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A importância da investigação do neurodesenvolvimento na avaliação neuropsicológica infantil

Mulher na terceira idade sentada em frente a uma mesa enquanto observa sorridente um garoto que também está sentado em frente à mesa montando palavras com pequenos blocos de madeira.

por Ana Gabriele Gomes Warkentin e Renata Cristina Alves da Rocha

Aos curiosos sobre avaliação neuropsicológica,

Gostaríamos de discorrer sobre a importância de se investigar minuciosamente o neurodesenvolvimento da criança na avaliação neuropsicológica.

Antes de falarmos de neurodesenvolvimento, é importante explicar o que é uma Avaliação Neuropsicológica. A avaliação neuropsicológica consiste em avaliar objetivamente o desempenho cognitivo, linguístico, perceptivo e psicomotor de uma pessoa com o objetivo de relacionar esse desempenho com as condições funcionais e estruturais do cérebro (Benton, 2000).

Visa, portanto, a um mapeamento cognitivo com uma compreensão profunda do funcionamento único de cada indivíduo, pois, apesar de existirem marcadores biológicos comuns a todos, a forma pela qual foi adquirido, o ambiente e como foi estimulado alteram completamente o olhar sobre o caso, sendo, portanto, de extrema importância a investigação minuciosa do neurodesenvolvimento.

O neuropsicólogo tem por objetivo principal correlacionar as alterações observadas no comportamento do paciente com as possíveis áreas cerebrais envolvidas, realizando fundamentalmente um trabalho de investigação clínica que utiliza testes e exercícios neuropsicológicos (Mader-Joaquim, 2018). E, sobretudo, dar um significado para todo o resultado encontrado, compreendendo a forma de funcionamento de cada sujeito.

O conceito de desenvolvimento e neurodesenvolvimento é o de mudança dinâmica ao longo do tempo em resposta à experiência, mas não apenas de mudanças, mas de continuidade/estabilidade.

O cérebro humano sofre alterações significativas em sua arquitetura estrutural e em sua organização funcional ao longo de toda a vida. Sabe-se que a maturação do cérebro e o desenvolvimento cognitivo ocorrem simultaneamente durante a infância e a adolescência.

Sabe-se que entre a concepção e os 3 anos de idade, o desenvolvimento neuronal é mais intenso do que em qualquer outro momento na vida.

No entanto, nos três primeiros anos de vida, a criança passa por marcos do desenvolvimento importantes em termos motores, de refinamento sensorial e de aquisição da linguagem (Carin et al., 2018).

A compreensão de todo o percurso do desenvolvimento motor também auxilia o raciocínio neuropsicológico, pois se considera que a organização motora do cérebro se dá também pelo desempenho da lateralidade da criança.

A lateralidade, por exemplo, é uma manifestação cerebral da área motora, que expressa a organização funcional do cérebro, e sua definição está relacionada com a aprendizagem, com o desenvolvimento psicomotor, como a orientação e percepção espacial, orientação de letras e números e a representação gráfica da leitura.

Dessa forma, à medida que a criança explora seu ambiente e começa a ter perspectivas diferentes dos objetos, ela muitas vezes usa seu próprio corpo como referência, e assim vai definindo sua lateralidade.

Quando se há maior exposição a ambientes diferentes, a espaços amplos para brincadeiras, exploração da geometria das coisas, considera-se que houve maior estímulo cognitivo. Na avaliação, esses fatores podem auxiliar na investigação de diagnóstico diferencial (se houve ou não estímulo e como foi a definição da lateralidade), bem como poderá fazer parte das orientações e encaminhamentos necessários ao final do processo avaliativo (Riech, 2017; Santos & Rodrigues, 2020).

Portanto, salientamos que, na avaliação neuropsicológica, a anamnese deve englobar questões do neurodesenvolvimento desde o período gestacional, compreendendo marcadores biológicos e demais influências durante o desenvolvimento motor, aquisição da linguagem, desempenho escolar, estimulação sensório-motora, que podem representar fatores de risco e fatores de proteção importantes para a compreensão do caso.

Agradecemos a atenção e o interesse de cada um de vocês, e estamos à disposição para continuarmos esse diálogo.

Referências

Benton, A. (2000). Basic approaches to neuropsychological assessment. In A. Benton, Exploring the history of neuropsychology: Selected papers (pp. 3-40). Oxford University Press.

Carin, D., Salum, I., Dias, G., Badin, K., & Barbirato, F. (2018). Avaliação neuropsicólogica e desenvolvimento cognitivo na pré-escola. In L. Malloy Diniz, D. Fuentes, P. Mattos, & N. Abreu, Avaliação neuropsicológica (pp. 191-205). Artmed.

Mader-Joaquim, M. J. (2018). O neuropsicólogo e seu paciente: a construção de uma prática. In L. Malloy Diniz, D. Fuentes, P. Mattos, & N. Abreu, Avaliação neuropsicológica (pp. 10-16). Artmed.

Riech, T. (2017). Práticas em neurodesenvolvimento infantil: fundamentos e evidências científicas. Editora Ithala.

Santos, M., & Rodrigues, M. (2020). O desenvolvimento da lateralização e da lateralidade em crianças com 5 e 6 anos de idade. In H. G. Pinto, M. I. P. S. Dias, M. O. J. A. Abreu, D. C. D. Alves, & R. Gillain (Orgs.), Investigação, práticas e contextos em educação. E-book, p. 91. https://iconline.ipleiria.pt/bitstream/10400.8/6764/2/IPCE2020_DOI.pdf#page=91

Autoras

Ana Gabriele Gomes Warkentin

Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especializanda em Neuropsicologia na FAE Business School. Atualmente, trabalha no campo da Assistência Social com adolescentes em vulnerabilidade.

 

Renata Cristina Alves da Rocha

Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Neuropsicóloga em formação e Mestre em Bioética. Atua profissionalmente como psicóloga em um colégio particular, atendendo desde a Educação Infantil até os estudantes do Ensino Médio.

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