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Depressão: o mal do século

por Makilim Nunes Baptista

Mulher com expressão triste, com o rosto sobre o braço direito encostado do vidro da janela

Atualmente, é muito comum as pessoas serem diagnosticadas ou conhecerem amigos e parentes que desenvolveram e estão experimentando uma série de sintomas e sinais, nomeados de depressão. Na verdade, depressão é um nome bastante vago, que acaba sendo utilizado para descrever diferentes “coisas”.

Por exemplo, a depressão é utilizada como sinônimo de tristeza, melancolia, sentimento de vazio, mas pode ser empregada como um nome genérico para os mais de seis tipos diferentes de diagnósticos de transtornos depressivos. A inflação semântica fez que a palavra fosse utilizada de maneira descontextualizada e inadequada por muitas pessoas que desconhecem, tecnicamente, esse conjunto de transtornos.

Um transtorno depressivo, de qualquer tipo, é diagnosticado quando constatada a existência de uma série de sinais, que seriam os comportamentos que podemos ver, como o choro, e sintomas, ou seja, sentimentos e cognições que existem, mas somente a pessoa experimenta, e não necessariamente é visível pelo outro, tal como ideação suicida.

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Esse conjunto de sinais e sintomas, também chamado de síndrome/transtorno, deve ser avaliado por um profissional, com conhecimento extenso em diagnóstico e prática clínica. O diagnóstico também envolverá um tempo específico da presença constante dos sinais e sintomas (por ex., no mínimo, duas semanas), intensidade, frequência, e, geralmente, vem acompanhado por sofrimento clínico e limitações em diversas áreas da vida, como laboral, interpessoal, familiar, entre outras.

Ainda, o profissional deve sempre se preocupar em realizar um diagnóstico diferencial, que justamente é a capacidade de verificar diversos sintomas que são comuns a vários transtornos e concluir que um conjunto de sintomas se refere a determinado transtorno e não a outro.

Assim, por exemplo, sinais e sintomas como alteração de sono e dificuldade de se concentrar, característicos de um Transtorno Depressivo Maior (TDM), também fazem parte de um Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).

A depressão (usada aqui como sinônimo de TDM) é produto de interações altamente complexas entre variáveis biológicas/genéticas, psicológicas e socioculturais, não havendo ainda um algoritmo capaz de detectar e predizer quem desenvolverá o transtorno, no entanto, algumas variáveis podem ser bastante importantes na explicação, prognóstico e intervenção do TDM.

Questões genéticas (ter pessoas na família, principalmente pais e avós) com depressão, fatores de personalidade (por ex., características como maior neuroticismo e menor sociabilidade) e relações e apoio social (de amigos e parentes) parecem ser, por exemplo, algumas das dezenas de variáveis importantes que devem ser inseridas nesta equação complexa do desenvolvimento e tratamento do transtorno.

Logo, um profissional de saúde deve, além de se preocupar com um diagnóstico correto, também fazer uma avaliação minuciosa das variáveis de risco e de proteção do cliente/paciente.

Há diversos métodos para se realizar um diagnóstico completo, o que é chamado de avaliação baseada em multimétodos, ou seja, é quando o profissional lança mão de anamneses, informação vinda de terceiros, observação sistematizada, métodos qualitativos e escalas aprovadas para o uso pelo profissional, entre outros. A utilização de vários métodos pode gerar uma quantidade maior de dados que, se agrupados e interpretados corretamente, acaba produzindo um resultado mais confiável em termos de diagnóstico.

Entre as escalas, que podem ser potentes ferramentas para auxiliar no processo diagnóstico, além da avaliação de resultado das intervenções, cita-se a coleção de escalas da família EBADEP (Escalas Baptista de Depressão). As EBADEPs, em suas diversas versões para ciclos desenvolvimentais e contextos específicos, foram desenvolvidas por um clínico com mais de 25 anos de experiência em atendimentos de clientes/pacientes com transtornos depressivos, agregado a um extenso conhecimento psicométrico.

São escalas rápidas e práticas, que oferecem informações clínicas altamente significativas e podem ser usadas no cotidiano do diagnóstico, da avaliação de resultados, bem como em pesquisas. Com todos os tipos de evidências de validade (por ex., conteúdo, construto, baseado na relação com variáveis e critérios externos), estudos de sensibilidade/especificidade e confiabilidade, as escalas da família EBADEP podem ser muito úteis na prática da avaliação psicológica e na prática interventiva do psicoterapeuta.

Por fim, o diagnóstico correto pode gerar informações úteis ao psicoterapeuta, e ao psiquiatra, que possibilitem intervenções adequadas para cada caso. Assim, não basta apenas que o profissional saiba dizer se a pessoa possui ou não um diagnóstico específico, mas que possa ter conhecimentos dos principais fatores de risco, proteção, virtudes e déficits a serem focados durante o processo psicoterápico.

Por fim, somente um diagnóstico multimétodo, de um profissional com altas capacidades e conhecimentos específicos e práticos, com ferramentas de alta qualidade, poderá gerar uma quantidade de informação capaz de auxiliar o clínico no desenvolvimento de sua prática psicoterapêutica.

Makilim Nunes Baptista

Possui mestrado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1997) e doutorado pelo departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo (2001). Experiência clínica de mais de 25 anos em atendimento em psicoterapia Cognitiva-Comportamental.

Atualmente é docente do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco – Campinas; bolsista produtividade pelo CNPq; Coordenador do Laboratório de Avaliação Psicológica em Saúde Mental (LAPSAM-III) do Programa de Pós- Graduação Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco; Foi presidente do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica – IBAP (2019-2021); Membro do Grupo de Trabalho de Família da União Latino-Americana de Entidades de Psicologia (ULAPSI); Membro del Red Mundial Suicidólogos.

Referências

American Psychiatric Association (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5-TR (5th ed., text revision). Washington: American Psychiatric Association Publishing.
Baptista, M. N. (2018). Avaliando “depressões”: dos critérios diagnósticos às escalas psicométricas. Avaliação Psicológica, 17(3): 301-310. http://dx.doi.org/10.15689/ap.2018.1703.14265.03

Capa do livro Síndrome do Pânico

Síndrome do pânico o tratamento na visão da psicologia

Com o objetivo de auxiliar profissionais da área a trazer de imediato para o paciente o conforto para o bem-estar físico, mental e espiritual, essa obra mostra que isso e possível com a técnica psicoterapêutica transpessoal, que tem a visão do mundo como um todo integrado, em harmonia, onde tudo e energia, formando uma rede de inter-relações de todos os sistemas existentes no universo.

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