Trending News

Blog Post

Dicas de Leitura

As múltiplas faces do Self: uma resenha sobre a arquitetura do self

Capa do livro intitulado "As Múltiplas Faces do Self", de Walter Trinca. A composição apresenta uma sobreposição artística de perfis humanos, sugerindo complexidade e profundidade psicológica. Em destaque, a palavra "Self" aparece em letras grandes e de tom escuro, reforçando o tema central da obra. O design evoca introspecção e o estudo da identidade.

por Letícia Aguilera Leite

O conceito psicológico de self, formulado por Carl Rogers, uma figura proeminente na psicologia humanista, abrange a totalidade da experiência consciente e inconsciente de um indivíduo, englobando suas percepções, emoções e valores. O self é visto como dinâmico e em constante desenvolvimento, sendo influenciado pelas experiências vividas ao longo da vida. Rogers descreve duas facetas principais do self: o “self real” e o “self ideal”. O “self real” refere- se à percepção que uma pessoa tem de si mesma com base em sua experiência atual, enquanto o “self ideal” é a imagem que a pessoa gostaria de ser, seus objetivos e aspirações.

Rogers enfatizou a importância do self na compreensão do comportamento humano e no processo terapêutico. Ele argumentou que a busca pela congruência entre o “self real” e o “self ideal” é essencial para o crescimento pessoal e o bem-estar psicológico (Andrade, 2018).

Capa do livro !As múltiplas faces do self".No livro “As Múltiplas Faces do Self“, o autor Walter Trinca (2016) investiga as interações entre o self e o ser interior, explorando os desdobramentos e implicações dessas relações.

O objetivo é construir um modelo psicanalítico abrangente do fenômeno humano, útil tanto para a sistematização metodológica quanto para a prática clínica. Além disso, a proposta visa resgatar uma visão humanística na qual os indivíduos possam se conhecer, compreender os outros e confrontar a destrutividade, realizando seu potencial pleno (Trinca, 2016).

De acordo com Trinca (2016), o self é um campo variável, composto por diversas partes e constituintes, que permite uma infinidade de ocorrências e alterações. Ele abriga a complexidade dos elementos, fatores, processos e situações que provêm de várias partes da mente e do organismo.

Por estar correlacionado com a natureza e a qualidade dos influxos que recebe, o self é menos um lugar determinado previamente e mais um campo dinâmico onde ocorrem jogos de forças, processos dialéticos e emergências de todo tipo.

O ser interior pode exercer maior ou menor influência e atividade no self, dependendo das forças em jogo, especialmente no confronto entre as forças de vida e as de morte. O self é permeável a múltiplas influências e está sujeito às atividades das pulsões, às pressões dos objetos internos e externos, e aos direcionamentos dados pela predominância de determinados fatores e elementos psíquicos.

Além disso, o self pode ser afetado pela fragilidade e pela sensorialidade, que correspondem a ocupações do self por elementos psíquicos concretos e determinam manifestações emocionais, cognitivas e imagéticas (Trinca, 2016).

O autor discorre que, no estudo da mente, é crucial considerar a multiplicidade de componentes que se depositam no self, muitas vezes sem distinção entre verdadeiros e falsos em relação ao ser interior. O self, quando impregnado de fragilidade ou saturado de sensorialidade, pode distorcer a percepção e o entendimento da realidade, levando a interferências, desvios e perturbações psíquicas.

As emoções desempenham um papel central nessas atividades do self, podendo dominá-lo e torná-lo refém, mesmo quando não estão alinhadas com os fatos. É importante diferenciar entre o self permeado emocionalmente e a verdade existencial do ser interior. Além disso, o self atua como um órgão de comunicação e relacionamento, ligando os sistemas básicos de contato com o mundo externo e interno.

Ele mantém relacionamentos especializados com as pulsões, a energia nervosa, a libido, os objetos internos e outras instâncias psíquicas. A falta de influência do ser interior sobre o self pode levar a uma falta de articulação interna, comunicação e relacionamento organizado, resultando em instabilidade e desequilíbrio nas relações com o tempo, espaço e corpo.

O self funciona em vários níveis, mas sua presença e função são intermediárias, mediadoras e sintetizadoras do que ocorre nas diferentes partes do conjunto somatopsíquico. É essencial que o ser interior exerça influência sobre o self para garantir um funcionamento saudável e confiável. O self é um campo dinâmico onde alguns aspectos predominantes moldam a personalidade ao longo da vida – se a estabilização do self é influenciada pelo ser interior, a personalidade tende a se estruturar de forma coesa.

Por outro lado, se houver falta de consonância entre o self e o ser interior, outras dinâmicas podem afetar a formação da personalidade, resultando em estabilidade precária. Assim, a presença do ser interior no self contribui para uma personalidade mais integrada, destacando que estabilização não é sinônimo de integração (Trinca, 2016).

Dessa forma, o Trinca (2016) busca apontar que o contato com o ser interior é crucial para a estruturação do self, estabelecendo sistemas e subsistemas de organização que promovem a harmonia psíquica. Os centros diretores do self, ativados por esse contato, guiam os processos de estruturação inconsciente e desenvolvimento do indivíduo.

Postula ainda, que a função primordial do self é a consecução da existência, de modo que este venha a operar como um órgão intermediário que proporciona as condições para a instalação, conservação e defesa da vida, tanto interna quanto externamente. Dado a isso, o livro busca trazer uma rica contribuição a respeito dos aspectos do self e dos constructos que o cercam, pontuando considerações a respeito das possibilidades de realizações e de expansão do ser humano.

Avaliar Psicologia

Letícia Aguilera Leites

Psicóloga formada pelo Centro Universitário Filadélfia – UniFil (CRP 08/36845). Pós-graduada em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica pelo Instituto Líbano. Cursando Especialização em Avaliação Neuropsicológica pela Sapiens – Instituto de Psicologia.

Referências

Andrade, S. (2018). Da terapia à mudança terapêutica segundo Rogers. https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?da-terapia-a-mudanca-terapeutica- segundo-rogers&codigo=AOP0474
Brito, R. M. M., Moreira, V. (2011). “Ser o que se é” na psicoterapia de Carl Rogers: um estado ou um processo? (Memorandum, 20, 201-210). http://www.fafich.ufmg.br/memorandum/a20/britomoreira01

Formosinho, J. E. A. (2006). Rogers: Psicoterapia e Subjetividade – Uma Reflexão Crítica. https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/123456789/2927/2/20211587.pdf

Guimarães, A. P. M., Neto, M. C. S. (2015). A formação do self e a dependência afetiva: uma revisão bibliográfica da abordagem centrada na pessoa (Rev. NUFEN v.7, n. 2).http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912015000200004 Trinca, W. (2016). As múltiplas faces do self. Vetor.

Posts relacionados