por Andreza Cristiane da Silva de Martino e Ms. João Paulo Martins
Um dos mais procurados fazeres em psicologia está presente na prática da avaliação psicológica, a qual, muito além da testagem, caracteriza-se por um processo de busca de informações, na tentativa de encontrar respostas e/ou hipóteses para questionamentos advindos do sujeito em sofrimento (LINS; BORSA, 2017).
Trata-se, também, de um procedimento clínico que envolve um corpo organizado de princípios teóricos, métodos e técnicas de investigação tanto da personalidade como de outras funções cognitivas, ressaltando que a escolha das estratégias e dos instrumentos empregados é realizada de acordo com o referencial teórico, o objetivo e a finalidade da avaliação, constituindo um processo complexo, na medida em que utiliza não somente os testes psicológicos, mas, também, as informações obtidas por meio de observações e entrevistas, além de outras técnicas, e confere significado aos resultados, considerando o contexto em que o examinando vive (HUTZ et al., 2016).
O método da avaliação psicológica compõe-se de técnicas psicométricas ou “nomotéticas”, que têm como pressupostos a afirmativa de que todos os indivíduos compartilham características similares que variam apenas em termos de quantidade, e de técnicas “clínicas” ou “idiográficas”, compostas por atividades voltadas à compreensão do indivíduo em sua singularidade, que somente poderá ser compreendida levando em conta aspectos biológicos, psicológicos, históricos, sociais e culturais (HUTZ et al., 2016).
Assim, a avaliação psicológica pode contribuir em diversos setores nos quais a psicologia se faz presente. Nas avaliações, de modo geral, é possível obter informações importantes que auxiliam, num contexto multidisciplinar, no diagnóstico diferencial, fundamentado em um raciocínio complexo, que deve integrar dados obtidos de diferentes fontes, como resultados de testes, observações quantitativas e qualitativas destes, dados sobre a história de vida do avaliado (família, escola, trabalho, religião, etc.), entre outros fatores que possam influenciar a compreensão e as atitudes diante da vida do avaliado (LINS; BORSA, 2017).
Um dos tipos significativos de avaliação psicológica é a avaliação dos ditos transtornos, cuja gama adentra o TEA, transtorno do espectro autista. Muito comum e estudado atualmente é o diagnóstico infantil de TEA, e para tanto temos excelentes materiais de apoio para investigação, como o PROTEA-R – Sistema de Avaliação da Suspeita de Transtorno do Espectro Autista, publicado pela Vetor Editora.
Contudo, muitos adultos com TEA podem não ter o diagnóstico, pois, quando crianças, o TEA passou despercebido ou, ainda, foi confundido com outro transtorno e/ou psicopatologia, ou até mesmo negligenciado.
O TEA nem sempre fora reconhecido dessa maneira, como um transtorno de espectro, ou seja, que poderia ter muitas abrangências e sinais significativos – o que também pode ter contribuído para o fato de atualmente haver muitos adultos diagnosticados com TEA.
A primeira vez que fora referenciado, em 1911, por Bleuler, ainda recebia o nome de “autismo” e não se constituía como algo independente, mas, sim, como uma das sintomáticas da psicose (DONVAN; ZUCKER, 2017).
Assim, ao longo do tempo, os manuais de diagnósticos, por meio de estudos na área, foram alterando as denominações, até que o DSM-5 (APA, 2013) adotou a nomenclatura transtorno do espectro autista e estabeleceu dois pilares para o diagnóstico, a saber:
- déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia;
- padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia.
Com base nessas orientações, pode-se fazer uma avaliação pautada em roteiro de anamnese, investigando como fora a história de vida desse adulto, se há esteriotipias mascaradas, como se dá a adaptação social, como é a coordenação motora, se há transtorno de processamento sensorial, investigação da linguagem e comunicação não verbal.
Assim, o olhar do psicólogo, em conjunto com instrumentos de rastreio como a Escala de Responsividade Social (CONSTANTINO; GRUBER, 2020), instrumentos de avaliação cognitiva, entre outros, buscam, implícita e explicitamente, contemplar e ratificar o diagnóstico do TEA em adultos.
Sendo assim, tendo na avaliação psicológica um dos recursos mais procurados na atuação do psicólogo, na avaliação do TEA ela se coloca como fator estritamente clínico, na qual o profissional deve munir-se de diferentes recursos para compor o processo de avaliação.
Portanto, abre-se a possibilidade para que o profissional trace estratégias de planejamento para futuras intervenções e obtenha subsídios de cunho científico em sua tomada de decisão.
Andreza Cristiane da Silva de Martino
Discente do curso de Psicologia nas Faculdades Integradas de Bauru (FIB).
Ms. João Paulo Martins
Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Tem MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduado em Psicologia pela Universidade do Sagrado Coração (Unisagrado).
Docente da Cooperativa Educacional de Pederneiras, nas disciplinas de Filosofia e Sociologia, e das Faculdades Integradas de Bauru ministrando as disciplinas de Psicologia Social I, Psicologia Social II, Neuropsicologia e Teorias e Técnicas Psicoterápicas IV (Fenomenologia-Existencial).
Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Filosofia da Mente, Fenomenologia, Psicologia Social e Neuropsicologia, e tem como área de interesse a fenomenologia e suas interfaces e o transtorno do espectro autista (TEA).
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, fifth edition (DSM-V). Arlington: APA, 2013.
CONSTANTINO, J; GRUBER, P. C. SRS-2 – Escala de Responsividade Social. 2. ed. São Paulo: Hogrefe, 2020.
DONVAN, J; ZUCKER, C. Outra sintonia: a história do autismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
HUTZ, C. S. et al. (Orgs.). Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Artmed, 2016.
LINS, M. R. C; BORSA, J. C. Avaliação psicológica: aspectos teóricos e práticos. Petrópolis: Vozes, 2017.