por Letícia Aguilera Leite
O capítulo 6 do livro “Medos e Fobias: Intervenções Cognitivo-Comportamentais na Prática Clínica“, que aborda o medo de agulhas, injeções e sangue, explora a fobia relacionada a esses estímulos e como ela se manifesta, especialmente em contextos de procedimentos médicos. A partir de relatos de pacientes, o capítulo descreve como esse medo se origina e se intensifica, afetando não só crianças, mas também adultos que experienciam reações intensas diante da ameaça de objetos pontiagudos, como agulhas e seringas.
Tipos de medo
O texto faz uma distinção importante entre diferentes tipos de medos relacionados a objetos pontiagudos:
- Aicmofobia: Medo de objetos pontiagudos em geral, como facas, espinhos, lápis, que representam risco de ferimento;
- Tripanofobia: Medo específico de seringas e agulhas, normalmente relacionado a procedimentos médicos, como vacinas ou coleta de sangue;
O medo de agulhas e injeções, embora não tenha um risco direto de ferir a integridade física, é aversivo para muitas pessoas devido à dor e à sensação de violação do corpo, o que ativa uma série de respostas fisiológicas, como aumento da frequência cardíaca e da respiração.
Reações fisiológicas e psicológicas
A ativação do sistema nervoso autônomo (especialmente o sistema simpático) diante do medo de agulhas é descrita como uma resposta de “luta ou fuga”. Esse processo prepara o corpo para enfrentar a situação ameaçadora, aumentando a circulação sanguínea, dilatando as pupilas e acelerando a respiração.
No entanto, no caso de pessoas com tripanofobia, o medo pode evoluir para síncope vasovagal, ou seja, uma perda momentânea da consciência devido à queda da pressão arterial e oxigenação do cérebro, um fenômeno comum entre fóbicos de agulhas.
Além disso, o capítulo destaca o papel da sensibilidade da pele, particularmente em áreas mais vulneráveis a estímulos, como a face interna dos braços e os dedos, que tornam a experiência da picada de uma agulha ainda mais aversiva, intensificando o medo e o desconforto.
Intervenções cognitivo-comportamentais
O tratamento para a fobia de agulhas segue uma abordagem cognitivo-comportamental (TCC), com técnicas de exposição gradual ao objeto fóbico, combinadas com métodos de relaxamento e reestruturação cognitiva. O capítulo detalha a importância de treinamento de relaxamento, parada de pensamentos e distração para ajudar o paciente a enfrentar a ansiedade gerada pelo medo.
A exposição ao objeto fóbico pode ser feita tanto de forma imaginária quanto real (in vivo). No primeiro caso, o paciente é orientado a visualizar a situação temida e a relatar suas percepções, ao mesmo tempo que trabalha para questionar e modificar seus pensamentos automáticos e catastróficos. Por exemplo, no cenário de um exame de sangue, o paciente pode ser guiado a imaginar o momento da coleta e reavaliar a certeza de que a dor será insuportável, usando técnicas de descatastrofização para reduzir a intensidade do medo.
Metodologia de exposição
O processo de exposição ao medo envolve o enfrentamento gradual da situação fóbica, seja de forma imaginária, seja em contato com a realidade. A ideia é criar uma exposição controlada, onde o paciente possa descrever suas reações enquanto realiza o exercício, ajudando a reduzir a reatividade ao longo do tempo.
Estratégias para controle da fobia
O tratamento também inclui a prevenção de respostas disfuncionais, ou seja, técnicas que buscam evitar que o paciente recorra aos comportamentos habituais de esquiva ou fuga, que reforçam a fobia. Isso é alcançado através da exposição repetida ao objeto fóbico, onde o paciente aprende a lidar com a ansiedade de maneira controlada, utilizando as ferramentas de relaxamento, distração e reestruturação cognitiva.
Um dos objetivos centrais da TCC é que o paciente consiga ver a situação de forma mais realista, com menos distorções cognitivas. Por exemplo, ao enfrentar a coleta de sangue, o paciente pode aprender a pensar que a dor será suportável, que os profissionais são competentes e que a experiência é temporária.
Conclusão
O capítulo descreve como o medo de agulhas, embora evolutivamente funcional como um mecanismo de proteção, pode se transformar em uma fobia debilitante. A abordagem cognitivo- comportamental oferece uma série de estratégias para tratar essa fobia, buscando reestruturar os pensamentos irracionais, reduzir as respostas emocionais intensas e, eventualmente, ajudar o paciente a adquirir autonomia para lidar com o medo de forma eficaz, levando-o a acreditar que “é só uma picadinha”.
A utilização de técnicas de exposição, relaxamento e reinterpretação cognitiva ajuda a diminuir a reatividade e permite que o paciente enfrente suas situações temidas de maneira mais tranquila e controlada.
Letícia Aguilera Leite
Psicóloga formada pela Centro Universitário Filadélfia – UniFil (CRP 08/36845). Pós-graduada em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica pelo ,Instituto Libano. Cursando Especialização em Avaliação Neuropsicologica pela Sapiens – Instituto de Psicologia.
Referências
Wisniewski, M. A. D., Wisniewski, M. (2023). Medos de agulhas, injeção e sangue. In: Iamin, S. R. S. (Org.). Medos e Fobias: Intervenções Cognitivo- Comportamentais na Prática Clínica (pp. 65-71). Vetor Editora.