
por Marcos Costa Martinelle
Enquanto psicólogo e especialista em sexualidade, é comum ouvir relatos de pacientes dizendo que não falam sobre sexo/sexualidade com seus terapeutas. Apesar de a terapia ser um espaço de confidencialidade, muitas pessoas carregam a ideia de que o sexo é outra parte da nossa vida, devendo ser tratada apenas em nossa individualidade.
Entretanto, a sexualidade é um dos pilares da qualidade de vida, ou seja, algo que nos atravessa como qualquer outra área, influenciando emoções, sentimentos, pensamentos e comportamentos e sendo influenciada por eles.
Muitas vezes, na faculdade e até nos estudos independentes, não nos aprofundamos no tema ou não damos a ele a devida relevância. Em minha experiência, relatos de “eu não sabia como reagir”, “fiquei constrangido de falar porque ela nunca perguntou nada” são bem comuns.
É importante ressaltar que o gênero, a idade e a orientação sexual são fatores que influenciam na fala ou não fala dos pacientes sobre o tema, além de como os profissionais reagem. No entanto, com um bom acolhimento e planejamento, é possível construir essa abertura, é o que muitos pacientes esperam que ocorra, e para isso existem algumas maneiras de abordar o assunto durante as sessões.
O modelo PLISSIT (Permission, Limited information, Specific Suggestion, Intensive Therapy), de acordo com Annon (1976), aborda uma dessas propostas, que ocorre em etapas, e propõe uma abertura para falar sobre sexo/sexualidade. Traduzindo para o português, essa sigla pode ser entendida como “Permissão, Informação limitada, Sugestão específica e Terapia intensiva”.
Começamos pela permissão, que seria focar em acolher e, principalmente, validar a queixa ou a possível manifestação do interesse do paciente sobre esse assunto. Após essa fase inicial, podemos considerar que a informação limitada é justamente quando seu conhecimento prévio entra em ação: psicoeducar é uma ótima intervenção, aqui você valida o que preocupa o paciente, elabora com ele sua dificuldade.
Quando se trata das sugestões específicas, falamos sobre a continuidade da informação, mas aqui entendemos que essas sugestões precisam estar de acordo com a queixa do paciente e todo seu histórico de tentativas de resolução, e essas tentativas podem coincidir com o repertório do terapeuta, limitando sua intervenção. Assim, em algum momento, você pode perceber que não consegue seguir com a demanda ou não teve um feedback positivo nessas etapas, então, entra em ação a terapia intensiva, ou seja, a terapia sexual feita por psicólogos, médicos, fisioterapeutas e enfermeiros, especialistas em sexualidade.
A etapa final do PLISSIT, a terapia intensiva, acontece quando, de alguma forma, não houve resultados nas etapas anteriores. Esse encaminhamento está relacionado a uma conduta ética, principalmente quando a demanda do paciente ultrapassa nosso conhecimento sobre o tema, o que também não impede a continuidade do processo terapêutico, ao passo que as demandas/queixas sobre sexo/sexualidade acontecem em terapia sexual.
Compreendo que a maneira mais eficaz de abordar e entender a sexualidade em terapia é por meio de uma comunicação aberta e empática. Neste momento você pode pensar, “mas eu já faço isso”, sim, nossa profissão tem como princípio essas características, porém, quando lidamos com a sexualidade ou o sexo, somos expostos a diversos valores e regras, e essas demandas podem surgir nesse contexto. Em sexologia, buscamos entender que a cada tempo a sexualidade se mostra de maneira diferente, sem patologizar pensamentos e comportamentos, pois trabalhamos com fantasias, erotização, desejo, fisiologia etc. Já vivemos demais as repressões da sociedade; vivenciá-las novamente dentro do processo terapêutico não é o melhor caminho.

Marcos Costa Martinelle
Psicólogo (CRP/14-08530-9) e sexólogo. Especialista em Psicologia Clínica e Sexualidade Humana. Atua como psicólogo clínico, terapeuta de casais, terapia sexual e professor do curso de Psicologia da AEMS/MS. Produtor de conteúdo digital sobre sexualidade nas redes sociais (@marcoscmartinelle)
Referência
ANNON, J. S. (1976). O modelo PLISSIT: um esquema conceitual proposto para o tratamento comportamental de problemas sexuais. Journal Of Sex Education and Therapy, 2, 1-15.

