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Medos & Fobias: intervenções cognitivo-comportamentais na prática clínica | Resenha

Capa do livro “Medos & Fobias: intervenções cognitivo-comportamentais na prática clínica”, em tons de cinza, mostrando um menino de roupa social clara oferecendo uma flor amarela à enorme sombra de aspecto monstruoso que se estende à sua frente. O título se destaca em letras brancas e douradas, reforçando o tema de enfrentamento de medos. A cena transmite a ideia de coragem diante de ameaças internas, sugerindo superação e esperança. O selo da Vetor Editora aparece na base, completando a composição visual.

Resenha do Livro Medos & Fobias: intervenções cognitivo-comportamentais na prática clínica, de Solange Regina Signori Iamin e Maurício Wisniewski.

O medo faz parte da história da humanidade. Os eventos que ameaçam a vida colocam a pessoa em suspense e produz uma ansiedade avassaladora na maioria delas. A preservação da vida faz com que a pessoa lute ou fuja dos perigos existentes e um de seus aliados é o medo.

Medo é uma emoção que traz consigo o instinto de proteção. Algumas pessoas sentem medo, outras temor e outras terror. Medo é um estado emocional provocado pela consciência que se tem diante do perigo; é um sentimento de ansiedade sem razão fundamentada.

O temor é o ato ou efeito de temer, de receio, susto, sensação de instabilidade, de ameaça ou de dúvida. O terror é a qualidade ou a particularidade do que é terrível; condição da pessoa que sente pavor. O conjunto – medo – temor – terror – é complexo e mexe com os pensamentos, emoções e comportamentos da maioria das pessoas, porque todos remetem a uma situação de perigo.

Essa percepção de perigo e o medo por ele produzido podem ser reais ou imaginários. O medo poderá ser positivo quando cumpre uma função protetiva sem impedir que a pessoa leve uma vida saudável. Já o medo imaginário é quando a pessoa tem uma preocupação excessiva de perder alguma coisa, alguém ou a própria vida. O medo imaginário faz parte dos sintomas presentes nos transtornos de ansiedade (TA).

De acordo com o DSM-5-TR alguns dos transtornos mentais ansiosos são: transtornos do pânico, agorafobia, transtornos de ansiedade generalizada, fobias específicas, ansiedade social, transtornos de ansiedade de separação e mutismo seletivo. É importante ressaltar que para qualquer tipo de medo ou fobia existe tratamento. Com esse pensar, os organizadores editaram esse livro, para apresentar uma visão panorâmica dos medos e fobias que provocam mudanças em todo o organismo, sendo muitas delas fisiológicas, cognitivas e comportamentais.

Capa do livro Medos e fobiasO livro foi escrito por onze especialistas e está dividido em três partes com 24 capítulos.  A parte 1 – Sobre os Medos, foi escrita por Solange Regina Signori Iamin e Maurício Wisniewski, onde consta a introdução e o primeiro capítulo Ah, os medos! Os autores apontam o objetivo da obra e de como podem ofertar os conceitos, as técnicas e as estratégias terapêuticas da abordagem cognitivo-comportamental (TCC), a qual é considerada eficaz para o autocontrole dos sintomas de ansiedade relacionados aos medos.

O medo é uma emoção que ativa o sistema nervoso autônomo e provoca mudanças em todo o organismo, mudanças fisiológicas, cognitivas e comportamentais. Essas alterações preparam o corpo para lutar, fugir ou paralisar. São várias as causas do medo e sua manifestação fisiológica e cognitiva poderão ser controladas por meio de várias técnicas de respiração e relaxamento, assim como de medicações e técnicas da TCC.

A parte 2, intitulada Os tipos mais comuns de medos – medos relacionados ao ambiente natural, tem início no capítulo 2 – Medo de altura (acrofobia) escrito por Solange Regina Signori Iamin. O medo de altura manifesta-se de maneira diferente se comparado com outras fobias, pois ele não é adquirido por condicionamento ou outros processos de aprendizado e sim, surge por meio de uma via não associativa (origem inata).

Maurício Wisniewski no capítulo 3 – Medos de lugares fechados (claustrofobia) expõe a partir do livro As bruxas de Avalon que a claustrofobia parece ser um dos medos mais recorrentes na sociedade contemporânea.  Mesmo com todas as ferramentas que o homem moderno conseguiu criar nos últimos séculos para tornar os ambientes seguros, ainda que abertos e expostos, o medo de lugares fechados pode ser observado em situações do cotidiano e frequentemente constitui queixas de pacientes que relatam perda de qualidade de vida. O objetivo do tratamento é proporcionar a possibilidade de lidar com o que provoca mal-estar em determinadas situações.

Os capítulos 4 e 5 Medo de tempestades, chuvas, trovões e ventos e o Medo de animais, aves e insetos, respectivamente, foram dissertados por Solange Regina Signori Iamin. A autora relata que o medo de tempestades (brontofobia) também é sentido por pessoas que tem medo de voar de avião, e muitas vezes o tempo com previsão de chuvas fortes é um impeditivo de voo, em função de grande ansiedade.

Pessoas com medo de tempestade apresentam sintomas físicos, como falta de ar, tonturas, náuseas e, sintomas comportamentais, como esconder-se em algum armário, ir para debaixo da mesa, fechar toda a casa, desligar todos os eletrodomésticos, entre outros. Já o medo de animais (zoofobia), insetos (entomofobia), cães (cinofobia), gatos (ailurofobia), aranhas (aracnofobia), ratos (murofobia), borboletas (motefobobia), abelhas (apifobia), pássaros (ornitofobia) ou outros, vem carregado de sintomas físicos, emocionais e comportamentais. O tratamento é realizado a partir da avaliação do paciente e da escolha de técnicas específicas voltadas ao autocontrole da ansiedade.

Medos relacionados a procedimentos na área da saúde foram descritos nos capítulos 6, 7 e 8. Marcos Arthur Dias Wisniewski e Maurício Wisniewski ponderam sobre os medos de agulhas, injeção e sangue. Esses medos são categorizados no DSM-5-TR como uma fobia específica, ou seja, um medo particular.

A acimofobia é o medo de objetos pontiagudos em geral (agulhas, facas, canetas, lápis, espinhos, etc.) que apresentam risco potencial para ferimentos. O Medo de adoecer é descrito por Solange Regina Signori Iamin. O medo de adoecer ou hipocondria é um transtorno psiquiátrico que se caracteriza pela crença de sofrer de uma doença grave e potencialmente fatal ou contrair uma doença grave.

O transtorno hipocondríaco foi modificado no DSM-5-TR e passou a ser chamado de transtorno de ansiedade de doenças. O medo de dentista, tema do oitavo capítulo, Marcos Rogério Pupo Baptista da Silva descreve a odontofobia ou medo e ansiedade que algumas pessoas apresentam perante o tratamento odontológico.

Os medos relacionados aos meios de transportes são descritos nos capítulos 10, 11 e 12. Luciano Mauro de Souza fala do Medo de avião. O autor explana por meio de perguntas e respostas alguns conhecimentos sobre o voar, pois é o meio de transporte mais seguro.

O tema do capítulo 11 é o Medo de dirigir assinado por Solange Regina Signori Iamin e Iuri Pucci Giasson. O medo de dirigir ou amaxofobia está relacionado a um quadro de ansiedade específica e poderá causar desconforto físico (sudorese, dor de estômago, náuseas, tremores, etc.), emocional (medo, angústia, raiva, etc.) ou comportamental (evitação do ato de dirigir, desmaio, choro, entre outros).

Os autores percorrem sobre o processo da concessão da habilitação por meio de perguntas e respostas. Marcelo M. Sorian escreve sobre o Medo de elevador. Ele disserta sobre os tipos de elevadores e apresenta um pequeno histórico, desde o primeiro registro histórico ao século XXI, assim como as engenharias no entorno e dentro dos elevadores e as normas técnicas.

Ao falar de outros medos relacionados a situações específicas, Solange Regina Signori Iamin, dedica o capítulo 13 ao Medo do escuro. A nictofobia é muito comum na infância, pois a criança se imagina em uma situação de ameaça e em perigo durante a noite e pensa que não poderá tolerar.

Com o medo instalado, a pessoa fica ansiosa quando a noite se aproxima. Maria da Penha A. Campos de Almeida Kato se dedica a descrever sobre o medo da morte, no capítulo 14. No momento que nascemos, já começamos a morrer. O tempo de vida de cada um é algo impossível de prever e, quiçá seja uma das grandes angústias do ser humano. No entanto, a busca pela longevidade se faz presente praticamente em todas as sociedades.

No capítulo 15, Medo de engordar, Maurício Wisniewski expõe sobre o homem pós-moderno que criou em si o protótipo da saúde e da beleza para enfrentar as frustrações da vida. A lipofobia parece ter se tornado a neurose coletiva da modernidade. Os transtornos alimentares tornaram-se problemas de saúde pública no Brasil, mesmo com possibilidade de escolha alimentar saudável.

Luciene de Jesus Nery assina o capítulo 16, sobre o Medo da perda. O ser humano sempre buscou em sua trajetória, compreender seus ganhos e suas perdas e, ainda, aprender a lidar com esses sentimentos. Após um período de ressignificação, a pessoa se reestrutura e segue o caminho da existência.

Solange Regina Signori Iamin escreve os capítulos 17 e 18 com os temas Medo de palhaços e Medo de vomitar.  No capítulo 17, relata que os sintomas de coulrofobia (medo de palhaços) estão relacionadas ao medo ou ansiedade acentuada diante de um objeto ou situação, como ver um palhaço.

No DSM-5-TR aponta, que em crianças, esse medo pode ser expressado pelo choro, raiva, irritabilidade, paralisação ou comportamento de apegar-se a quem está próximo. No Medo de vomitar, conhecido como emetofobia, para alguns autores, o início se dá na infância, e pode surgir a partir de experiências traumáticas de vomitar ou ver os outros vomitarem. A sensibilidade em perceber sinais físicos e a dificuldade de lidar com as sensações introspectivas possivelmente também são gatilhos para desencadear a emetofobia.

Medos relacionados ao ambiente social são os temas dos capítulos 19, 20 e 21 escritos por Solange Regina Signori Iamin. No capítulo 19, Medo de falar e de se apresentar em público, a autora registra que a ansiedade social é considerada um transtorno que traz muitos prejuízos a quem sofre e descreve quais os critérios do DSM-5-TR. Treinar a clareza e a objetividade do discurso é o antídoto mais eficaz contra o nervosismo.

O capítulo 20, Medo de ser observado (escrever em público, comer em público). O medo de ser observado é um dos medos que compõem os transtornos de ansiedade social, os outros são: medo de falar em público, medo de interagir socialmente e medo de mostrar sintomas de ansiedade. Medo de ficar sem o celular é o tema do capítulo 21, todo avanço tecnológico é excelente, porém pode trazer também alguns prejuízos para uma parcela importante da população, ocasionando a nomofobia, que é um desconforto ou ansiedade em decorrência da indisponibilidade de um telefone celular.

A terceira parte dedica-se ao tratamento para os medos, Solange Regina Signori Iamin assina os capítulos 22 e 23. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) de Beck e as terapias de terceira onda (contextuais) têm apresentado técnicas eficazes nos tratamentos de medos e fobias. Na TCC o padrão de funcionamento mental está organizado em três níveis, a saber: pensamento automático, crenças intermediárias e crenças centrais. A autora descreve várias técnicas para tratar as emoções.

A terapia de aceitação e compromisso (ACT) tema do capítulo 23, trabalha com o modelo chamado de Hexa-Flex que é uma representação das relações existentes entre os vértices de um hexágono. A ACT propõe que as patologias surgem quando uma pessoa tem inflexibilidade psicológica. A autora descreve detalhadamente cada processo do Hexa-Flex, a saber: disfunção cognitiva, aceitação, contato com o momento presente, eu contexto (observador), valores e ação comprometida.

Para encerrar a obra, Emerson Rodrigues Barbosa aborda, no capítulo 24, sobre Terapia farmacológica: o diagnóstico de fobias e o uso de medicamentos. Geralmente, o medo tem a função de preparar o organismo para lidar com ameaças, permitindo uma resposta rápida e eficaz diante de situações de perigo eminente.

No entanto, o medo pode ser disfuncional, essa característica somada a outros critérios é que ajuda a diferenciar o que é um transtorno – fobia – de um medo normal. Quando for considerado um problema de saúde existem medicamentos para tratar essa condição.

O livro oferece informações importantes sobre o quadro de ansiedade – medos e fobias – e de como essas percepções podem caracterizar e afetar as respostas, sejam elas psicológicas, físicas ou comportamentais, assim como oferece uma variedade de técnicas e estratégias terapêuticas para aprender a controlar os sintomas da ansiedade e vencer os medos.  A obra tem linguagem clara, objetiva, reflexiva e de fácil compreensão. Portanto, é indicada a todas as pessoas que se interessam pelo tema.

Marlene Alves da Silva

Psicóloga clínica, com pós-doutorado em psicologia clínica pela USP. Mestre e doutora em Psicologia com ênfase em avaliação psicológica pela USF. Especialista em Saúde Mental pela UFRJ, especialista em avaliação psicológica e psicologia do trânsito pelo CFP; Diretora da Clínica Fênix e da Orient – Produtos e Soluções em Saúde Mental. professora convidada em cursos de graduação e pós-graduação latu sensu. pesquisadora da área de avaliação psicológica, clínica, trânsito.

Referência

Iamin, S. R. S., Wisniewski, M. (2023).  Medos & fobias: intervenções cognitiva-comportamentais na prática clínica (1ª ed.). Vetor Editora.

Orient Consultoria de Psicologia LTDA

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