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Dicas de Leitura

Diagnóstico psicológico e práticas compreensivas

Silhueta de rosto e pescoço feminino com contornos em cinco graduações de cores

Capa do Livro Diagnóstico Psicológico, com silhueta da cabeça de uma mulher, com contornos graduais em 5 camadas.A obra Diagnóstico psicológico: a prática clínica foi organizada por Walter Trinca e publicada em 2022 pela Vetor Editora. O livro é composto por 12 capítulos, os quais, cada qual em sua essência, buscou contribuir para o arcabouço técnico daquele que busca subsídios com a leitura da obra. A obra traz, em cada capítulo, uma linguagem que, embora recorra à elucidação de conteúdos técnicos, não carece de clareza e boa articulação, o que facilita a compreensão do texto.

No primeiro capítulo da obra, “Contexto geral do diagnóstico psicológico”, Marilia Ancona-Lopez busca, inicialmente, trazer ao leitor a compreensão sobre o termo diagnóstico, direcionando-o, posteriormente, à conceituação de diagnóstico psicológico, bem como às diferentes abordagens e correntes que se acoplam no estabelecimento do diagnóstico psicológico: os modelos médico, psicométrico e behaviorista e, inclusive, as grandes abordagens da psicologia, entre elas, a fenomenologia-existencial e a psicanálise.

Na sequência, a autora discute sobre a teoria, a prática e os contextos do psicodiagnóstico. Por fim, sendo este um capítulo introdutório, sua leitura traz importantes contribuições para profissionais e, sobretudo, para alunos e recém-formados que buscam o endosso de seu conhecimento ante a arte do psicodiagnóstico e do trabalho clínico.

Em “Processo diagnóstico de tipo compreensivo”, Walter Trinca fornece ao leitor dados que possibilitam o entendimento sobre o processo diagnóstico compreensivo, isto é, aquele que engloba o sujeito em sua complexidade, bem como a multiplicidade de fatores que exercem influência em sua vida psíquica.

Para isso, Trinca aborda os fatores estruturantes do processo compreensivo e sua importância clínica. Trata-se de um capítulo que, indubitavelmente, favorece uma prática psicodiagnóstica que esteja aquém da parcialidade técnica (em termos de incompletude), indispensável ao fazer clínico.

De modo a fomentar o processo diagnóstico compreensivo, no terceiro capítulo da obra, “Referenciais teóricos do processo diagnóstico de tipo compreensivo”, Walter Trinca, respaldado por grandes teóricos, como Melanie Klein, Arminda Aberastury, Pichón-Riviere, Winnicott e Mahler, traz ao leitor contribuições sobre os processos intrapsíquicos, maturacionais, dinâmica familiar e, por fim, sobre a relação entre psicólogo × paciente.

Sobre este último item, o autor elenca pontos teóricos importantes sobre a fluência clínica de dois conceitos: (1) transferência; e (2) contratransferência. Ao final do capítulo, Trinca deixa clara ao leitor a importância de não se prender às teorias, apesar de sua grande importância, favorecendo uma habilidade em observar e captar fatores relevantes.

É importante salientar, ainda, que tal apontamento do autor é de tanta magnitude que exerce consonância com a literatura francesa sobre a prática clínica, como visto em Roussillon (2019), autor que traz o cuidado de, na prática, não encaixar os pacientes em uma teoria e, assim, contaminar a acurácia clínica e a compreensão do fenômeno.

Em “A relação psicólogo-cliente no psicodiagnóstico infantil”, Tânia Maria José Aiello-Vaisberg traz, logo de início, uma ilustração sobre a complexidade da rede de relações estabelecidas com a criança, o que serve de alicerce para a posterior discussão sobre a definição de “quem é o cliente” em um atendimento infantil. Dadas as elucubrações da autora, posteriormente se aborda a instrumentação da relação psicólogo-cliente a partir das óticas epistemológica, técnica e ética.

No quinto capítulo da obra, “Entrevistas clínicas”, Mary Dolores Ewerton Santiago discorre sobre as importantes etapas de um processo de entrevista psicológica, bem como suas particularidades, por exemplo, em um psicodiagnóstico infantil, como se dá a entrevista inicial, as entrevistas subsequentes e a entrevista de devolução.

Banner com a capa do livro Diagnóstico Psicológico com link para a aquisição.

Trata-se de um capítulo que deixa clara a importância da condução adequada desse processo e dos cuidados que devem ser tomados ao longo de seu trabalho.

Em “Procedimentos clínicos utilizados no psicodiagnóstico”, Gilberto Safra discorre sobre grandes procedimentos, técnicas e testes utilizados ao longo do processo de psicodiagnóstico, reunindo grandes nomes, entre eles, Winnicott e sua técnica do rabisco, Hermann Rorschach, Henri Muray (Teste de Apercepção Temática) e, satisfatoriamente, o Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E), de Walter Trinca, organizador desta obra.

No sétimo capítulo, “O diagnóstico psicológico em face das técnicas de investigação clínica”, Ana Maria Trapé Trinca introduz uma compreensão sobre o significado de diagnóstico psicológico e, posteriormente, demonstra ao leitor a amplitude e a aplicabilidade do procedimento de desenhos-estória em suas diversas formas (livre, com tema e família), dimensionando, assim, a importância da técnica na atuação psi.

Em “O pensamento clínico e a integração dos dados no diagnóstico psicológico”, Ana Maria Trapé Trinca e Elizabeth Becker trazem, logo de início, uma preocupação já articulada na obra  O pensamento clínico em diagnóstico da personalidade, de Trinca (2010), também citada no capítulo em questão, para discutir o processo de integração dos dados ao longo do processo de psicodiagnóstico, sendo o psicólogo o “catalizador do processo e aquele que metaboliza os dados” (p. 114). Este capítulo busca aguçar e preparar o profissional para uma atenção crítica ante a compreensão clínica que busca estabelecer ao longo de seus trabalhos.

Walter Trinca, em “Um modelo para a análise dos conteúdos dos pensamentos clínicos”, traz os principais fatores que compõem o método do pensamento compreensivo, de ordem psicanalítica e que busca a compreensão do sujeito psíquico em sua totalidade.

Na sequência, no décimo capítulo “Identificação dos fatores no modelo compreensivo”, Trinca traz ao leitor diferentes exemplos práticos, por meio de vinhetas clínicas, como identificar a constelação do inimigo interno, fragilidade, angústia, sensorialidade, distanciamento do contato e o sistema mental determinante. Trata-se de dois capítulos cujo entendimento se dá complementarmente.

O décimo primeiro capítulo, “Estudos clínicos”, escrito por Cristina Prestes, Elisa Vilella e Maria Martão, possibilita ao leitor uma compreensão prática da aplicabilidade do Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) em um processo do modelo compreensivo de pensamento clínico.

Por fim, Elisa Vilella, em “Conclusões: a entrevista devolutiva e suas implicações”, retoma a proposta da obra, aludindo ao pensamento compreensivo em diagnóstico psicológico. Ao longo do capítulo, a autora traz os fundamentos da entrevista devolutiva, além de diferentes formas de condução em um diagnóstico compreensivo.

O texto evidencia, ainda, a possibilidade de utilização de diferentes instrumentos para conduzir a sessão devolutiva – instrumentos que, de maneira automática, tendem a ser utilizados apenas no início/metade de um processo de psicodiagnóstico, e não como um processo técnico-criativo ao longo do trabalho: Teste de Apercepção Temática adulto e infantil (TAT, CAT-A/H), Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E), entre outros. A autora finaliza o capítulo com uma vinheta elucidadora ao leitor.

Destarte, a obra de Walter Trinca abrange importantes aspectos que favorecerão ao leitor o municiamento de sua prática, subsidiando o distanciamento de pensamentos clínicos reducionistas e, quiçá, que andam na contramão da promoção de saúde mental. Trata-se, assim, de uma obra indispensável para o psicólogo que busca o compromisso para com a dor psíquica e que busca dar vida a seu zelo e apreço pela profissão.

Carlos Eduardo Bovenzo Filho

Psicólogo pela Universidade Guarulhos (UNG). Pós-graduando em Psicologia Jurídica pelo Instituto de Pós-Graduação (Ipog). Psicólogo do Departamento de Produtos e Pesquisa da Vetor Editora. Psicólogo clínico e técnico pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Violência – Psicologia Jurídica (NUPEV-PJ) e do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação, Saúde e Neurociência (NEPSI-UNG).

Referências

Roussillon, R. (2019). Manual da prática clínica em psicologia e psicopatologia. [Trad. P. S. Souza Jr]. São Paulo, SP: Blucher.

Trinca, W. (2010). O pensamento clínico em diagnóstico da personalidade. São Paulo, SP: Vetor.

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