Trending News

Blog Post

Artigos

Escala de avaliação do transtorno de défict de atenção/hiperatividade

por Edyleine Bellini Peroni Benczik

Escala de avaliação do transtorno de défict

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, reconhecido como TDAH é um transtorno mental crônico que começa cedo (na infância), apresenta um curso de desenvolvimento e um quadro de sintomas característicos ao longo da vida.

Estudos longitudinais demonstraram que o TDAH persiste na vida adulta em torno de 60% a 70% dos casos (Barkley,2002) e a sua prevalência na vida adulta varia de 2 a 4% na mesma proporção entre homens e mulheres (Biederman e cols, 1994; Barkley e Murphy, 2008; Angold e Costello, 1998).

A etiologia descrita na literatura alega que o TDAH pode ocorrer como resultado de bases multifatoriais, como os fatores genéticos, biológicos e neuropsicológicos, mas a predisposição genética para a manifestação do transtorno é acima de 50% (Barbosa, 1995).

O impacto promovido pelo quadro de TDAH envolve prejuízos familiares, como estresse familiar, maiores conflitos no casamento e com os filhos, prejuízo nas relações interpessoais, atividades antissociais, problemas legais, risco para acidentes de trânsito e multas por excesso de velocidade; sucesso educacional limitado, prejuízos no emprego, dificuldades financeiras, sexo arriscado, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis, bem como uso excessivo de cigarro, café e drogas (Barkley, 2011a; Mattos, 2003a).

Barkley (1997) propôs uma teoria unificadora para explicar as disfunções observadas no TDAH. Barkley (2011b) relata que há uma combinação de três categorias interrelacionadas: baixa inibição, baixo autocontrole e problemas com as funções executivas. A baixa inibição conduz a um baixo autocontrole e à problemas com as funções executivas, as quais  ajudam a pessoa a decidir, exatamente, o que fazer quando se exerce o autocontrole.

As funções executivas são as ações direcionadas que usamos para nos controlar, como inibição, memória de trabalho, controle emocional, planejamento e atenção. Quando inibimos o impulso de agir, recorremos a estas habilidades durante esta pausa. Para a utilização destas habilidades é necessário vontade e esforço, o que não é fácil, nem menos automático Barkley (2011c).  O sistema de autorregulação é a integração bem sucedida entre o aspecto cognitivo (pensamento) e o aspecto emocional (sentimento).

O tratamento do TDAH requer uma abrangente avaliação comportamental, psicológica, educacional e médica, seguida da educação do indivíduo ou dos familiares. O tratamento deve ser multidisciplinar e requer a assistência de profissionais de saúde mental, educadores e médicos em vários momentos de seu curso para ajudar a pessoa com TDAH no manejo contínuo do seu transtorno. Assim, muitos portadores poderão ter uma vida satisfatória, sentindo-se razoavelmente ajustados e produtivos (Barkley & Murphy, 2008).

Embora o diagnóstico de TDAH em adultos ainda seja motivo de embates, considera-se que ele possa ser realizado de modo confiável quando são utilizados critérios bem definidos, tais como o uso de escalas de avaliação que apresentem estudos de validade e precisão (Barkley, 2011b; Triolo & Murphy, 1996).

A Escala de TDAH – Versão Adolescentes e Adultos (ETDAH–AD, Benczik, 2013) desenvolvida para a população brasileira, por meio de estudos estatísticos, demonstrou excelente nível de precisão e de fidedignidade, conta com 69 itens e avalia cinco fatores:

  1. Desatenção,
  2. Impulsividade,
  3. Aspectos Emocionais,
  4. Autorregulação da Atenção, da Motivação e da Ação e
  5. Hiperatividade.

 

O Fator 1 – Desatenção avalia alguns subdomínios de funções executivas, tais como permanecer alerta para engajar-se e cumprir com as exigências de uma situação, atenção concentrada, atenção seletiva, persistência do esforço e da motivação, principalmente em projetos de longo prazo. Habilidade para antecipar e prever eventos futuros, de reter na mente informações importantes das quais necessitamos para guiar as nossas ações, não se esquecendo do objetivo inicial, memória de trabalho, memória prospectiva, ritmo de trabalho, capacidade de organização, de assumir responsabilidades.

O Fator 2 – Impulsividade avalia a capacidade de inibição do impulso, autocontrole, habilidades sociais, interações familiares e pessoais, adaptação nos contextos sociais e no seguimento de regras e normas institucionais.

O Fator 3 – Aspectos emocionais avalia humor, sensação de fracasso, relacionamento interpessoal, isolamento e inflexibilidade diante de mudanças.

O fator 4 – Autorregulação da atenção, da motivação e da ação avalia a regulação do comportamento para estabelecer prioridades e objetivos, considerando-se a atenção, motivação e a vontade, habilidade de planejamento e organização, a fim de atingir um objetivo, utilizando de estratégias eficazes, modificando-as com a flexibilidade mental necessária na busca de resolução de situações problema. É a Autorregulação do impulso, da motivação, da intensidade e do ritmo da ação mesmo na presença de possíveis obstáculos.

O Fator 5 – Hiperatividade – avalia o nível de inquietação,  agitação comportamental,  ritmo acelerado que pode comprometer a qualidade do trabalho, nível de distração e instabilidade comportamental, como acidentar-se com facilidade (cair, tropeçar, esbarrar em móveis), qualidade do sono e memória prospectiva.

A ETDAH-AD veio cobrir uma lacuna na área, é um instrumento validado e padronizado para a população brasileira, subsidia a prática profissional e auxilia na captação de informações relevantes para o diagnóstico de forma breve, rápida e prática. Pode ser utilizada por pesquisadores, psicólogos, neuropsicólogos, psicopedagogos, médicos e profissionais de saúde mental em geral.

Por fim, a ETDAH-AD torna-se um recurso valioso no auxílio da quantificação dos relatos de portadores de TDAH, que por muitas vezes são nebulosos, proporcionando ao profissional a possibilidade de transformar uma informação de caráter subjetivo em uma forma mais objetiva (Triolo & Murphy, 1996), como também na elaboração de um plano de intervenção e como entrevis de follow-up destinado ao tratamento do adolescente e adulto com TDAH.

Edyleine Bellini Peroni Benczik

Mini Currículo: Psicóloga e neuropsicóloga. Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo e Mestre em Psicologia Escolar pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. É professora do curso de pós-graduação em Neuroaprendizagem e Transtornos do Aprender do Grupo Saber/Cultura, SP. Já publicou vários livros e capítulos de livros relacionados ao Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), além de ser de sua autoria a escala nacional mais utilizada para a avaliação deste transtorno em crianças, a qual é apresentada no Manual da Escala para o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.

Referências:

Angold, A., Costelo, E.J. (1998). Three Month prevalence rates for ADHD in the Great  Smoky Mountains Epidemiologic Survey. Personal Communication.(Barbosa, 1995).

Barkley, R.A (2011a). Scale of Attention Deficit Hiperactivity Disorder (BAARS-IV). New York. Guilford Press.

Barkley, R.A (2011b). Scale of Disfuction Executive (BDEFS). New York. Guilford Press.

Barkley, R.A (2011c). Executive Functioning and Self Regulation in Adults with ADHD: Nature, Assessment and Treatment. Orlando, FL. CHADD.

BARKLEY, R.A (2002). Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – Guia Completo para pais, professores e profissionais da saúde. Ed Artmed. RGS. 327 p.

Barkley, R. A. (1997). ADHD and the nature of self-control. New York, NY: The Guilford Press.

Barkley, R.A., Murphy, K.R (2008). Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.Artmed. p. 182.

Barbosa, G.A (1995). Transtornos Hipercinéticos. Infanto-Revista Neuropsiquiátrico da Infância e Adolescência. 3, 2-6.

Benczik, E.B.P (2013). Escala do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – Versão Adolescentes e Adultos. Editora Vetor. São Paulo.

Biederman, J., Faraone , S.V., Spencer, T., Wilens, T, Mick. E., Lapey, K.A. (1994). Gender differences in a sample of adults with attention deficit disorder. Psychiatric Research, 53, 13-29.

Mattos, P., Saboya, E., Kaefer, H., Knijnik, M. P., & Soncini, N. (2003a). Neuropsicologia do TDAH. Em L. A.

Rohde & P. Mattos (Orgs.), Princípios e práticas em TDAH (pp. 63-74). Porto Alegre: Artmed.

Triolo, S.J. & Murphy, K.R. (1996). Attention Déficit Scales for Adults – ADSA. New York:Brunner/Mazel Publishers.

Livro Sucesso em TDAH

Sucesso em TDAH

Em Sucesso em TDAH! Soluções para melhorar a autoestima, a especialista em TDAH, Kerin Bellak-Adams, apresenta um método único e prático para trabalhar com crianças e adolescentes que precisam vencer alguns dos desafios frequentemente encontrados em pessoas diagnosticadas com TDAH.

Desenvolvido para crianças e adolescentes com idades entre 7 e 17 anos, este livro fornece ferramentas motivacionais que ajudam as crianças a viver uma mudança drástica em sua atitude com relação a elas mesmas, ajudando-as a desenvolver novos comportamentos que vão permitir que tenham êxito dentro e fora das escolas.

Exercícios de apoio e planilhas ajudam alunos a dominar o gerenciamento de tempo, melhorar comunicação com pais e professores, desenvolver um senso de responsabilidade por suas ações,aumentar a autodisciplina e descobrir seus próprios talentos que estavam escondidos.

Próximo

Escala de avaliação do transtorno de défict de atenção/hiperatividade

Posts relacionados

Deixe um comentário

Campos obrigatórios. *