por Sonia Regina Baptista Cepellos
Composta de 15 capítulos, esta obra é apresentada em duas partes, trazendo, em sua primeira narrativa, os “Cuidados com a saúde física e mental dos aeronautas”, dividida em 10 capítulos, e seguida por 5 capítulos em “Integrando práticas de saúde”, tema de sua segunda parte.
Ao considerarmos os aspectos intrínsecos às suas funções, observa-se que diversos fatores afetam tanto o estado físico como o emocional do piloto, copiloto e comissários de bordo, sendo importante destacar a necessidade em estabelecer o equilíbrio pessoal e profissional, objetivo desta obra que traz informações relevantes ao cuidado e à manutenção de uma vida saudável.
No primeiro capítulo, “Medicina aeroespacial”, Klinger Ricardo Dantas Pinto apresenta os efeitos sofridos pelo ambiente dentro da cabine e como podem ser minimizados, descrevendo o que chama de fisiologia de voo, isto é, as transformações que ocorrem dentro do corpo humano e como prevenir maiores riscos.
Tratando-se que a fisiologia é a ciência que estuda como os organismos, sistemas orgânicos, órgãos, células e biomoléculas executam suas funções químicas e físicas é importante entender como as variáveis pressão do oxigênio, umidade do ar, movimento e vibração dentro da cabine, as variações no sistema circulatório, temperatura entre outras, podem afetar seu funcionamento fisiológico e adotar medidas preventivas a doenças e sequelas.
No que se relaciona a alterações do funcionamento orgânico, o autor destaca a importância em reconhecer sinais ou sintomas auditivos, crises de ansiedade e outras síndromes, além dos danos osteomusculares. Um aspecto muito importante refere-se ao uso de medicamentos, seja em caráter pontual ou continuado, ao que se destacam os efeitos colaterais ou mesmo possíveis alterações em suas reações decorrentes às diversas variáveis descritas. Findando o capítulo, uma descrição sobre a fadiga aérea resultante de uma somatória de fatores operacionais e individuais, sendo tanto física, mental como sensorial.
O capítulo 2, “Avaliação psicológica no contexto da aviação civil”, Cassia Aparecida Rodrigues tem por objetivo destacar a importância da Avaliação Psicológica no contexto da aviação civil em pilotos e comissários de voo, seja em fase inicial ou no decorrer da profissão, em especial à saúde mental e ao autoconhecimento desses profissionais. As variáveis dentro deste contexto implicam constantes mudanças de escalas, tomadas de decisões com alto grau de exigência e responsabilidade não apenas consigo, mas toda tripulação e passageiros.
O capítulo 3, “O Fator humano na aviação”, escrito por Angélica Simone Escabara, descreve o valor do conceito fatores humanos e como este se tornou importante no contexto da aviação, resultado da análise das falhas observadas em novos projetos e investigações de acidentes aéreos. Partindo da definição estabelecida pela International Civil Aviation Organization (ICAO) como sendo “o estudo das capacidades e das limitações oferecidas pelo local de trabalho.
É o estudo da interação humana em suas situações de trabalho e de vida: entre as pessoas e as máquinas e equipamentos utilizados, os procedimentos escritos e verbais, as regras que devem ser seguidas, as condições ambientais ao seu redor e as interações com outras pessoas…” (p. 39) é visível como a preocupação com a interação descrita seja necessária objetivando a segurança.
Nesse capítulo, a autora destaca a relevância dos fatores humanos e em entender essa interação considerando suas capacidades e limitações tanto do ser humano assim como dentro do próprio contexto, tendo como maior desafio estudar e identificar e procurar antecipar possíveis erros humanos ou dos sistemas, a fim de com isso evitar acidentes e tragédias. Como elo mais importante desta relação, o homem é visto como elemento-chave, em que seus fatores internos, físico, fisiológico e psicológico necessitam de constante checagem a fim de manterem o desempenho esperado.
“Saúde mental dos trabalhadores aeronautas: a incidência de afastamentos de pilotos e comissários por transtornos mentais e comportamentais”, título do capítulo 4, apresentado por Mauro Santos Matias, discorre sobre a importância em compreender os fatores que levam ao adoecimento por parte dos aeronautas. Neste capítulo, o autor aborda singularidades quanto aos turnos de trabalho, as inconstâncias do ritmo interno que o organismo sofre, o desgaste de energia, aspectos relevantes ao não funcionamento físico/psicológico adequado, quando em conjunto com as características pessoais e peculiares a cada um.
José Eliezio Rodrigues de Aguiar aborda, no capítulo 5, o “Transtorno depressivo no aeronauta” que, apesar de não ser considerada como uma das maiores causas pela perda da produtividade dentro da população de aeronautas brasileiros, sua prevalência é muito elevada no contexto de trabalho em geral.
Analisada através de sua definição com impactos nos campos biológico, psicológico e social, quando refere ao contexto da aviação subscreve prejuízos cognitivos causadores de lentidão psicomotora, dificuldade de memória, raciocínio e comprometimento na tomada de decisões, funções em destaque ao pleno desempenho dos aeronautas. Um roteiro diagnóstico diferencial é sugerido, alertando a sintomas nem sempre pertinentes ao quadro depressivo, mas que requerem atenção e acompanhamento, descrevendo formulações a respeito do tratamento.
Em “O uso de substâncias psicoativas na aviação”, capítulo 6, produzido por Murilo Forbeci, nos fornece a regulamentação sobre o com trole do uso de substâncias psicoativas, criada em 1944 pela International Civil Aviation Organization (ICAO), composta por mais de 190 países, entre eles o Brasil, acerca da proibição de álcool e outras substâncias psicoativas com exceção do cigarro e café. Destacam-se no capítulo regras específicas sobre o controle de uso de substâncias psicoativas que constam na Regulamentação Brasileira de Homologação Aeronáutica n.91 (RBHA 91).
No capítulo 7, “Superando os sintomas da ansiedade”, Solange Regina Signori aborda os transtornos de ansiedade, sua incidência, sintomas e prejuízos, em que, apesar de não ser a maior incidência pelos afastamentos por doença entre pilotos e comissários, sabe-se que seus sintomas podem surgir repentinamente, provocando incertezas e dúvidas quanto à própria saúde, além de um grande cansaço físico e emocional.
Outro viés observado é sua capacidade de abstrair a atenção e concentração do sujeito, funções primordiais ao pleno desempenho do piloto, razão pela qual identificá-la e tratá-la são de caráter extremo, ao que a autora sugere técnicas de autocontrole.
Para a aviação, os fatores humanos envolvem um complexo de cuidados médicos, pessoais e biológicos, para que o piloto em comunhão a todo o sistema operacional tenha pleno desempenho e segurança. Frente a isso, um dos aspectos relevantes a sua boa saúde está vinculado à alimentação, tema apresentado em “Nutrição funcional para aeronautas”, título do capítulo 8, escrito por Letícia Laveglia Manduca.
Em “Qualidade de vida para aeronautas com atividade física”, capítulo 9, Hélio Luís Camões de Abreu discorre sobre a importância do condicionamento físico como componente dos fatores humanos em aviação. Além dos efeitos paralelos que a ausência de um condicionamento físico possa acarretar ao organismo e a seu pleno funcionamento, como por exemplo o Disparismo, o autor descreve tipos de exercícios físicos e áreas beneficiadas por cada um, objetivando melhorar a capacitação física de maneira a melhor resistir às diversas exigências impostas pela profissão.
Encerrando a primeira parte desta obra, no capítulo 10, “Ser piloto: desafios e possibilidades”, Sady Bordin relata, através de sua experiência de 12 anos como piloto na aviação comercial, sobre sua trajetória desde a preparação para o processo seletivo ao treinamento inicial. Dicas úteis sobre bem-estar, incluindo sono, viagens de deslocamento, alimentação, atividade física e lazer são descritas de forma pessoal, além de observações importantes quanto a situações práticas, como planejamento.
Chegando à segunda parte da obra, o capítulo 11, “A saúde integrativa e complementar”, Ana Claudia Moro Gonçalves apresenta um modelo de como as Práticas Integrativas e Complementares (PICS) podem auxiliar tanto na prevenção, como no tratamento de doenças a que os aeronautas são acometidos, devido aos diversos riscos que o exercício de sua profissão venha a afetá-los.
Definidas como “práticas, enfoques, conhecimentos e crenças sanitárias diversas que incorporam medicina baseada em plantas, animais e/ou minerais, terapias espirituais, técnicas manuais e exercícios aplicados de forma individual ou em combinação para manter o bem-estar, além de tratar, diagnosticar e prevenir enfermidades” (Tesser, 2010) (p. 142) as PICS revelam grande contribuição para a promoção da saúde e qualidade de vida dos aeronautas, destacando algumas práticas como acupuntura, fitoterapia, homeopatia, reiki entre outros.
No capítulo 12, “A homeopatia e suas possibilidades de uso terapêutico por aeronautas”, Luciane Maria Takahashi Kischlat descreve os princípios da Homeopatia, suas aplicabilidades e princípios, ilustrando com alguns exemplos de medicamentos e como administrá-los.
No que refere aos profissionais da aviação, a autora destaca o quão favorável a prática vem em auxílio aos que, em decorrência das diversas variáveis, são acometidos por sintomas ou doenças, encontrando na homeopatia grande alívio e muitas vezes a cura. A autora ressalta, ainda, o quão individualizado é o tratamento, podendo um diagnóstico ser tratado de maneiras diferentes conforme o paciente.
“Antroposofia terapêutica: o cuidado integral do ser” é o título do capítulo 13, pelo qual Angelmar Constantino Roman descreve a antroposofia terapêutica, um sistema de tratamento integrativo que compreende o ser humano de forma sistêmica em todos seus aspectos, físico, emocional, psíquico, espiritual e individualizado e em interação ao meio ambiente. O tratamento terapêutico consiste em detectar e avaliar o desequilíbrio nessa interação e empregar a abordagem adequada à recuperação.
Gilmara Takeda Schimarelli, autora do capítulo 14, “Benefícios da acupuntura no tratamento das emoções”, apresenta-nos uma breve história descritiva dessa prática, listando os oito tipos de técnicas, todas com o mesmo objetivo de restabelecer o fluxo do sangue e de todos os líquidos orgânicos que fluem pelo corpo humano e a harmonia do organismo. Com relação às emoções, a acupuntura vem recebendo destaque por sua eficiência no tratamento de desordens emocionais, partindo de suas teorias sobre a relação das emoções e pensamentos com o funcionamento dos sistemas orgânicos.
No último capítulo, “Importância do desenvolvimento da espiritualidade no autocuidado”, Carlos Eduardo Accioly Durgante discorre na temática de favorecimento ao bem-estar do indivíduo com a prática da religiosidade e espiritualidade, advindo como fonte de alívio para situações de desconforto, trazendo significado à vida e busca pelo autocuidado, independentemente da crença, mas sim pelo que ela traduz ao indivíduo.
Sonia Regina Baptista Cepellos
Psicóloga, formada pela Faculdade de Psicologia, Ciências e Letras São Marcos (SP). É proprietária e diretora da Ômega Livraria & Psicologia Integrada, em Sorocaba /SP.
Referência
Iamin, S. R. S. (Org.) (2020). Saúde a bordo: práticas de cuidado do aeronauta (1ª ed.). Vetor Editora.