meio de determinada abordagem científica, a conseguir um bem-estar num mundo em que, segundo Heráclito de Éfeso, “a única constante é a mudança”. Um mundo, pasmem, que se assemelha àquele de tempos idos e outros, mas tão nossos e próximos, um mundo camoniano em que:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

 

Referências

CALLIGARIS, C. (2007). Cartas a um jovem terapeuta. São Paulo, SP: Elsevier; Rio de Janeiro, RJ: Alta Books.

CAMÕES, L. V. (2016). Sonetos. Cotia, SP: Ateliê Editorial.

CRUCES, A. V. V. (2008). A pesquisa na formação de psicólogos brasileiros e suas políticas públicas. Boletim da Academia Paulista de Psicologia, 28(2).

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