Trending News

Blog Post

Artigos

Orientação profissional e de carreira em tempos de pandemia – Resenha

por Lucy Leal Melo-Silva

Doutora, Professora Sênior do programa de pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

Imagem vetorial com pessoas de diversas etnias representando profissionais diversos, utilizando máscara em virtude da pandemia da COVID-19.

O livro intitulado Orientação profissional e de carreira em tempos de pandemia: lições para pensar o futuro, de Marcelo Afonso Ribeiro, foi lançado recentemente pela Vetor, reunindo textos independentes que se articulam em torno das problemáticas contidas no título, com o objetivo de propiciar reflexões que possam se desdobrar em ações em um ambiente de incertezas.

Os textos são derivados de publicações e lives realizadas entre 2020 e 2021. O autor faz provocações para se pensar sobre o futuro, desafiando o leitor a sair do lugar-comum e refletir de forma diversificada e inovadora, no pós-pandemia, questionando os termos “antigo normal” e “novo normal”.

Em diversos momentos do livro, o autor destaca uma citação de Comte-Sponville (2020): “quem acredita que tudo continuará igual está errado. Quem acredita que tudo vai mudar também está enganado”.

O autor trata, inicialmente, da temporalidade na produção do conhecimento, de duas naturezas: chronos (que se refere à continuidade, ao planejamento e à progressão linear e sequencial, o futuro a ser alcançado, por meio de uma trajetória) e kairós (definida pela ruptura, improviso futuro como processo a ser construído em uma multiplicidade de caminhos).

As mudanças até então no domínio da orientação profissional e de carreira se davam pautadas na temporalidade de chronos. Com a pandemia, emerge a temporalidade do tipo kairós.

Assim, o livro foi organizado em seis capítulos, apresentados como textos independentes, que propõem desafios e possíveis saídas para antigos problemas (oferta de serviços qualificados em larga escala) e novos problemas (crises: econômica, sanitária; mudança tecnológica e mídias digitais) no campo da orientação profissional e de carreira.

O capítulo 1 intitula-se Por que uma abordagem focada na justiça social para a orientação profissional e de carreira (OCP) é importante na época do coronavírus? Reflexões a partir da América Latina – o caso Brasil. O autor aceita o desafio de Hooley, Sultana e Thomsen (2020) para responder à pergunta do título, versando sobre o tema na perspectiva latino-americana. Assim, aborda alguns pontos centrais de sua narrativa: modelo de estado, modelos sociais, políticos e econômicos, e o que significa trabalhar no contexto latino-americano.

No capítulo 2, Trabalho e a orientação profissional e de carreira (OCP) em tempos de pandemia, o autor destaca quatro pontos centrais: principais impactos psicossociais da pandemia; interpelações da pandemia sobre a construção da identidade dos jovens; interpelações da pandemia sobre as relações no mundo do trabalho; e os principais desafios para o campo da orientação profissional e de carreira.

A pandemia é inédita para toda a humanidade e, como aponta o autor, colocou em xeque dois pilares: saúde e trabalho. Agrego nesta resenha um terceiro pilar: educação, pois, com o fechamento das escolas, houve impacto na vida das famílias, no espaço doméstico, que também interferiu no trabalho dos familiares, que precisavam e ainda precisam trabalhar fora.

Os que puderam trabalhar de casa, por meio remoto, precisaram compartilhar o computador ou o celular. Sobre a encruzilhada da orientação profissional e de carreira, o autor propõe mudar o foco da escolha para “o trabalhar” (ação).

Contribui com o debate propondo reflexões sobre essas ideias. Indago: seria mudar o foco? Para a população adulta, pode ser, e isso já ocorre, são as demandas desse grupo quando o problema que se apresenta é sobre o trabalho, sobre “o trabalhar”.

Escolhas também emergem em processos de tomada de decisão de adultos sobre: estudar (iniciar um novo curso, interromper ou retornar); trabalho atual (permanecer na mesma posição, buscar progressão ou se desligar); seu próprio negócio (iniciar, manter ou fechar). São escolhas de vida que se fazem no trabalho, no ato de trabalhar e que na pandemia adquiriram um tom mais dramático.

Em intervenções de carreira que focalizam a escolha por um curso técnico, tecnológico ou universitário, o processo de orientação profissional e de carreira, em geral, inclui o tópico mundo do trabalho. Tais questões instigam o debate e vale a pena refletir à luz da contemporaneidade.

O capítulo 3 intitula-se Orientação profissional e de carreira (OCP) e na justiça social em tempos de coronavírus: reflexões para o futuro. O autor destaca a guerra discursiva entre os modelos de Estado – neoliberal, social-democrata e socialista – e a hierarquização entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento social. Nesse contexto, o autor aponta o clássico (e falso) dilema: ganhar dinheiro ou ser feliz, como uma das questões que emergem nas intervenções de carreira.

Aprofundando as questões de (in)justiça social, o autor contextualiza os modelos de mundo social e do trabalho, destacando grupos antagônicos: trabalhadores com direitos versus trabalhadores sem direitos e grupos pelo excesso versus grupos pela falta.

Assim, posiciona-se na defesa de políticas públicas que possam alcançar, prioritariamente, os grupos que se caracterizam pela falta.

O capítulo 4, A construção da carreira na pós-pandemia, contribui com reflexões sobre os conceitos de “trabalho” (substantivo, que representa um estado, um conceito estável, abstrato) e de “trabalhar” (verbo, que representa ação, um conceito dinâmico, ação realizada por alguém). Neste capítulo, são registradas cinco interpelações.

Orientação Profissional e de Carreira (OPC) em tempos de pandemiaNa sexta interpelação, o autor aborda os cinco continua: a) saídas coletivas – saídas individualizadas; b) estabilidade – flexibilidade; c) organização – dispersão; d) permanência – mudança; e) fechamento – abertura. Com base nesses pares dialéticos são tratadas as carreiras tradicionais, flexíveis, profissionais, transicionais e híbridas. Como o autor afirma: “as saídas individualizadas são frágeis e demandam cooperação e senso comunitário para resistirem às crises que a vida apresenta” (p. 10).

O capítulo 5, Modalidade on-line como o futuro da orientação profissional e de carreira (OCP): reflexões necessárias, versa sobre questões teóricas como: a) construção da ciberpsicologia como uma Psicologia das interações on-line; e b) a constituição da subjetividade no espaço virtual ou não presencial.

Em relação às questões técnicas, o foco é na relação orientador-orientando e nas tecnologias de inovação e comunicação (TICs), em intervenções do tipo multimídia e desterritorializante.
No sexto e último capítulo, denominado (In)conclusões: a orientação profissional e de carreira (OCP) diante da crise sanitária da covid-19, o autor desafia o leitor com três questões sobre o presente, o futuro e os princípios, abrindo o debate para as reflexões contínuas e necessárias sobre a orientação profissional e de carreira.

As gerações atuais vivem uma experiência inédita. No momento em que esta resenha foi elaborada, a pandemia já durava 21 meses. O Sars-Cov-19 (síndrome respiratória aguda grave 2) tem passado por variações, levando ao uso do alfabeto grego para nomear as mutações, conforme sugestão de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Já foram registrados os tipos Alpha, Beta, Gamma, Delta, Epsilon, Zeta, Eta, Theta, Lota, Kappa, Lambda.

O objetivo do uso das letras do alfabeto grego foi de simplificar as discussões públicas sobre as mutações do causador da Covid-19 e evitar termos que pudessem estigmatizar o surgimento das novas cepas, ao associá-las a determinados países. Uma nova variação foi classificada em 26/11/2021 pela OMS como “variante de preocupação” e batizada de ômicron .

No mundo, registram-se mais de 5 milhões de mortes por Covid e, no Brasil, são mais de 600 mil, um cenário político caraterizado pela ausência e omissão de políticas públicas e de ações baseadas em ciência para combater o vírus e tratar os doentes.

O “país tem 2,7% da população mundial, aplicou 3,8% de todas as doses de vacinas contra a Covid do planeta e tem 9,1% de todos os casos confirmados, além de 12,4% de todas as vítimas” . Quais as implicações desse cenário para a vida de trabalho dos brasileiros e brasileiras?

Desde 2020, a vida na pandemia levou a preocupações distintas, primeiro a de entender o que estava acontecendo e de adaptação à situação na vida cotidiana e no trabalho, com a adoção de medidas de distanciamento social, higiene das mãos e uso de máscaras.

A seguir, a preocupação intensa foi com a vacinação, e depois com as doses de reforço, a nova variante e os países pobres, cuja vacinação está atrasada. No Brasil, foram muitas idas e vindas (retrocessos) nas orientações, mais evidenciadas pela ausência delas (por parte do Governo Federal) e propagação de fake news, expressas em condutas negacionistas de governantes e de parte da população.

As preocupações revelaram-se diferentes, dependendo da natureza da atividade ocupacional, da classe social do trabalhador e do momento de combate à pandemia. Vidas se foram, empregos foram perdidos e negócios faliram. Uma parte expressiva da população passa fome ou está em insegurança alimentar. Poucos lucram muito, e o fosso entre os mais ricos e os mais pobres se acentuou ainda mais.

O futuro é indagado, os valores são questionados, uma pauta relevante para as pessoas, em geral, e para os profissionais da orientação profissional e de carreira. Assim, este livro traz novas questões que são adicionadas a antigos problemas da área, na busca incessante pela oferta universal de serviços de orientação, educação qualificada, trabalho decente e justiça social.

 

Referências

Variantes da covid-19: como elas são nomeadas? Estadão, Summit Saúde Brasil 2021. 09/11/2021. Recuperado de https://summitsaude.estadao.com.br/novos-medicos/variantes-da-covid-19-como-elas-sao-nomeadas/

Ômicron: por que nova variante detectada na África do Sul pode ser “pior já existente”. BBC News, 26/11/2021. Recuperado de https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59421854

Mundo passa dos 5 milhões de mortes por Covid. G1 Mundo, 1º/11/2021. Recuperado de https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/01/mundo-passa-dos-5-milhoes-de-mortes-por-covid.ghtml

Como o Brasil se compara a outros países em mortes por Covid, casos confirmados e vacinas aplicadas. G1 Mundo, 08/10/2021. Recuperado de https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/08/como-o-brasil-se-compara-a-outros-paises-em-mortes-por-covid-casos-confirmados-e-vacinas-aplicadas.ghtml

 

O que achou desta resenha? Comente e, caso tenha interesse em adquirir o exemplar, clique na imagem do livro.

Orientação Profissional e de Carreira (OPC) em tempos de pandemia

Orientação Profissional e de Carreira (OPC) em tempos de pandemia: Lições para pensar o futuro

O livro apresenta um panorama do que pode ser pensado como projeção do futuro do campo da orientação profissional e de carreira com base nas lições trazidas pela pandemia, que irá, ou não, acontecer. O convite é para sair do lugar comum e da rotina cotidiana e refletir de forma diversificada e inovadora em busca do novo normal. Destina-se a profissionais e estudantes das áreas de psicologia, pedagogia e administração.

Posts relacionados

Deixe um comentário

Campos obrigatórios. *