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Inteligência: O que é exatamente?

por, Fernando Pessotto.

Garoto sentado com cotovelo esquerdo apoiado sobre a mesa e o dedo indicador apoiando a lateral da cabeça, sem segundo plano uma lousa com dizeres escritos, no primeiro plano, um porta lápis, livros empilhados e um livro aberto.

Um pouco de história

A busca pela compreensão acerca da inteligência não é de hoje, sendo um dos temas mais antigos estudados por psicólogos e outros profissionais. Sua importância é tão grande que a busca por sua definição se confunde com a origem da psicometria, área da psicologia com foco no desenvolvimento de testes para mensuração de fenômenos psicológicos.

O início desta busca, data de 1869, com Francis Galton, que, influenciado pela época e corrente de pensamento de seu primo Charles Darwin, buscava mensurar diferentes habilidades das pessoas e como elas estariam relacionadas, além de se interessar em como elas poderiam ser passadas entre as gerações.

Dentre algumas habilidades que estudou, estão a sensibilidade a estímulos visuais auditivos e cinestésicos. Tendo inventado a análise de correlação e trabalhado o conceito de tendência à média, Galton influenciou significativamente o estudo acerca da inteligência.

James Mackeen Cattell, tendo por base os estudos de Galton, buscou relacionar estas habilidades ao desempenho acadêmico de universitários. Alfred Binet, ampliou o conceito para habilidades que não estavam ligadas apenas aos órgãos dos sentidos, investigando crianças com dificuldade de aprendizagem na França, criando, junto com Thodosius Simon, o primeiro teste para avaliação cognitiva, a Escala Binet-Simon.

Esta escala é considerada um marco quando se propõe a indicar a idade mental da criança (termo utilizado na época). Assim, William Stern, ao utilizar a escala na Alemanha, acaba por compreender que poderia existir uma relação entre a idade mental e a cronológica, projetando que Quociente de Inteligência, QI de Razão, justamente por ser a razão entre idade mental e cronológica.

Um grande expoente nesta história é Charles Spearman, quando, utilizando de métodos estatísticos chega à conclusão de que, embora existissem diferentes habilidades (fatores específicos), toda a atividade intelectual poderia se exprimir num único fator, o Fator Geral de Inteligência.

Posteriormente, Raymond Cattel, ampliando esse conceito, apresenta a teoria Bi-Fatorial, em que a inteligência se apresentava dividida em dois grandes eixos sendo, Inteligência Fluida (Gf), responsável pelo raciocínio lógico e a Inteligência Cristalizada (Gc), responsável pela abrangência e profundidade de conhecimentos adquiridas em uma determinada cultura.

Em resumo, a Inteligência Fluida empregada deve gerar novos conhecimentos, ou seja, Inteligência Cristalizada e desta forma a aprendizagem ocorre, no que ele denominou, Teoria do Investimento.

Horn, aluno de Cattel, deu seguimento a seus estudos. Posteriormente, Carrol realiza uma análise dos últimos 60 anos de estudo da inteligência, chega à conclusão de que existe uma hierarquia dos processos cognitivos. Recentemente, em 1998, McGrew e Flanagan, empregando análise fatorial em diferentes modelos cognitivos, concebem o Modelo Cattel-Horn-Carrol (CHC) das Habilidades Cognitivas. Por seu grande respaldo científico, teve grande aceitação e até hoje é o modelo cognitivo mais estudado.

Portanto, com o acréscimo de elementos culturais na estrutura cognitiva, é possível compreender que inteligência não é uma habilidade restrita para responder testes ou realizar cálculos, mas, em sua definição ampla, está ligada à capacidade geral de adaptação do indivíduo.

 

O Modelo CHC das Habilidades Cognitivas

Capa do Livro, os processos cognitivos, por Luiz Pasquali.O Modelo CHC é uma forma de organizar os processos cognitivos, apresentando uma estrutura em pirâmide de três níveis, chamados de estratos e multidimensional, ou seja, num mesmo estrato podem existir diferentes habilidades.

Na base da pirâmide estão mais de 90 habilidades específicas que são agrupadas por semelhança em sua utilização, como habilidades ligadas ao raciocínio não verbal, habilidades ligadas a estímulos sonoros, habilidades ligadas às habilidades cinestésicas, entre outras.

No estrato II, estão 16 fatores amplos de inteligência que, na verdade, são os agrupamentos do estrato I. Neste segundo nível, estão, dentre outros, a Inteligência Fluida (Gf) e Inteligência Cristalizada (Gc) como elementos-chave da cognição. Por fim, no topo da pirâmide, no estrato III está o Fator Geral de Inteligência, indicando que todas as habilidades anteriores funcionam de forma integrada.

A Inteligência Fluida (Gf) compreende raciocinar em situações novas que não podem ser executadas automaticamente. É a capacidade de relacionar ideias, induzir conceitos abstratos, compreender implicações, reorganizar informações, apreender e aplicar relações, envolvendo principalmente informações não verbais.

A Inteligência Cristalizada (Gc) é a habilidade de extensão e profundidade dos conhecimentos adquiridos numa determinada cultura e sua consequente aplicação no quotidiano. Associa-se ainda à capacidade de raciocínio adquirida pelo investimento geral do raciocínio em experiências de aprendizagem e conhecimentos da linguagem.

 

O Modelo CHC e a prática em avaliação psicológica

E como este modelo pode auxiliar na compreensão e avaliação da inteligência? Compreender a estrutura cognitiva pode auxiliar em localizar as dificuldades, ou ainda, o perfil cognitivo de uma pessoa.

Por exemplo, ao processar uma nova informação, que até então o sujeito não tinha, ele deverá aplicar sua inteligência fluida para criar relações com conteúdos previamente aprendidos, ou ainda, criar um novo conceito. Assim, o emprego da inteligência fluida acaba por gerar conteúdo, conhecimento (inteligência cristalizada). À medida que vão acontecendo interações entre outros conteúdos, o que foi previamente aprendido será utilizado como base.

Quando uma criança está com alguma dificuldade de aprendizagem, um dos caminhos é compreender qual processo, predominantemente, é deficitário.

Se a dificuldade está na memorização ou reutilização de conceitos, pode indicar que a criança está aprendendo, mas existe dificuldade na retenção (cristalização) da informação. Se, por outro lado, a dificuldade é em compreender conceitos, aplicar relações em novas situações, a dificuldade parece estar concentrada no processamento da informação (inteligência fluida).

Desse modo, quando se compreende a forma em que o sujeito estrutura a informação quando esta é captada pelos órgãos dos sentidos, é possível, mais do que verificar seu “nível de inteligência”, traçar um perfil cognitivo de como a informação é apreendida e utilizada.

Concluindo, a inteligência não deve ser concebida por um sistema pré-determinado, sem considerar elementos históricos, sociais e biológicos. A capacidade em que o indivíduo tem em utilizar as informações disponíveis a seu favor, desenvolvimento e crescimento, será sua capacidade de adaptação e, consequentemente, sua capacidade cognitiva.

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