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O processo de transição de carreira

Mulher olhando para a esquerda e com a mão esquerda atrás da orelha para tentar ouvir algo com maior precisão.

por Luciana Lubiana Kleinubing, Psicóloga. Terapeuta EMDR. Terapeuta Brainspotting.

 

Sobre o processo de transição de carreira: ouvindo um chamado interno

Imagine o seguinte: você tem cerca de 25 anos, e de repente, sentada na sua cadeira giratória que fica no seu cubículo, com um computador a sua frente, pilhas de papéis e prazos saltando à vista, uma plantinha dessas que crescem na água e que precisa de pouquíssimo cuidado (no máximo que, após um longo período, você troque sua água, o que pode perfeitamente fazer numa das milhares de idas ao cantinho do café situado em um dos longos corredores), num escritório do centro da cidade, sente um arrepio na espinha e um incômodo no estômago – não é de fome, você comeu bem, já que seu vale-refeição acabou de ser recarregado – e então, eis que uma curiosa pergunta surge de forma inédita a sua mente: “O que estou fazendo da minha vida?”.

Você ainda não sabe, mas essa é apenas a primeira de muitas indagações do tipo, que a intrigam cada vez mais e que, num dado momento, se transformará numa extensa lista de carreiras às quais simplesmente lhe pareceram invisíveis ao longo dos mais de dez anos em que esteve pulando de empresa em empresa, atrás das “grandes oportunidades” que surgiam. Algumas dessas carreiras chegam a parecer infinitamente mais compatíveis com seu perfil do que sua atual função de coordenadora de marketing.

Além de perceber a existência de tantas outras funções de trabalho, você também se percebe de repente como uma observadora da vida alheia, como se estivesse do alto de um mirante olhando todas aquelas pessoas de bem, trabalhadores e pais de família, circulando por entre calçadas a passos largos, atravessando grandes avenidas, desviando dos carros, numa correria automática.

Encontrando outros colegas de cubículos no restaurante de sempre, onde, todas as sextas-feiras, podem desfrutar de um delicioso buffet de feijoada e, talvez, estender um pouco mais o horário do almoço, já que o final de semana está por vir e com ele todos os sonhos podem sair provisoriamente de suas gavetas e circular por entre as vidas agitadas, cheias de riso, regadas a drinks ou a brincadeiras com os filhos e passeios no parque da cidade.

Pelo menos até que chegue a temida noite de domingo, que anuncia que uma longa e pesada semana de trabalho está por começar, infelizmente, novamente.

Esta narrativa que você acaba de ler por acaso diz respeito à minha própria vida há alguns bons anos. Quando eu ainda atuava em minha antiga profissão na área de comunicação social, mais especificamente com marketing corporativo em grandes empresas. Mas, poderia perfeitamente ser a história de centenas de outras pessoas quaisquer, as quais conhecemos de perto, são nossos amigos, parentes ou nós mesmos.

Convido-o a entender essa reflexão sob a perspectiva do seu chamado interno. Não cabe aqui julgamentos de nenhuma espécie, sobre decisões de carreira, mas, sim, pensar se estamos sendo honestos com quem somos. Sou grata a cada noite mal dormida para entrega de prazos insanos, a cada chefe que foi mais rude – e que por muitas vezes, inclusive, me fez chorar no banheiro do escritório – a cada colega de trabalho com quem compartilhei tantas conquistas e também fracassos, e alguns poucos se tornaram amigos de uma vida, grata a cada honorário que recebi e que foi tão importante para que o curso da minha jornada continuasse seguindo em frente. Tudo isso foi aprendizado, está gravado em mim, porém, agora ressignificado.

A intenção aqui é simples, lançar uma questão quase que filosófica: Por que temos tanta dificuldade em ouvir nossa “voz interna”? (Você pode chamar de instinto, intuição, não importa a nomenclatura. É aquela sensação, quase que inominável, que a gente tem tantas vezes na vida, que nos diz que algo não está fazendo sentido, que estamos no lugar errado, ou, ainda, que não estamos dando o devido valor e atenção às nossas potencialidades.)

Somente quando sabemos quem somos é que conseguimos olhar ao nosso redor e perceber se estamos no lugar certo ou se precisamos alterar o curso da nossa jornada.

Quando alguém se vê nesse tipo de situação como a que acabo de detalhar, isso é um alerta de que algo precisa do movimento da mudança, de que alguma peça dessa engrenagem não está funcionando como deveria.

Ouvir esse chamado é o primeiro passo. E todos esses questionamentos, listas, reflexões podem ser encarados como um pontapé para o encontro com seu potencial. Porque, sem perceber, podemos passar anos de nossa vida, ainda que sendo bem-sucedidos, colocando uma quantidade enorme de energia no lugar inapropriado, e quando percebemos que essa mesma energia poderia ser muito mais bem aproveitada em situações que fazem mais sentido para nós, isso é incrível! Acredite, pois é somente olhando para dentro que conseguimos entender o que há fora de nós.

Questionar-nos, incomodar-nos e fazer algo a respeito é um movimento de saúde, algo que nos impulsiona ao novo, a descobrir novas possibilidades em nós mesmos.

Nossa carreira/profissão é apenas uma das muitas vestimentas que utilizamos em nossa vida (podemos chamar também de funções exercidas); como a maternidade, o matrimônio, quando somos filhos, netos, em cada uma dessas nomenclaturas desempenhamos uma função. E cada qual tem o seu valor e seu peso.

Esse meu pontapé foi sucedido por um período emblemático de descobertas internas, de tratamento de uma síndrome do pânico e, finalmente, do encontro com minha profissão atual como psicóloga. Chamo de profissão, mas foi algo que se mostrou muito maior, além de uma nomenclatura, pois foi um chamado à (minha) vida, algo que me encheu de propósito.

Isso significa que tudo são flores? Não! Significa que não enxergo mais os dias da semana (segunda a sexta – especialmente segunda) como sentenças de desânimo e horas de insatisfação, nem os finais de semana como passes livres para aproveitar toda a diversão possível antes de começar tudo novamente.

Em outras palavras, significa mais leveza. Hoje atendo pacientes aos sábados, por opção, não por necessidade, e venho trabalhar feliz, sabendo que realizo algo que está dentro do que faz sentido para mim, do meu desejo.

Essa descoberta não é algo que se entende da noite para o dia, no meu caso, foram pequenos sinais ao longo dos anos, culminando com o pânico, que me levou pela primeira vez ao consultório psicológico, onde senti na pele o poder de uma psicoterapia bem conduzida. Estar atento a esses pequenos sinais pode se transformar num motor para impulsionar novos caminhos e direções, e não precisa ser um lugar de lástimas e arrependimentos.

Aprendi muito com essa minha antiga versão e sou grata a tudo que vivi. Aprendi, especialmente, que nossos anseios, desejos, propósitos se fazem no percurso, enquanto estamos em movimento, que não é um lugar estático e misterioso posto num pedestal em algum lugar do futuro.

Para findar, apenas um lembrete: o vislumbre da mudança está presente em todos os nossos dias. Ainda que você goste muito do que você faz, há sempre a possibilidade de mudar, se isso fizer sentido a você e for compatível com seu chamado interno. Não muda de vida apenas quem está insatisfeito com ela, de forma alguma! Muda quem deseja algo mais fiel aos propósitos da vida no momento em que ela acontece. E quanto ao amanhã? Bom, muita coisa ainda pode mudar.

 

Fale com Luciana Lubiana Kleinubing: lulubiana@gmail.com

 

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