por Anelize de Carvalho Ferreira
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem se tornado cada vez mais reconhecido, com um aumento significativo nos diagnósticos ao redor do mundo. Um estudo conduzido nos Estados Unidos mostrou que, entre 1997 e 2016, a prevalência do diagnóstico em crianças e adolescentes subiu de 6,1% para 10,2%.
Esse aumento pode ser atribuído a diversas mudanças. A revisão dos critérios diagnósticos, como a elevação da idade de início dos sintomas de 7 para 12 anos, e a inclusão de casos com comorbidade com o Transtorno do Espectro Autista ampliaram a população diagnosticável. Além disso, a crescente conscientização pública e médica sobre o transtorno e a melhoria no acesso aos serviços de saúde também contribuíram para essa expansão.
O diagnóstico de TDAH em adultos, entretanto, enfrenta desafios específicos. Muitos indivíduos não foram diagnosticados na infância, seja por desconhecimento ou por menor acesso a serviços de saúde na época. Além disso, os sintomas tendem a se apresentar de maneira diferente ao longo da vida, com maior predominância de desatenção em detrimento da hiperatividade. A sobreposição de sintomas com comorbidades psiquiátricas – como transtornos de humor, ansiedade, uso de substâncias e transtornos de personalidade – dificulta ainda mais o diagnóstico.
Embora o subdiagnóstico seja uma preocupação importante, o sobrediagnóstico também merece atenção. O uso excessivo de medicamentos estimulantes, frequentemente inadequado, é um dos principais riscos associados. A disseminação de informações imprecisas em redes sociais contribui para uma percepção distorcida do transtorno, ao passo que a subjetividade dos critérios diagnósticos, aliados à ausência de biomarcadores específicos, torna o diagnóstico dependente de entrevistas clínicas e observação comportamental, o que pode levar a interpretações equivocadas.
No Brasil, a Escala ETDAH-AD tem se destacado como uma ferramenta útil na identificação do transtorno em adultos.
Por meio de uma avaliação breve e prática, ela permite captar não apenas os sintomas nucleares do TDAH, mas também suas consequências funcionais, ocupacionais, sociais e familiares, que frequentemente impactam diferentes aspectos da vida do indivíduo.
Portanto, diante da complexidade envolvida no diagnóstico do TDAH em adultos, é essencial adotar uma abordagem criteriosa, baseada em avaliações clínicas robustas e na consideração cuidadosa de fatores individuais e contextuais.
Anelize de Carvalho Ferreira
Psicóloga especialista em Neuropsicologia, Mestre em Psicologia e Saúde. Docente universitária.
Referências
Abdelnour, E., Jansen, M. O., & Gold, J. A. (2022). ADHD Diagnostic Trends: Increased Recognition or Overdiagnosis? Missouri medicine, 119(5), 467-473.
Benczik, E. B. P. (2021). ETDAH-AD: Escala de transtorno no défict de atenção e hiperatividade: versão adolescentes e adultos livro de instruções. Vetor Editora.
Choi, W.-S., Woo, Y. S., Wang, S.-M., Lim, H. K., & Bahk, W.-M. (2022). The prevalence of psychiatric comorbidities in adult ADHD compared with non-ADHD populations: A systematic literature review. PLOS ONE, 17(11), e0277175. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0277175