Trending News

Blog Post

Artigos

Impactos da pandemia na saúde mental do trabalhador

por Jhennyfer Menezes

Mulher sentada em frente à uma mesa de escritório, higienizando as mãos com álcool spray, usando máscara de proteção compra a pandemia da COVID-19.

Drásticas mudanças na rotina social, laboral e familiar impactam na saúde mental e no bem-estar psicológico, e notam-se os esforços individuais para se adaptar a esse cenário atual.

O fato de profissionais estarem exercendo suas atividades laborais no ambiente de trabalho, trabalhando remotamente ou estarem impossibilitados de trabalhar, juntamente com a incerteza sobre a duração desse período pandêmico, tende a um processo de esgotamento emocional.

Em razão de a pandemia transformar a rotina dos trabalhadores e da população em geral, é importante enfatizar que, além da saúde, outros âmbitos também são atingidos, como o fechamento de locais públicos, de empresas, as mudanças na dinâmica do trabalho e a reorganização familiar (Zwielewski et al., 2020). Os autores afirmam ainda que:

O medo pelo desemprego, o excesso de informações e fake news, a solidão do isolamento, a inatividade, conflitos entre familiares devido à convivência intensa no período de isolamentos, elevam o nível do estresse da população, obrigada a conviver com restrições severas na movimentação e rotina das pessoas. (Zwielewski et al., 2020, p. 6)

 

De acordo com Modesto, Souza e Rodrigues (2020, p. 380), o atual contexto da pandemia contribui para um esgotamento mental. O autor defende ainda que esse esgotamento pode vir a reduzir a autoestima dos trabalhadores, que ocasiona um impacto no bem-estar geral e na saúde mental dos trabalhadores (Modesto et al., 2020, p. 380 apud Mann et al., 2019).

Uma vez que o isolamento e o distanciamento sociais, defendidos por Danzmann, Silva e Guazina (2020, p. 3), já provocam reações psíquicas, como tristeza, estresse e desamparo diante do contexto atual, os trabalhadores, conforme Schmidt et al. (2020, p. 10, apud Taylor, 2019), seguem vivenciando, no contexto da pandemia, estressores como o risco aumentado de ser infectado, adoecer e morrer; possibilidade de infectar outras pessoas; sobrecarga e fadiga; afastamento de familiares e amigos; e isso, ainda apresentado pela autora, pode vir a ser um gatilho para intensificar sintomas de estresse, ansiedade e depressão.

No curto período de tempo em que a pandemia se expandiu, ocorreu aumento da prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC), especialmente fadiga e agressividade, estresse agudos, episódios de pânico, a manifestação de preditores de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e ansiedade, não apenas nos profissionais, mas na população, de modo geral. (Cruz et al., 2020, p. 10)

Danzmann et al. (2020, p. 3) afirmam que nesse período de pandemia, uma vez que a falta de controle diante da situação que é caracterizada como imprevisível, as pessoas têm ficado em estado de alerta, envolvendo sentimentos e sintomas como nervosismo, preocupação, estresse, incerteza, ansiedade e o medo.

Ainda assim, por conta de toda a incerteza que a crise da pandemia desencadeia, a sensação de vulnerabilidade, o temor de que algo ruim que aconteça e o aumento das demandas no trabalho levam o trabalhador a apresentar uma sobrecarga emocional, com impactos no desgaste físico e mental (Quirino et al., 2020, p. 182 apud Helioterio et al., 2020).

Ainda podemos observar outras reações manifestadas por essa incerteza do período da pandemia, como o sentimento de impotência, insegurança, desamparo e medo do futuro (Zwielewski et al, 2020).

O Ministério da Saúde apresenta também que, além da contaminação pelo vírus, o risco em saúde mental ocasionado pela pandemia pode gerar reações como medo, ansiedade, alterações de apetite e de sono, pensamentos frequentes relacionados à morte e à perda de seus entes queridos, projeto de vida, a possível perda de empregos e salários, levando à não elaboração do luto do sofrimento dessas pessoas (Vieira et al., 2021).

Diante dos sintomas mencionados, o viés do esgotamento remete também à Síndrome de Burnout nos trabalhadores, um conceito que pode ser caracterizado por um estresse relacionado ao trabalho e à vida profissional do indivíduo, que pode vir a apresentar um esgotamento físico e mental, podendo causar depressão, transtorno de ansiedade, de sono e também problemas cardíacos (Modesto et al., 2020).

Uma das dimensões que pode ser mencionada em relação à Síndrome de Burnout é a exaustão emocional enfatizada como a falta de energia, em que o trabalhador acredita que não existe mais condições para se ter energia para a realização de suas tarefas, que pode gerar um sentimento de infelicidade e a insatisfação com o desenvolvimento profissional (Modesto et al., 2020).

No que diz respeito aos elementos que são comuns nas pessoas que sofrem a Síndrome de Burnout, Gutierrez (2000) salienta cinco elementos:

  1. Predomínio de sintomas como cansaço mental e/ou emocional, fadiga e depressão;
  2. Evidência observada em um âmbito mental/conduta mais do que em sintomas físicos;
  3. Sintomas relacionados com o trabalho;
  4. Manifestação da síndrome em pessoas “normais” e sadias que não sofriam anteriormente de nenhuma alteração psicopatológica;
  5. Observação de redução da efetividade e do rendimento no trabalho. (Dias & Andrade, 2020, p. 765 apud Gutierrez, 2000)

 

Desse modo, é válido enfatizar que a pessoa acometida com a Síndrome de Burnout pode ter consequências em todos os âmbitos de sua vida, tanto no trabalho quanto nas relações familiares e sociais.

Entre os sintomas que estão envolvidos na síndrome, as mudanças comportamentais, por exemplo, a irritabilidade, a dificuldade de relaxar, o uso de substâncias, podem ser evidenciadas (Caixeta et al., 2021).

Os sintomas da Síndrome de Burnout segundo Pereira (2002) podem ser divididos em:

  • Físicos: dores musculares, extremo cansaço/fadiga, problemas comportamentais, irritação, cefaleia, dores de cabeça, alterações no organismo dentre outros sintomas.
  • Psíquicos: falta de atenção, alienação, pensamentos pessimistas, impaciência, solidão, desanimo e depressão.
  • Comportamentais: negligência em modo geral, agressividade, incapacidade, aumento de consumo de álcool e substâncias prejudiciais, perda de interesse por atividades e pelo trabalho. (Dias & Andrade, 2020, p. 765-766 apud Pereira, 2000)

 

Nestes últimos tempos, é possível notar a presença da Síndrome de Burnout na categoria dos trabalhadores essenciais, os trabalhadores que se encontram em home office e nos profissionais da saúde que estão atuando na linha de frente, em razão da alteração da rotina e da sobrecarga de trabalho.

Em um contexto de pandemia, esperamos a instabilidade emocional na população geral, bem como sintomas e a necessidade de trabalhadores desenvolverem estratégias para o enfrentamento de suas questões emocionais. E apesar do amparo psicológico ainda estar abaixo do esperado, é evidente que todos que estão sendo afetados pela crise precisam de um suporte psicológico.

 

Ethos Psicotestes

Autora

Jhennyfer Menezes é Psicóloga, graduada pela Universidade da Amazônia (UNAMA). Especialização em Avaliação Psicológica pelo Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG).

Referências

Caixeta, N. C., Silva, G. N., Queiroz, M. S. C., Nogueira, M. O., Lima, R. R., Queiroz, V. A. M., … Amâncio, N. F. G. (2021). A síndrome de Burnout entre as profissões e suas consequências. Brazilian Journal of Health Review, 4(1), 593- 610.

Cruz, R. M., Andrade, J. E. B., Moscon, D. C. B., Micheletto, M. R. D., Esteves, G. G. L., Delben, P. B., … Carlotto, P. A. C. (2020). Covid-19: emergência e impactos na saúde e no trabalho. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 20(2), I-III.

Danzmann, P. S., Silva, A. C. P., & Guazina, F. M. N. (2020). Atuação do psicólogo na saúde mental da população diante da pandemia. Journal of Nursing and Health, 10(4).

Dias, D. A. L., & Andrade, V. L. P. (2020). Síndrome de Burnout em psicólogos. Cadernos de Psicologia, 1(2).

Modesto, J. G., Souza, L. M., & Rodrigues, T. S. L. (2020). Esgotamento profissional em tempos de pandemia e suas repercussões para o trabalhador. PEGADA – A Revista da Geografia do Trabalho, 21(2), 376-391.

Quirino, T. R. L., Rocha, L. P., Cruz, M. S. S., Miranda, B. L., Araújo, J. G. C., Lopes, R. N., & Gonçalves, S. X. (2020). Estratégias de cuidado à saúde mental do trabalhador durante a pandemia da Covid-19: uma experiência na atenção primária à saúde. Estudos Universitários: Revista de Cultura, 37(1-2).

Schmidt, B., Crepaldi, M A., Bolze, S. D. A., Neiva-Silva, L., & Demenech, L. M. (2020). Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Estudos de Psicologia, 37.

Vieira, M. F., Velasco, V. O. L., & Tomaz, R. S. R. (2021). O papel da psicologia frente à pandemia do Covid-19. Revista em Saúde, 2(1).

Zwielewski, G., Oltramari, G., Santos, A. R. S., Nicolazzi, E. M. S., Moura, J. A., Sant’ana, V. L. P., … Cruz, R. M. (2020). Protocolos para tratamento psicológico em pandemias: as demandas em saúde mental produzidas pela Covid-19. Debates em Psiquiatria, 10(2).

Posts relacionados

Deixe um comentário

Campos obrigatórios. *