por Nadine Heisler
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Quando procuramos a definição da dislexia, muitas vezes encontramos explicações rebuscadas e técnicas que passam por defini-la como um transtorno neurobiológico do desenvolvimento afetando em específico a área da linguagem. Traduzindo, a dislexia é uma característica de como o cérebro é organizado em termos de conexões neurais que tornam o aprendizado da leitura e da escrita inesperadamente mais difíceis.
Quem tem dislexia, em sua maioria, passa por momentos difíceis na escola, onde boa parte da informação e das avaliações são baseadas na capacidade de comunicação escrita, justamente onde o disléxico tem mais dificuldade.
Ambientes de dificuldade e a falta de diagnóstico são fatores geradores de ansiedade e depressão, que levam mais de 40% dos disléxicos a desenvolverem um quadro com prejuízo na saúde mental. Como consequência direta, índices de evasão escolar são maiores para as pessoas com dislexia.
O laudo é, de fato, extremamente relevante para que a pessoa tenha autoconhecimento e possa entender e lidar melhor com as dificuldades que se apresentam ao longo de sua vida, e embora os sinais de dislexia já possam ser identificados na fase pré-escolar, esse laudo só é fechado perto dos 9 anos de idade, após um período de consistente escolarização.
E é aí que temos o chamado “paradoxo da dislexia”, termo cunhado pela pediatra e pesquisadora de Harvard Dra. Nadine Gaab, pois, embora os laudos só sejam determinados perto dos 9 anos, o melhor momento de intervenção é na faixa de 6-7 anos, o que torna urgente a implementação de modelos de observação e triagem nas escolas que permitam que as abordagens pedagógicas mais adequadas a esse público aconteçam independente de diagnósticos médicos.
O laudo ainda é caro e complexo e boa parte da população não consegue acessá-lo, fazendo com que as estatísticas e dados da dislexia sejam subestimados em todo o mundo. Para que seja emitido um laudo com CID, a avaliação conta com uma equipe multidisciplinar – da qual fazem parte um Fonoaudiólogo, Psicólogo ou Neuropsicólogo, um Psicopedagogo ou Neuropsicopedagogo e um médico Neurologista ou Psiquiatra –, e envolve diversos testes.
Devem ser descartados problemas auditivos, visuais e de funcionamento cerebral para evitar, assim, um “falso” diagnóstico. Por exemplo, uma deficiência intelectual exclui a possibilidade de dislexia.
É urgente a criação de medidas que facilitem esse processo para que mais pessoas tenham acesso ao diagnóstico; assim, mais disléxicos poderão ter o atendimento e as adaptações necessárias e, principalmente, poderão atingir seu potencial.
Nadine Heisler
Diretora do Instituto Domlexia e apaixonada por educação
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domlexia.org.br