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Por que é difícil fazer escolhas?

por Larissa Schutte Vidotti – Psicóloga e Mestre pela USP de Ribeirão Preto.

Mulher com a mão na cabeça e expressão de dúvida. Em volta dela estão diversos pontos de interrogação em fontes variadas

“E agora? Vou prestar o quê?”; “Perdi meu emprego durante a pandemia… O que mais eu poderia fazer?”; “Meu trabalho me consome muito… Gostaria de trocar de área, mas não tenho coragem no momento”; “Como vai ser a minha vida depois da aposentadoria?”; “Não aguento mais este trabalho”.

A maioria das pessoas que está lendo este artigo, agora, provavelmente já ouviu ou verbalizou algumas destas frases. E o que elas têm em comum? Todas falam sobre escolhas que temos que fazer em algum momento de nossas vidas. E, muitas vezes, a dificuldade reside justamente neste processo: como escolhemos?

De maneira geral, nós, brasileiros, não somos educados para escolher. Em uma cultura majoritariamente adultocêntrica, crianças não tem poder de escolha. Nem mesmo os adolescentes ou, ainda, os idosos. Nos anos escolares, usamos uniformes, as matérias são estipuladas pela grade curricular (vale lembrar da atual transição para o Novo Ensino Médio, na tentativa de oferecer mais autonomia aos jovens), tem-se a hora de ouvir e de falar.

Durante a adolescência, os indivíduos carregam a má fama de estarem vivenciando a fase mais complexa e difícil do ciclo vital, ou seja, pouco sabem o que querem. Na velhice, resta aos idosos uma participação pouco ativa na sociedade, já que, provavelmente, estão cansados.

Considerando o exposto acima, resta pensar que adultos conseguem escolher de forma tranquila. Também não. Oras, se falta autonomia e independência para tomar decisões na infância e adolescência, como chegar à fase adulta seguro de suas escolhas? No que é importante pensar frente a uma decisão?

A verdade é que estamos escolhendo do momento em que acordamos ao momento em que vamos dormir. Os processos de tomada de decisão acontecem o tempo todo. Entretanto, algumas escolhas parecem mais relevantes do que outras como, por exemplo, a escolha da profissão, casar-se ou não, ter ou não filhos, comprar ou não a casa própria etc.

Na realidade, determinadas decisões podem trazer impactos a curto, médio e longo prazo. Podem trazer consequências positivas, negativas ou neutras. O fato é que, se não aprendemos a tomar consciência e a refletir acerca das escolhas cujo impacto é imediato e, teoricamente, neutro, todo o restante do processo pode ficar comprometido.

Neste sentido, o campo da Orientação Profissional e de Carreira (e também para a Aposentadoria) pode auxiliar o indivíduo a pensar sobre os critérios e aspectos envolvendo suas decisões, tornando estas escolhas mais pessoais e responsáveis. Este processo acompanha todo o ciclo vital e não deveria ser uma intervenção majoritariamente presente no 3º ano do Ensino Médio (escolha para o vestibular).

Em cada fase do desenvolvimento diversas escolhas são importantes. Pensamos que somos livres para escolher, mas somos bombardeados por diversas fontes de influência que podem variar durante a vida.

Tal influência pode partir do núcleo familiar ou da família mais extensa, do grupo de pares – especialmente na adolescência, das instituições de ensino, do mercado de trabalho, das mídias sociais e da sociedade como um todo, por exemplo. E, neste contexto, torna-se relevante reconhecer qual ou quais influências estão presentes em nossas decisões.

Considerando a complexidade destes fenômenos, não há como excluir a influência da pandemia (COVID-19), provocando uma gigantesca revolução nas mais diversas esferas do cotidiano. Algumas mudanças mais tímidas que acompanhavam o mercado de trabalho e o campo das profissões foram atropeladas pelas medidas preventivas de contenção do vírus.

O home office e o ensino remoto trouxeram transformações significativas que provocaram rupturas e novas formas de aprender e de exercer o trabalho.

Este novo cenário intensificou a instabilidade e a imprevisibilidade diante dos inúmeros desafios enfrentados pela população desde 2020.

Todas as incertezas trazidas pela pandemia passaram a exigir do profissional – e dos alunos de Graduação e, consequentemente, do Ensino Médio, em um efeito cascata – a capacidade de desenvolver comportamentos e atitudes de flexibilidade e adaptabilidade para que fosse possível se ajustar frente à tantas mudanças acontecendo constantemente em todas as esferas da vida.

Atualmente, a maior inserção da Orientação Profissional nas escolas vai ao encontro da demanda trazida pela elevada taxa de evasão no Ensino Superior e, ainda, com a insatisfação de muitos trabalhadores, seja pelo excesso de trabalho ou pela infelicidade no tocante à carreira exercida.

Essa proposta, em convergência com os trabalhos em Projetos de Vida, auxiliam o indivíduo, desde muito jovem, a pensar acerca de QUEM ele quer ser, e não apenas O QUE ele quer se tornar. Tal perspectiva favorece tomadas de decisões que envolvem a relação do sujeito consigo próprio, na interação com o outro e com a sociedade na qual está inserido, considerando os impactos e atravessamentos de suas ações na comunidade e vice-versa.

A partir do exposto acima, a Orientação Profissional e de Carreira pode assumir caráter preventivo e de promoção da qualidade de vida, podendo proporcionar ao indivíduo a oportunidade de realizar escolhas mais assertivas relacionadas ao seu futuro profissional que impactam diretamente em outras áreas da vida, por meio da promoção do autoconhecimento, identificação das fontes de influências, reconhecimento de suas potencialidades, discussões sobre mercado de trabalho e contextos de atuação, carreiras e universidades, bem como desenvolver habilidades para enfrentar um mundo em constante transição à partir das transformações trazidas, principalmente, pela COVID-19.

Larissa Schutte Vidotti

Psicóloga clínica (CRP 06/99429) e Orientadora profissional e de carreira Mestre pela USP de Ribeirão Preto Docente universitária Coordenadora do Programa de Aprimoramento Profissional e de Carreira do Centro Universitário de Rio Preto (Unirp) Orientadora profissional no Colégio Agostiniano São José (São José do Rio Preto/SP) Supervisora clínica.

REFERÊNCIAS

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RIBEIRO, M.A.; MELO-SILVA, L.L [et al.]. Compêndio de Orientação Profissional e de Carreira,  volume 2: enfoques teóricos contemporâneos e modelos de intervenção. 1. ed – São Paulo: Vetor, 2011.

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1 Comment

  1. NAIDE vidotti

    Excelente explanacao trazida pela psicologa Larissa Shutte Vidotti, q nos nos faz refletir e entender a necessidade que todos temos para decidimos os caminhos a ascolher. Isso acentua ainda msis a importancia de um aconselhamento profissional q nos auxilie nestas questoes. A psicologia atual nesta area como coadjuvante no processo de autoconhecimento e, conseq
    uentemente, nas escolhas q teremos q fazer ao longo da vida.

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