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O que é: Transtorno do Estresse Pós-Traumático

Por Victor Polignano Godoy

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Quinta Edição (APA, 2014) direciona os critérios diagnósticos para o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).

O primeiro aspecto a ser considerado para se avaliar a possibilidade de um quadro de TEPT é a vivência de uma experiência de ameaça de morte, lesão importante ou violência sexual ocorrida com a própria pessoa ou testemunhada diretamente ou quando se fica sabendo que um episódio desta natureza ocorreu com algum parente ou amigo próximo.

É possível também que os sintomas ocorram naqueles profissionais que são expostos repetidamente ou de forma extrema a algum evento traumático (exemplos:

profissionais da saúde, bombeiros, jornalistas, policiais). Exposição por mídias sociais e jornais não deve ser considerada, a não ser que isso faça parte do trabalho do sujeito.

Assim, aquelas pessoas que atuam na linha de frente em situações de emergência de diferentes naturezas como o rompimento da barragem de Brumadinho e no atendimento a pacientes com infecção causada pelo vírus Sars-CoV-2 possuem maior risco de apresentarem sintomas de TEPT. Todavia, aqueles que apenas assistem notícias e recebem informações, segundo o atual entendimento de especialistas do DSM-V, não podem desenvolver sintomas de TEPT.

Além da experimentação do evento de características traumáticas, a pessoa deve apresentar ao menos um dos sintomas a seguir: memórias intrusivas, sonhos relacionados com o conteúdo da ocorrência, dissociações e sofrimento psicológico e reações físicas frente a sinalizações internas ou externas que eliciem a associação com o evento traumático.

É importante que as lembranças e os sonhos sejam vivenciados como involuntários, recorrentes e angustiantes.

Além desses grandes eixos genéricos de sintomas, alterações diversas no humor e na cognição devem ser investigados, como, por exemplo: amnésia seletiva ou total da ocorrência originária do trauma; crenças negativas de si mesmo, dos outros e do mundo; crenças distorcidas no tocante a origem ou consequências do TEPT; humor alterado de valência negativa (raiva, medo, culpa, vergonha, etc) com menos prevalência de emoções positivas; menor engajamento em atividades anteriormente valorizadas e sentimentos de distanciamento e alienação.

Já as alterações físicas podem estar presentes como: irritabilidade associada ou não com comportamento agressivo; imprudência ou comportamentos autodestrutivos; hipervigilância; respostas acentuadas de sobressalto; dificuldades de concentração e mudanças no padrão de sono. Essas mudanças cognitivas, emocionais e comportamentais estão ligadas à evitação ampla de quaisquer estímulos relacionados com o episódio. Esses sintomas devem estar presentes pelo período de pelo menos um mês desde a ocorrência do evento e não podem ser melhor explicados por abuso de substâncias ou outra condição médica geral. Se deve especificar a existência de sintomas dissociativos, notadamente despersonalização e desrealização.

Sabe-se que fatores temperamentais, genéticos e ambientais prévios interagem com variáveis peritraumáticas como a magnitude do evento para determinar o surgimento e a gravidade dos sintomas. Comorbidades são frequentes e acabam atuando na complexificação do quadro. Ideação e tentativa de suicídios são prevalentes e devem ser levados em conta na investigação diagnóstica e no planejamento terapêutico.

Vale mencionar os principais eventos traumáticos relacionados com TEPT: guerras (civis ou não), conflitos étnicos, catástrofes naturais com ou sem participação humana, estupro, violência doméstica, furto, sequestro, assassinato, acidentes com meios de transporte ou ataques terroristas.

Existe forte influência cultural na prevalência do TEPT. Nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência em 12 meses é de 3,5% enquanto na América Latina, Europa e Ásia a taxa é estimada entre 0,5% e 1% (APA, 2014). Essa diferença pode ser explicada por conta da maior participação do país em vários conflitos, além de ser alvo de terrorismo e apresentar alto nível de violência se comparado com outros países ricos. Todavia, quando eventos extremos acontecem, há uma tendência de alta na prevalência.

Alguns pesquisadores como Duthei, Mondillon & Navel (2020) chamam a atenção para a possibilidade de aumentos de casos de TEPT como uma consequência secundária da Pandemia gerada pelo Sars-CoV-2 que envolve risco para si mesmo, perda objetiva de vidas de amigos ou parentes, além da quarentena. Boyraz & Legros (2020) fizeram uma revisão sobre fatores de risco associados com o desenvolvimento de TEPT durante uma pandemia que foram: nível de exposição (estar ou não em uma região muito afetada pelo vírus), perda de uma pessoa querida, ter sido hospitalizado, ter passado pela quarentena, ser mulher, ser mais velho (especialmente na terceira idade), ter algum tipo de deficiência e viver em locais onde vulnerabilidades e disparidades sociais são intensas.

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Referências

American Psychiatric Associantion. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora.

Boyraz, G., & Legros, D. N. (2020). Coronavirus Disease (COVID-19) and Traumatic Stress: Probable Risk Factors and Correlates of Posttraumatic Stress Disorder. Journal of Loss and Trauma, 1-20.

Dutheil, F., Mondillon, L., & Navel, V. (2020). PTSD as the second tsunami of the SARS-Cov2 pandemic. Psychological Medicine, 1-6.

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