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Reflexões sobre Orientação Profissional

por Maria Luiza Junqueira

A Orientação Profissional, Orientação Vocacional ou ainda Orientação para a Carreira deve ser compreendida como um processo facilitador no desenvolvimento dos recursos pessoais necessários para o enfrentamento das tarefas vocacionais, aquelas relacionadas aos momentos em que é preciso fazer escolhas e tomar decisões relativas à carreira.

Um desses momentos acontece no final do ensino médio quando o jovem que optar por seguir com os estudos deve decidir qual curso e de qual modalidade (técnico ou universitário) fazer – embora ao longo da vida diversas situações exijam tomada (e retomada) de decisões, conforme já nos alertava Donald Super (1963, 1990), importante teórico da Psicologia Vocacional em sua teoria desenvolvimentista.

Os termos Orientação Profissional e Orientação Vocacional frequentemente são utilizados como sinônimos. Mas, segundo Bohoslavsky (1998), autor consagrado por sua colaboração na área da orientação, o termo vocacional responderia mais ao para que da escolha enquanto o termo profissional ao o que escolher fazer. Penso que a escolha de uma profissão deve abarcar as duas coisas: o que fazer e para que fazer, ou seja, ter um sentido que possa enriquecer a vida da pessoa.

Para tanto, é necessário que se faça uma escolha madura, consciente e autônoma.
Uma escolha madura é sempre fruto de um processo de reflexão. Resulta da integração de um conhecimento aprofundado de si mesmo com o maior conhecimento possível da realidade (mundo do trabalho, cursos, universidades).

Mas essa escolha deve ser feita de tal modo que a atividade profissional escolhida também se integre à vida que se viveu, que se vive e que se pretende viver.

Este é um momento complexo. Sabemos que a adolescência é uma etapa da vida marcada por profundas transformações na identidade dos indivíduos (Erikson, 1976) e que os jovens ainda não têm uma imagem consistente de si mesmos; estão passando por transformações de ordem física, psíquica e social enquanto lidam com a construção de suas identidades adultas.

O processo de orientação pode auxiliar na definição e compreensão das suas identidades, pessoal e profissional, ajudando-os a organizar o conhecimento que já têm de si e promover um aprofundamento desse autoconhecimento, questionando a relação deles com eles mesmos naquilo que lhes é desconhecido.

Vai possibilita-los refletirem sobre quem são, quem querem ser e como desejam viver, pois é na vida que se insere o projeto profissional de cada pessoa. Como diz Donald Super, já citado neste texto, “enquanto fazem a vida, as pessoas vivem uma vida”.

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A Orientação Vocacional/Profissional pode ser feita em grupo ou individualmente. Inclui entrevistas clínicas, avaliação psicológica e o uso de diversas técnicas e atividades que visam não só ao diagnóstico, mas a promover o desenvolvimento vocacional do orientando e a ativação da sua maturidade para a escolha da carreira. Implica uma postura ativa do orientando em atividades reflexivas e práticas.

São partes essenciais do processo a clarificação de interesses, valores, aptidões, habilidades (bem como a percepção de conflitos), ansiedades, influências, medos e expectativas quanto ao futuro. Inclui ainda a busca de conhecimento sobre profissões e cursos, sobre o que se vai estudar, as universidades que oferecem o curso de interesse e análise das grades curriculares. Informações sobre o mercado de trabalho, campos de atuação e reflexões sobre o mundo do trabalho também compõem a orientação.

Em suma, o processo consiste em conhecer, analisar e integrar os conhecimentos de si e da realidade. O jovem vai aprender a escolher e a estabelecer critérios para essas escolhas.

A ideia do famoso “teste vocacional”, aquele teste que indica a profissão com precisão, é uma ilusão. Porém, embora nenhum teste possa dizer exatamente qual a profissão ideal para uma pessoa, eles são excelentes instrumentos de trabalho e ajudam a compor conhecimentos que podem sim ser de muita ajuda para quem procura pela orientação; mas é importante saber que não existe mágica e que os resultados obtidos nos testes devem ser integrados ao trabalho que está sendo desenvolvido e ao conhecimento que está sendo construído.

O uso de instrumentos psicológicos auxilia os orientadores na avaliação dos participantes e no planejamento das atividades. Entretanto, para fazer uso de instrumentos de avaliação psicológica o orientador deve conhecer seus fundamentos teóricos e técnicos, compreender e aplicar a técnica com os devidos cuidados éticos.

Além disso, é extremamente necessário verificar se o teste a ser utilizado encontra-se entre os aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia. O resultado de uma avaliação psicológica deve estar sempre a serviço do orientando, ser-lhe útil, oferecer uma experiência de autoconhecimento.

É difícil, mas pode acontecer de o adolescente finalizar um processo de Orientação ainda com alguma dúvida, no entanto, com certeza não estará no mesmo ponto de desenvolvimento pessoal e vocacional de quando o iniciou.

Terá adquirido competências e atitudes que lhe permitirão continuar a lidar com a tarefa e ser capaz de fazer sua escolha no momento apropriado. Nesse sentido, uma escolha madura é aquela possível para o momento.

Dependendo da situação em que o jovem se encontra em seu processo de desenvolvimento vocacional (que vai continuar ao longo da vida), pode ser mais adequado, por exemplo, escolher fazer um ano de cursinho preparatório e deixar amadurecer suas ideias do que iniciar qualquer curso só porque os amigos estão entrando na faculdade. Afinal, como nos lembra Marques (2005), existem momentos na vida em que a direção é mais importante que a velocidade.

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Referências

Bohoslavsky, R. (1998). Orientação vocacional: a estratégia clínica. Martins Fontes.
Erikson, E. H. (1976). Identidade, juventude e crise. Zahar Editores.
Marques, E. (2005). Mude. Panda Books Editora Original.
Super, D. E. (1963). Vocational development in adolescence and early adulthood: tasks and behaviors. In: Super, D. E.; Starishevsky, R.; Matlin, N. (Orgs.). Career
development: self concept theory (pp. 79-94). College Entrance Examination Board.
Super, D. E. (1990). A life span, life space approach to career development. In Brown, D.; Brooks, L. (Eds). Career choice and development (ed. 2, pp. 197-261). Jossey- Bass.

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