por Rafaela Pereira Peixoto de Lima
A obra Fobia e Pânico em Psicanálise apresenta a perspectiva de que as fobias são manifestações inconscientes profundamente conectadas à estrutura total da personalidade. Essa abordagem globalista considera o indivíduo em sua totalidade, integrando corpo e mente. Assim, ao abordar a temática da fobia, identifica-se como forma específica aquelas manifestações que configuram a personalidade fóbica. Nesse contexto, compreende-se que a fobia está interligada à fragilidade do self, este entendido como a representação da pessoa em sua totalidade.
A personalidade fóbica, portanto, está associada à fragilidade do self, especialmente quando a fobia atinge graus significativos de comprometimento no cotidiano do indivíduo. Em contrapartida, a fobia simples, em geral, manifesta-se como um único sintoma, que pode não ter relevância patológica e desaparecer de maneira espontânea à medida que ocorre o fortalecimento do self. Entretanto, a intensificação dos sintomas fóbicos pode levar a personalidade fóbica a níveis significativos de comprometimento psicopatológico.
Como consequência da fragilidade do self, observa-se, em algum nível, a perda de contato com as fontes profundas da vida emocional, afetando partes essenciais do self. Inicialmente, ocorrem rupturas no próprio self, comprometendo o continente interno e o centro de sustentação interna, o que gera carências nas vivências relacionadas ao existir.
A personalidade fóbica, assim, emerge de rupturas – mais ou menos intensas – no continente interno e no centro de sustentação interna. O continente interno é responsável por aglutinar, sintetizar e unificar tanto o continente quanto os conteúdos da personalidade, configurando os núcleos dinâmicos de integração emocional e cognitiva. Ele dimensiona a experiência de existir, diferenciando as vivências entre as realidades interna e externa.
Essas vivências podem ser explicadas pela capacidade de nomear emoções, proporcionando o domínio emocional e a utilização do pensamento. Ao longo do ciclo vital, o continente interno alcança a condição de controle da vida psíquica, sustentando a relação do indivíduo consigo mesmo. Contudo, no caso do fóbico, ele não se apresenta como uma presença capaz de sustentar a si mesmo diante das circunstâncias e exigências impostas pela vivência do existir.
Já em relação ao centro de sustentação interna, por sua vez, refere-se à noção mais profunda que a pessoa tem de si mesma, representando a continuidade de seu ser ao longo do tempo, ou seja, aquilo que a pessoa essencialmente é. Esse centro constitui uma estrutura que reflete as conexões essenciais sobre as quais se fundamentam a afirmação da identidade e o exercício do controle sobre as decisões que direcionam a vida.
Na personalidade fóbica, a angústia surge do enfraquecimento ou da ruptura no contato com o centro de sustentação interna, resultando em um self fragilizado em razão da ausência de conexão e da desvinculação do indivíduo consigo mesmo.
Conclui-se que o sofrimento da personalidade fóbica tem origem no afastamento da autenticidade do indivíduo, acompanhada pela autodesvalorização, pela concessão e pela supressão das funções essenciais do self. Esse processo culmina na impossibilidade de vivenciar plenamente a existência do ser.
Rafaela Pereira Peixoto de Lima
Psicóloga (CRP 23/2530). Graduada pelo Centro Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) e Pós-graduanda em Avaliação Psicológica no IPOG.
Referência
Trinca, W. (1997). Fobia e Pânico em Psicanálise. Vetor Editora.