por Lana Revoredo de Medeiros
O livro “Diagnóstico e intervenção na clínica do desenvolvimento e aprendizagem: pelos caminhos da ilusão e do conhecimento” aborda o modelo de diagnóstico e intervenção clínica do desenvolvimento e aprendizagem, mostrando que aprender de modo lúdico pode proporcionar uma melhor descoberta do mundo externo e interno dos indivíduos. Todavia, ressalta que tal descoberta necessita ser feita em doses compatíveis ao amadurecimento humano.
Nesta obra, a autora Sonia Maria B. A. Parente destaca conceitos teóricos de Sara Paín e Donald Winnicott a respeito das questões da ignorância, da ilusão e do conhecimento, e de como estes três aspectos podem esclarecer a força da aparência corporal e da expressão do estado do ser no mundo.
Na introdução do livro, Parente especifica como desenvolveu esta obra, tendo como referência sua trilogia “Pelos caminhos…”, em que se debruçou principalmente no segundo livro – “Pelos caminhos da ignorância, ilusão e conhecimento” –, com o intuito de estabelecer um diálogo entre a experiência clínica e as diferentes teorias de Melanie Klein, Sara Paín e D. W. Winnicott, para assim desenvolver seu próprio pensamento clínico sobre a aprendizagem e as dificuldades enfrentadas por crianças nesse processo.
Ainda na introdução, a autora apresenta como elaborou um modelo de diagnóstico, intervenção e tratamento baseado nessa trilogia, tendo por referência a função da ignorância que focaliza a relação entre as dimensões do afeto (Freud) e da cognição (Piaget) no pensamento da criança que (não) aprende.
Discorre, também, uma reflexão sobre o processo de transformação sobre a visão do tema de inibição intelectual e os problemas de aprendizagem, e de como tais pontos podem acarretar no sofrimento psíquico de crianças; o que a levou a pensar a atuação clínica da aprendizagem sempre levando em consideração o desenvolvimento psíquico.
Por fim, aborda sobre a relevância do brincar para o desenvolvimento das relações do indivíduo com os objetos da cultura, em que encontra-se o objeto de conhecimento; o que leva a compreensão de que o brincar, o conhecer e o aprender são funções que podem ocorrer de forma integrada com desenvolvimento de autoria e apropriação criativa do conhecimento, ou de forma defensiva, reativa, superficial e adaptativa quando não for possível a constituição destes no campo da transicionalidade.
A autora inicia o livro abordando a relação entre narrativa e aprendizagem, em que por meio de alguns relatos de sua experiência clínica, busca mostrar o espaço de ilusão como um campo fundamental para a aprendizagem.
Além disso, procura trazer reflexões acerca do campo dos problemas de aprendizagem (exemplo: a vida escolar ampliar-se para além do vestibular, desenvolvendo-se também de modo lúdico para proporcionar não só uma melhor descoberta do indivíduo sobre o mundo, mas sobre si) e ressignificar o olhar sobre as descobertas, buscando trazer encantamento quanto a esse processo ao invés de encará-lo de modo maçante, oferecendo uma visão de acolhimento sobre o ser humano e suas necessidades fundamentais, sem que ele precise ser reduzido a uma função.
Nos dois primeiros capítulos, Parente aponta a contribuição de Winnicott para a clínica de aprendizagem focando em especificar como a ilusão e a construção da subjetividade influenciam na aprendizagem; bem como expor a ignorância, a ilusão e o uso da agressividade na criação da externalidade do objeto e na conquista do conhecimento.
Nos capítulos 3 e 4, a autora enfatiza a prática clínica em relação à aprendizagem e os problemas relacionados a esta, assim como o lidar com crianças que estejam em sofrimento psíquico devido alguma questão relacionada ao processo de aprendizagem.
Assim, discorre acerca de dois casos clínicos, em que no capítulo 3 é ilustrado o desenvolvimento evolutivo do potencial criativo do bebê, considerando o aspecto da provisão ambiental ao longo do tempo na prática clínica, visando compreender as três áreas da existência humana (a subjetiva, a transacional e a da realidade externa ou objetivamente percebida).
Já no capítulo 4, é apresentado o atendimento clínico de uma criança em sofrimento psíquico devido a um quadro de inibição intelectual. Ressalta a importância de acompanhar o desenvolvimento do potencial criativo da criança, respeitando o ritmo desta e de sua comunicação não verbal para o desenvolvimento da criação da externalidade do mundo, levando em consideração aspectos relevantes de sua vida pessoal e familiar, bem como potencializando o resgate de aspectos do self, da sua criatividade e, consequentemente, da aprendizagem.
Por fim, a autora encerra o livro abordando considerações importantes a respeito da temática “Inibição Intelectual: o paradoxo no sintoma expressando paralisia e busca da criatividade” e de como entender e trabalhar tais aspectos.
Ao discorrer sobre o assunto, relata que em sua experiência clínica com crianças que apresentam sofrimento psíquico ligado à inibição intelectual, este sintoma é da ordem do paradoxo, que por um lado expressa a impossibilidade da constituição da subjetividade e de uma relação de troca significativa com a realidade externa, e por outro lado, expressa a busca do desenvolvimento do próprio potencial ativo e criativo. Desta forma, torna-se relevante o terapeuta trabalhar ao longo dos atendimentos o processo de mudança no tipo de relação que a criança tem com o mundo, realizado através do manejo, incluindo o papel do espelho e a dos fracassos.
Contudo, a autora reforça que isto deve ser feito respeitando o ritmo da criança em direção ao conhecimento, bem como trabalhando as angústias, conflitos e defesas para abrir a possibilidade do encontro. Logo, finaliza enfatizando que cabe ao terapeuta oferecer um ambiente de confiança, acompanhando os movimentos do paciente no estabelecimento de um novo tipo de relação com o mundo externo, auxiliando assim o desenvolvimento de um processo criativo de aprendizagem.
Lana Revoredo de Medeiros
Graduada em 2009, Curso de Psicologia da FARN, com ênfase em Ludoterapia na Abordagem da Análise Transacional. Especialista em Avaliação Psicológica pela FARN (2012). Especialista em Psicologia do Trânsito pelo Centro Universitário CESMAC/FACIMA/UNIP de Maceió/AL (2014). Formação em Psicologia Positiva pelo Instituto Brasileiro Psicologia Positiva (2016). Personal & Professional Coaching, título adquirido pela Sociedade Brasileira de Coaching em 2015.
Psicóloga Perita Examinadora do Trânsito responsável pela Avaliação Psicológica (2014), atuando como Psicóloga Perita Examinadora do Trânsito responsável pela Avaliação Psicológica no DETRAN/RN desde 2012 (pela empresa extinta: Organizacional) até os dias atuais (pela empresa Insight Psicologia – desde Maio de 2017 até os dias de hoje em 2024.
Referência
Parente, S. M. B. A. (2010). Diagnóstico e intervenção na clínica do desenvolvimento e aprendizagem: pelos caminhos da ilusão e do conhecimento (p. 148). Vetor Editora.
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