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Novembro Azul: o papel do RH na promoção contínua da saúde masculina
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Novembro Azul: o papel do RH na promoção contínua da saúde masculina

A imagem mostra um homem em vestimentas formais com os braços cruzados.

Por André Martin Marquez Ventura, Psicólogo na Vetor Editora.

Falar sobre saúde masculina ainda é, para muitos homens, um tema delicado, cercado de tabus, estigmas e silêncios. Apesar das campanhas do Novembro Azul, o cuidado contínuo e preventivo com a saúde física e emocional dos homens ainda é negligenciado, tanto em nível individual quanto institucional.

Segundo o Ministério da Saúde (2024), os homens vivem, em média, 7 anos a menos que as mulheres — em grande parte por procurarem menos os serviços de saúde e realizarem menos exames preventivos (1).

No ambiente corporativo, esse cenário se reflete em baixa adesão a programas de saúde, pouca procura por apoio psicológico e dificuldade em expressar vulnerabilidade. Muitos ainda associam o autocuidado à fraqueza ou à falta de foco profissional, perpetuando um ciclo de silêncio que custa caro — em adoecimento, absenteísmo e perda de produtividade.

A resistência masculina aos cuidados com a própria saúde não é casual, ela tem raízes culturais profundas. Desde cedo, meninos aprendem que “homem não chora”, “aguenta firme”, “não precisa de ajuda”. Essa construção de masculinidade baseada na força e no autocontrole impede que muitos homens busquem acompanhamento médico ou psicológico.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, em artigo produzido para o portal G1, apenas 46% dos homens acima de 40 anos só vão ao médico quando sentem algo (2).

Enfrentar esse tabu, portanto, não se resume a disseminar informação: requer empatia, escuta e transformação de comportamentos dentro das organizações.

Fatores que alimentam o tabu:

  • Medo do diagnóstico ou do estigma de “fraqueza”
  • Falta de tempo e priorização do trabalho sobre a saúde
  • Ausência de espaços de diálogo sobre vulnerabilidade masculina
  • Barreiras culturais e de gênero que reforçam o silêncio

A mudança começa quando as empresas reconhecem que o cuidado não é apenas uma responsabilidade individual, mas um valor organizacional.

O setor de Recursos Humanos tem um papel estratégico para romper essas barreiras e construir uma cultura de cuidado permanente. Mais do que promover campanhas pontuais, o RH pode atuar como protagonista de uma mudança cultural, integrando a saúde masculina aos programas de bem-estar, diversidade e qualidade de vida no trabalho.

Boas práticas que inspiram resultados

1. Comunicação interna humanizada
Campanhas que falem com naturalidade e empatia sobre saúde física e emocional, evitando discursos moralizantes. Mostrar que cuidar de si é um ato de responsabilidade, não de fragilidade.

2. Espaços seguros de diálogo
Rodas de conversa, grupos de escuta ou cafés temáticos sobre saúde masculina e emocional. O objetivo é oferecer ambientes de confiança, onde os colaboradores possam compartilhar dúvidas, experiências e receios sem julgamento.

3. Políticas de incentivo à prevenção
Parcerias com clínicas para realização de check-ups, flexibilização de horários para consultas médicas e comunicação ativa sobre exames preventivos. Pequenas ações logísticas demonstram apoio real ao cuidado.

4. Inclusão nos programas de diversidade e bem-estar
A saúde masculina deve fazer parte da pauta de diversidade e inclusão, ao lado de temas como saúde da mulher, parentalidade e saúde mental. Assim, reforça-se que cada colaborador é parte de um todo que importa.

5. Formação de lideranças conscientes
Treinar gestores para reconhecer sinais de adoecimento emocional e abordar o tema com sensibilidade. Quando líderes falam abertamente sobre autocuidado e vulnerabilidade, ajudam a quebrar paradigmas e inspiram novos comportamentos.

De acordo com o Our World in Data (2025), os índices de suicídio entre homens são quatro vezes maiores do que entre mulheres (3). Essa estatística mostra que, se o cuidado emocional não for incluído nas estratégias de prevenção, o trabalho do RH estará incompleto.

A Fiocruz (2020) reforça que as políticas de saúde mental no trabalho ainda não contemplam de forma adequada às especificidades do público masculino, o que contribui para o agravamento de casos de depressão, abuso de substâncias e isolamento social (4).

O RH pode ser a ponte entre colaboradores e suporte psicológico, promovendo:

  • Escuta ativa e acolhimento humanizado em todos os níveis;
  • Canais de apoio psicológico ou convênios com terapeutas e psicólogos organizacionais;
  • Campanhas educativas sobre estresse, ansiedade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional;
  • Valorização da vulnerabilidade como expressão de coragem e maturidade emocional.

Ao integrar a saúde mental masculina à estratégia de bem-estar corporativo, o RH não apenas previne adoecimentos, mas fortalece a cultura de pertencimento e empatia.

Uma cultura de cuidado é uma cultura de pertencimento, quebrar o tabu sobre a saúde masculina é uma tarefa coletiva, e o RH é o principal agente dessa transformação dentro das organizações. Quando o cuidado passa a ser um valor corporativo, e não uma ação pontual, a empresa cria um ambiente em que o autocuidado é visto como ato de coragem, não de fraqueza.

Empresas que investem em saúde integral colhem benefícios que vão além dos indicadores clínicos: engajamento, produtividade, retenção de talentos e sentido de propósito. Promover a saúde masculina é, portanto, promover uma cultura de pertencimento, na qual cada colaborador é convidado a cuidar de si e dos outros — dentro e fora do trabalho.

Texto originalmente publicado no site Economia SP, em 27/11/2025: https://www.brazilhealth.com/br/noticia/transtorno-afetivo/como-manter-a-produtividade-e-o-bem-estar-no-trabalho-durante-o-inverno-e-o-tas

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