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Maio Amarelo, Segurança no Trânsito, Saúde mental e o Medo de Dirigir

por Yone Xavier Felipe da Fonseca

Instrutor de autoescola em um carro sentado no banco do carona e com expressão de desespero, tentando retomar o controle do carro da condutora, que está com as mãos para o auto e com expressão de pânico.

Maio Amarelo é um movimento internacional de conscientização à redução de acidentes de trânsito. Tem como objetivo chamar a atenção das pessoas sobre a necessidade do cuidado e de “salvar vidas no trânsito”.

A cor amarela no trânsito simboliza atenção, sinalização e advertência. Nessa direção, queremos ressaltar o papel da saúde mental nesse contexto.

Nos dias atuais, cada vez mais observamos que as pessoas estão adoecendo psiquicamente, apresentando altos índices de ansiedade, estresse e transtorno explosivo intermitente caracterizado por explosões de agressividade recorrentes, que podem ser verbais ou físicas, e tem ocorrido no trânsito com certa frequência.

A ansiedade é caracterizada pelo excesso de preocupações, medo, reações fisiológicas intensas que vem a agravar a qualidade de vida das pessoas e do trânsito, visto que as pessoas acabam dirigindo de modo estressante e imprudente.

Na contramão desse estresse e constante desrespeito que muitas vezes acontecem no dia a dia das pessoas que dirigem nas grandes cidades, temos as pessoas que tem medo de dirigir, também chamado de amaxofobia, que ao contrário do que se imagina no senso comum são pessoas habilitadas que, em sua maioria, nunca vivenciaram uma experiência traumática no trânsito.

No livro Medo de dirigir- Terapia Cognitivo-Comportamental no Tratamento da Fobia de Trânsito, descrevemos as aplicações práticas das técnicas cognitivas e comportamentais e a experiência de atuação de um centro de treinamento especializado no atendimento de condutores habilitados com fobias de trânsito. Foram sistematizados os procedimentos usados para os atendimentos psicológicos, os tipos de pensamentos automáticos e as crenças disfuncionais apresentados pelas pessoas que procuravam a instituição (Fonseca, Süffert, 2013).

Em uma busca bibliográfica mais atual, encontramos um estudo que teve como objetivo conhecer e analisar os fatores que influenciam mulheres habilitadas que apresentavam medo de dirigir, mesmo não tendo vivenciado experiências traumáticas no trânsito (Klein, Trenhago, 2014).

As autoras encontraram um perfil psicológico caracterizado por excesso de cobranças, insegurança, ansiedade, dependência e uma certa comodidade com a situação (é comum pessoas encontrarem motivos para se esquivarem da situação de dirigir). A crença central relacionada ao desamparo foi a mais presente e estava relacionada a sentimentos de fracasso, incapacidade, inadequação e vulnerabilidade que impedem muitas mulheres de enfrentarem seus medos. Havia também uma visão distorcida sobre o carro, sendo considerado algo ameaçador e perigoso.

A exposição é umas das principais estratégias para tratar medos e fobias específicas, pode ser feita de modo imaginário ou in vivo por meio de um contato direto com o estímulo aversivo. No caso do medo de dirigir existe uma intervenção intermediária que é realizada pela Terapia de Exposição por Realidade Virtual (VERT). A VERT tem como vantagem que treinamento será feito por simulação (por uso da tecnologia).

A paciente enfrentará seu medo em um ambiente controlado e seguro, onde o terapeuta poderá definir cenários, seguindo a hierarquia mais indicada para o processo de dessensibilização. A desvantagem diz respeito ao acesso, pois esse tratamento tem custo alto (Borloti et all, 2016; Santos, Martins, Mognon, 2017).

A Terapia da Aceitação e Compromisso (ACT) tem como pressuposto a aceitação das experiências privadas indesejadas que geralmente estão fora do controle pessoal, buscando facilitar uma ação compromissada do cliente (Caramelli, et al, 2022). A exposição facilitará o aumento da flexibilidade psicológica adquirida pela atenção plena, uma capacidade de ser manter no momento presente o que ajuda na aquisição e aplicação de estratégias de enfrentamento.

Ao se manter em contato com o momento presente a pessoa terá consciência da experiência, de seus pensamentos e suas reações fisiológicas indesejados. Para a ACT, existe uma fusão entre o eu e as sensações desagradáveis, sendo necessário o processo de desfusão cognitiva, que consiste no envolvimento da pessoa com os pensamentos indesejados de uma maneira independente como se estivesse observando de fora – ao invés de pensar “eu sou medrosa ou incapaz”, a pessoa diria a si mesma “eu estou tendo um pensamento que eu sou medrosa, que eu sou incapaz”. Isso ajudaria a pessoa a se sentir melhor mesmo com ansiedade e contribuiria com a diminuição do processo de esquiva (Borloti, Fornazari, Haydu, B, Haydu, V., 2014).

O cuidado com pessoas que desenvolvem o medo de dirigir envolve uma avaliação criteriosa para identificar a existência de comorbidades como um quadro de depressão ou fobia social. Retomando a ideia do cuidado com a saúde mental das pessoas que são responsáveis por promover um trânsito mais seguro, temos a aplicação das técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental associadas ao mindfulness (atenção plena).

O processo é desenvolvido por um programa de oito semanas que ajuda as pessoas com ansiedade a tomarem consciência da ruminação de pensamentos, ajudando-as a saírem do círculo vicioso do piloto automático, tornando-as mais consciente do momento presente e da própria respiração (Barros, Dermazo, Oliveira, 2015).

A prática da meditação e/ou mindfulness ajuda muito em relação ao controle das reações fisiológicas, principalmente da frequência cardíaca (FC) em pacientes com transtornos de ansiedade. Pesquisadores brasileiros relataram que a observação da FC está começando a emergir como um potencial biomarcador de eficácia da TCC nos transtornos de ansiedade (Arbol et all, 2015).

A ruminação de pensamentos em pacientes ansiosos também está muito associada ao excesso de autocrítica e falta de autocompaixão. Uma técnica muito boa da Terapia Focada na Compaixão é o desenvolvimento da mente compassiva que envolve a prática do acolhimento; empatia; não julgamento e tolerância ao mal-estar. (Matsumoto e Vogel , 2015, Krieger et al, 2019).

Por outro lado, um ponto que pode ser trabalhado com as pessoas que tem medo é a existência de um aspecto positivo da ansiedade, a percepção de quais características da ansiedade que podem ser canalizadas para o enfrentamento das adversidades, destacando seu potencial adaptativo.

Nessa direção, a psicoterapia positiva pode ajudar possibilitando que a pessoa conheça suas forças e virtudes e aplique-as de modo mais funcional. Por exemplo, no Transtorno de Ansiedade Generalizada há uma falta de perspectiva e espontaneidade ao passo que nas fobias específicas há falta de coragem e criatividade.

Durante o processo psicoterápico, a pessoa irá aprender a desenvolver e gerenciar suas forças identificando quando estas estão em falta ou sendo usadas em excesso, bem como trabalhar com as emoções positivas e o desenvolvimento de relacionamentos positivos, buscando engajamento e sentido para sua vida de maneira a saborear as suas realizações (Rashid, Seligman, 2019).

Capa do livro Medo de Dirigir, de Yone Xavier Felipe da Fonseca Conheça a obra da autora Yone Xavier Felipe da Fonseca:

Medo de Dirigir

Acesse aqui.

Este livro apresenta as aplicações práticas da terapia cognitivo- comportamental no tratamento do medo de dirigir, voltadas a psicólogos que trabalham em consultórios particulares e/ou instituições(centros de treinamentos). As principais técnicas comportamentais e cognitivas são descritas com detalhes e ilustradas com casos, o uso de meditação e a análise do depoimento de uma pessoa que superou a fobia de trânsito.

Uma considerável parcela da população de motoristas embora possuam a carteira nacional de habilitação, não se sente em condições de enfrentar o trânsito nos grandes centros urbanos. O objetivo é apresentar o modelo de avaliação diagnóstica, as principais técnicas cognitivas e comportamentais – mais indicadas por promover resultados eficazes, e o uso da meditação como coadjuvante no processo psicoterápico de tratamento da fobia de trânsito. O livro é indicado para psicólogos, psiquiatras e pessoas interessadas pelo tema.

Os principais pensamentos automáticos, crenças disfuncionais e análise funcional do problema foram descritos, assim como estratégias que podem auxiliar no desenvolvimento do repertório comportamental, ajudando o paciente a ser mais flexível em seus esquemas de funcionamento.

Referências

Arbol, J., Coutinho, E.S., Figueira, I., Gonçalves, R., Novaes, F. Rodrigues, H., Ventura, P., Volchan, E.  (2015). Listening to the heart: A meta-analysis of cognitive behavior therapy impact on the heart rate of patients with anxiety disorders. Journal of Affective Disorders. 1;172:231-40. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0165032714006223?via%3Dihub

Borloti, E, Fornazari, S., Haydu, N. B, Haydu, V. B., A. (2014).  Facetas da Exposição In Vivo e por Realidade Virtual na Intervenção Psicológica no Medo de Dirigir Psico, (45(2), pp. 136–146). Psico. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2014.2.11442

Borloti, E., de Paula, M. B., dos Santos, A, Fornazari, S A, Haydu, V., Zacarin, M. R. J. (2016). Terapia por meio de exposição à realidade virtual para medo e fobia de dirigir: uma revisão da literatura. Avances en Psicología Latinoamericana, 34(1), 67-81. https://doi.org/10.12804/apl34.1.2016.05.

Barros, V. V, Dermazo, M. M. P; Oliveira, M. B.  Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness. In: Gouveia, J. P., Oliveira, M. S., Santos, P. L. (2015). (orgs) Terapias comportamentais de terceira geração: Guia para profissionais. Editora Sinopsys.

Caramelli, P., Ferreira, M. G., Kishita, N, Mariano, L. I., Rezende, J. V. (2022). Effects of group Acceptance and Commitment Therapy (ACT) on anxiety and depressive symptoms in adults: A meta-analysis. Journal of Affective Disorders. 15;309:297-308. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0165032722004785?via%3Dihub

Fonseca, Y. X. F., Süffert, C. L. C. (2013). Medo de dirigir – Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento da fobia de trânsito. Vetor Editora.

Klein, A. M. Trenhago, J. (2014). Mulheres com medo de dirigir: um olhar além das aparências. Seminário De Iniciação Científica E Seminário Integrado De Ensino, Pesquisa E Extensão. https://periodicos.unoesc.edu.br/siepe/article/view/5685

Krieger, T., Reber, F., von Glutz, B., Urech, A., Moser, C. T., Schulz, A., Berger, T. (2019). An Internet-Based Compassion-Focused Intervention for Increased Self-Criticism: A Randomized Controlled Trial. Behavior Therapy. 50(2):430-445. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0005789418301060?via%3Dihub

Martins, S. C. Mognon, J. F. Santos, A. Ap. A. dos (2017). Avaliação e intervenção para o medo e fobia de dirigir: revisão da literatura. Contextos Clínicos, 10(1), 85-98. https://dx.doi.org/10.4013/ctc.2017.101.07

Matsumoto, L. S. e Vogel, K. (2015). Terapia Focada na Compaixão. In: Gouveia, J. P., Oliveira, M. S., Santos, P. L. (2015). (orgs) Terapias comportamentais de terceira geração: Guia para profissionais. Editora Sinopsys.

Rashid, T., Seligman, M. (2019). Psicoterapia Positiva: Manual do Terapeuta. Artmed.

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