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Intervenções não-farmacológicas em crianças com TDAH

Uma ilustração conceitual em fundo verde claro mostrando um cérebro antropomorfizado, com braços e pernas, levantando uma barra de peso com anilhas pretas. No chão, ao lado, há halteres e mais anilhas, simbolizando força e esforço mental. A cena sugere a ideia de 'treinar' o cérebro, destacando estratégias de fortalecimento cognitivo.

por Vinícius Figueiredo de Oliveira

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade (APA, 2022). Os prejuízos funcionais podem se manifestar, dentre outras formas, como desorganização, dificuldade de manter o tônus atencional, baixa concentração, falta de persistência, atividade motora excessiva, inquietação, atos precipitados e incapacidade de postergar reforço.

Os sinais mencionados estão relacionados a déficits cognitivos diversos, como na autorregulação, no planejamento, nas funções executivas e na atenção, sendo que cada paciente manifestará comprometimentos distintos a depender do seu quadro, seus desafios diários e suas estratégias de compensação.

Tendo em vista que a manifestação do TDAH é heterogênea, o tipo adequado de intervenção, bem como as respostas obtidas diferem de caso a caso. O tratamento medicamentoso apresenta com frequência resultados promissores, sobretudo os estimulantes, contudo o prognóstico tende a melhorar com a aplicação simultânea de outras intervenções (Mesquita, 2022).

Apesar de se mostrarem promissoras, as intervenções não-farmacológicas são múltiplas e os resultados das pesquisas apontam evidências mistas sobre o potencial de grande parte delas para a reabilitação. O desfecho das estimulações realizadas variam a depender do comprometimento das funções, dos prejuízos diários, do tipo de intervenção aplicada, e da frequência e da duração das sessões de intervenção.

A seguir, exploraremos algumas possibilidades de tratamentos não-farmacológicos para os déficits cognitivos do TDAH, principalmente para as funções executivas, com a ressalva de que a constatação de suas eficácias podem se modificar a depender da pesquisa (Qiu et al., 2023).

Uma das intervenções mais comentadas é o treino cognitivo, que envolve o uso de ferramentas elaboradas para a estimulação de funções cognitivas (Carreiro et al., 2022). Os treinos geralmente possuem uma estrutura sistemática e são compostos por exercícios e atividades que recrutam um ou mais domínios cognitivos.

Espera-se que após algumas semanas ou meses de intervenção, o indivíduo tenha ganhos nas funções estimuladas. Os trabalhos que investigam o efeito do treino cognitivo específico para funções executivas têm apontado maiores benefícios para memória operacional e controle inibitório do que em flexibilidade cognitiva (Qiu et al., 2023).

Outra possibilidade de intervenção que é possível citar é o neurofeedback. Nessa técnica, a atividade neural é mensurada e, posteriormente, convertida geralmente em uma imagem ou som que possa ser apresentado ao paciente. Dessa forma, o indivíduo tem acesso em tempo real aos processos neurais subjacentes à tarefa realizada, mas a atividade neural está convertida em um estímulo mais manejável.

Com isso, é possível que os indivíduos desenvolvam maior controle sobre sua atividade cerebral, sobretudo nas funções comprometidas. O neurofeedback tem apresentado resultado significativo nas intervenções para sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade no TDAH (Arns et al, 2009). No que diz respeito às funções executivas, os benefícios têm se mostrado maiores para o controle inibitório e para memória operacional do que para flexibilidade cognitiva (Qiu et al., 2023).

Uma das intervenções que apresenta maiores ganhos é a prática de exercícios físicos, na qual a estimulação cognitiva pode ser benéfica para diversos transtornos do neurodesenvolvimento (Ribeiro et al., 2020). No que diz respeito às funções executivas do TDAH, a atividade física, no geral, aponta influência positiva para memória operacional, controle inibitório e flexibilidade cognitiva (Qiu et al., 2023).

As 3 intervenções não-farmacológicas mencionadas (treino cognitivo, neurofeedback e exercício físico) são apenas algumas das possibilidades promissoras para a reabilitação do comprometimento cognitivo do TDAH. No entanto, destaca-se que ainda há um grande desafio para traçarmos os melhores tratamentos para déficits específicos.

Esse cenário é agravado pelo fato de muitos trabalhos ainda não terem esclarecido os benefícios ecológicos das práticas de intervenção, ou seja, quais ganhos funcionais o indivíduo apresenta em seu dia a dia. Devido à complexidade e heterogeneidade do TDAH, cabe a nós clínicos a atualização constante a respeito das melhores formas de auxiliar nosso paciente levando em conta os métodos mais sustentados empiricamente.

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Vinícius Figueiredo de Oliveira

Psicólogo, mestre pelo programa de pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisador pelo Laboratório de Psicologia Médica e Neuropsicologia (LAPSIMN – UFMG), professor de psicologia da Faculdade Presbiteriana Gammon.

Referências

Arns, M., Heinrich, H., Ros, T., Rothenberger, A., & Strehl, U. (2015). Neurofeedback in ADHD. Frontiers in human neuroscience, 9, 602.

American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders, fifth edition, text revision. Washington: American Psychiatric Association, 2022.

Carreiro, L. R. R., Micieli, A. P. R., Ribeiro, A. F., Cantieri, C. N., & Rocha, L. B. (2022). Intervenções Cognitivas nas Queixas de Desatenção e Hiperatividade no Contexto Clínico. In: Carreiro, L. R. R., Teixeira, M. C. T. V., & Junior, A. S. A. Transtorno de Déficit Atenção/Hiperatividade na Clínica, na Escola e na Família. (pp. 190-203). Hogrefe.  

Mesquita, E. M. (2022). Intervenções medicamentosas no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade em crianças e adolescentes. In: Carreiro, L. R. R., Teixeira, M. C. T. V., & Junior, A. S. A. Transtorno de Déficit Atenção/Hiperatividade na Clínica, na Escola e na Família. (pp. 172-189). Hogrefe.  

Qiu, H., Liang, X., Wang, P., Zhang, H., & Shum, D. H. (2023). Efficacy of non-pharmacological interventions on executive functions in children and adolescents with ADHD: A systematic review and meta-analysis. Asian Journal of Psychiatry, 103692.

Ribeiro, S. R. O., Fernandes, L. A., Souza, T. A., Godoy, V. P., & Lage, G. M. (2020). Perspectivas de Intervenção Motora da Educação Física nos Transtornos do Desenvolvimento. In. Lage, G. M., & Ribeiro, S. R. O. (Orgs.). Comportamento Motor nos Transtornos do Desenvolvimento (158-184). Editora Ampla.

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