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Mulheres Brasileiras Criativas: Contribuições Marcantes do Mundo Feminino – Capítulo 5 | Resenha

A imagem mostra a capa do livro Mulheres Brasileiras Criativas, organizada por Eliana Santos de Farias e Solange Muglia Wechsler. A capa traz um design artístico com silhuetas coloridas de perfis femininos sobrepostos, formando uma composição vibrante e dinâmica. As silhuetas estão preenchidas com cores quentes e figuras humanas em movimento, simbolizando a diversidade, criatividade e força das mulheres brasileiras. Na parte inferior da capa estão os logotipos da Vetor Editora e Giunti Psychometrics.

por Letícia Aguilera Leite

Mulheres Brasileiras Criativas: Contribuições Marcantes do Mundo Feminino – Uma Resenha sobre o Capítulo 5 – Cora Coralina

O capítulo sobre Cora Coralina do livro Mulheres Brasileiras Criativas: Contribuições Marcantes do Mundo Feminino apresenta uma reflexão profunda sobre a trajetória de vida e a obra da escritora, destacando sua criatividade não apenas como escritora, mas como mulher resiliente e inovadora diante das adversidades. A autora é retratada como uma mulher que, ao longo de sua vida, enfrentou desafios imensos, mas que sempre usou sua criatividade para dar a volta por cima, seja na literatura, seja na busca por soluções para questões sociais e comunitárias.

 

História pessoal de Cora Coralina

Capa do Livro "Mulheres brasileiras criativas".Cora Coralina, nascida Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas em 1889, em Goiás, teve uma infância marcada pela convivência com a história e a cultura de sua cidade natal. Criada em uma casa do século XVIII em Goiás, foi nesse ambiente que ela passou a infância e, ainda jovem, desenvolveu uma paixão pela literatura. Com apenas 14 anos, começou sua carreira literária, adotando o pseudônimo de Cora, derivado de “coração”, e, mais tarde, “Coralina”, para dar uma sonoridade mais marcante ao nome.

Sua vida pessoal foi tumultuada, com um casamento fora das convenções sociais da época, o que gerou um distanciamento de sua família. Cora casou-se com Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas e teve seis filhos. Seu marido, divorciado, não era aceito por sua família, e o relacionamento deles foi visto como transgressor, o que causou muitos obstáculos à escritora.

Com a morte do marido em 1934, Cora viu-se forçada a trabalhar para sustentar seus filhos, o que a levou a colaborar com jornais e a vender livros, sendo reconhecida em várias cidades por sua dedicação ao trabalho e ao envolvimento em causas sociais. De volta à sua cidade natal em 1956, ela começou a trabalhar com a produção e venda de doces durante o dia e escrevia  à noite, em uma demonstração clara de sua determinação e paixão pela escrita. Sua vida teve um fim tranquilo, mas longe de ser fácil. Ela morreu em 1985, aos 95 anos, após uma vida de desafios, mas também de realizações literárias e sociais.

 

Criatividade de Cora Coralina

A seção sobre criatividade explora como Cora Coralina exemplifica o conceito de criatividade, adotando a definição de Torrance (1965), que vê a criatividade como um processo de identificação e resolução de problemas, formulando hipóteses e testando soluções.

As características descritas no teste de Torrance são observadas nas obras e na vida de Cora, que se destacou pela fluência (capacidade de gerar ideias e soluções), flexibilidade (olhar para os problemas sob diferentes ângulos), elaboração (dar detalhes e harmonia à suas ideias), originalidade (criar algo novo e raro), expressão da emoção (em sua escrita), fantasia (transformar sonhos em realidade), perspectiva incomum (enfrentar normas sociais com coragem) e uso de analogias/metáforas (na poesia).

 

Fluência e flexibilidade

Cora demonstrava fluência em sua capacidade de produzir muitas soluções criativas para os problemas que enfrentava, como suas propostas para melhorar a situação dos menores abandonados e suas ações para melhorar as condições de vida dos mais pobres. Sua flexibilidade se evidenciava na habilidade de modificar e repensar suas abordagens, como no caso de suas iniciativas para a educação e o empoderamento social.

 

Elaboração e originalidade

A característica da elaboração é visível em várias de suas obras, como no poema “Ipê florido”, onde ela descreve a natureza de maneira rica e detalhada, imbuindo suas palavras de um profundo sentido estético. Já a originalidade de Cora se dá pela sua capacidade de criar um estilo único de escrita, que misturava poesia e prosa de forma inovadora. Ela mesma reconhecia que suas obras eram diferentes das convenções literárias de seu tempo, afirmando que sua “prosa poética” era um precursor do que viria a ser um estilo mais aceito posteriormente.

 

Expressão da emoção e fantasia

A expressão da emoção é um dos aspectos mais marcantes da obra de Cora Coralina. Seus textos são repletos de uma emoção genuína que transparece em todas as suas crônicas, poemas e cartas. Ao falar sobre o envelhecimento, por exemplo, ela transmite uma visão otimista e positiva da vida, mesmo diante das dificuldades que enfrentou ao longo de sua jornada. Seu otimismo e energia vital estão presentes em muitos de seus poemas, como no “Ofertas de Aninha” e “Assim eu vejo a vida”, que falam sobre superação e resiliência.

A fantasia é outra característica marcante de sua escrita, com a transformação de seus próprios sonhos e desafios em obras literárias. Ela começou a escrever poesias desde muito jovem, usando a escrita como uma forma de lidar com as dificuldades da vida, especialmente com os desentendimentos familiares. Sua relação com a literatura sempre foi uma via de escape e de libertação, permitindo-lhe ir além da realidade concreta para o reino da imaginação.

 

Perspectiva incomum e uso de analogias/metáforas

A perspectiva incomum de Cora é evidenciada em sua capacidade de questionar as normas sociais de sua época. Ela não se conformou com o papel esperado para as mulheres no começo do século XX, desafiando as convenções ao casar-se com um homem divorciado e ao assumir sua carreira literária, em um contexto em que as mulheres raramente eram reconhecidas como escritoras. Ela foi uma pioneira na luta pelos direitos das mulheres e na busca por uma igualdade de gênero em uma sociedade predominantemente patriarcal.

O uso de analogias e metáforas em seus textos foi uma forma de expressar suas ideias de maneira mais rica e profunda. Ela usava a natureza, a vida cotidiana e as experiências pessoais como metáforas para descrever suas lutas internas e a realidade social ao seu redor. Seus versos frequentemente remetiam à sua própria trajetória de vida, como quando comparava suas dificuldades com pedras e usava a metáfora da construção de um caminho a partir das dificuldades enfrentadas.

 

Legado e reconhecimento

O capítulo também aborda o reconhecimento que Cora Coralina recebeu em vida e após sua morte. Ela foi condecorada por sua contribuição à literatura e à sociedade, sendo um ícone da literatura goiana e brasileira. Em 1983, tomou posse na Academia Goiana de Letras, e seu discurso de posse refletiu mais uma vez sua capacidade de expressar suas emoções com profundidade. Ela se comparou à terra e às pedras de seu caminho, utilizando uma analogia que resumiu toda a sua trajetória de vida.

Após sua morte, sua memória foi preservada através da criação do Museu Casa de Cora Coralina, que tem como objetivo divulgar e preservar sua obra e seu legado. Através deste museu, a história de Cora continua a ser lembrada e celebrada, destacando sua contribuição única para a literatura brasileira e sua incansável luta por justiça e igualdade.

 

Conclusão

Em síntese, o capítulo do livro explora a figura de Cora Coralina como um exemplo de mulher criativa que, ao longo de sua vida, soube transcender as adversidades e construir um legado literário e social significativo.

Sua obra é um reflexo de sua capacidade criativa, que se manifestou tanto na escrita quanto na ação, e que, ao longo dos anos, desafiou normas sociais e deixou uma marca indelével na história da literatura brasileira. Ela não apenas escreveu sobre sua vida e sua realidade, mas também transformou suas experiências e seus sonhos em uma obra poética que continua a inspirar gerações.

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Letícia Aguilera Leite

Psicóloga formada pela Centro Universitário Filadélfia – UniFil (CRP 08/36845). Pós-graduada em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica pelo ,Instituto Libano. Cursando Especialização em Avaliação Neuropsicologica pela Sapiens – Instituto de Psicologia.

Referências

Reis, V. L., Belancieri, M. F., Capellini, V. L. M. F. (2024). Cora Coralina. In: Farias, E. S. (Org.). Mulheres Brasileiras Criativas: Contribuições Marcantes do Mundo Feminino (pp.73-85). Vetor Editora.

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