por Sananda Lopes
A avaliação das funções executivas ocupa um papel central na neuropsicologia clínica. Essas funções representam um conjunto de habilidades cognitivas de ordem superior, responsáveis por controlar, organizar e coordenar outras funções mentais como atenção, memória, comportamento e emoção. Avaliar essas capacidades de forma precisa é essencial para compreender o funcionamento global do indivíduo, suas dificuldades cotidianas e potencialidades.
O que são funções executivas?
As funções executivas são frequentemente comparadas a um “diretor executivo” do cérebro. Elas envolvem processos como:
- Planejamento: capacidade de estabelecer metas, prever consequências e organizar ações em etapas.
- Flexibilidade cognitiva: habilidade de se adaptar a mudanças, alternar estratégias e abandonar padrões disfuncionais de pensamento.
- Memória de trabalho: manipulação de informações em tempo real, fundamental para tomada de decisões, resolução de problemas e controle de comportamento.
- Inibição e autocontrole: capacidade de resistir a impulsos, manter o foco e evitar respostas automáticas inadequadas.
- Monitoramento e autocorreção: percepção de erros e ajustes durante a execução de tarefas.
Essas funções são fundamentais para a autonomia, o desempenho acadêmico, as relações sociais e a qualidade de vida. Alterações nesses domínios estão presentes em uma ampla gama de condições, como TDAH, TEA, depressão, transtornos de ansiedade, lesões cerebrais, demências e outros quadros neurológicos ou psiquiátricos.
Desafios na avaliação tradicional
Historicamente, a avaliação das funções executivas tem sido feita por meio de testes segmentados e descontextualizados, aplicados em ambientes controlados e artificiais. Essa abordagem fragmentada pode limitar a sensibilidade dos instrumentos para detectar disfunções executivas sutis e, muitas vezes, não reflete as reais dificuldades que o indivíduo enfrenta em seu dia a dia. É comum, por exemplo, que pacientes apresentem desempenho “normal” em testes tradicionais, mas relatem grande prejuízo funcional em casa, na escola ou no trabalho.
A inovação do teste Ice Cream
O teste Ice Cream, desenvolvido pela Nesplora, surge como resposta a essa limitação, utilizando tecnologia de realidade virtual para simular situações reais em um ambiente virtual completo. Com ele, é possível observar o funcionamento executivo em tarefas que demandam planejamento, adaptação a imprevistos, controle inibitório, organização e tomada de decisão sob pressão, muito mais próximos das situações enfrentadas na vida real.
O Ice Cream é voltado a indivíduos a partir de 8 anos e tem aplicação até os 80 anos. Ele avalia:
- Planejamento
- Flexibilidade cognitiva
- Memória de trabalho
- Velocidade de processamento
Essas variáveis são analisadas quantitativa e qualitativamente, permitindo identificar perfis executivos distintos e subsidiar intervenções mais personalizadas. Além disso, o teste é adaptativo: o tempo de apresentação dos estímulos varia conforme as respostas do avaliado, o que aumenta ainda mais sua sensibilidade e validade ecológica.
Por que o Ice Cream é Diferencial?
- Validade ecológica elevada: o ambiente de realidade virtual proporciona uma imersão realista, aproximando a avaliação das situações cotidianas e melhorando a precisão diagnóstica.
- Alta confiabilidade: com coeficientes entre 0,85 e 0,97, o teste apresenta excelente precisão psicométrica.
- Análise qualitativa do comportamento: vai além dos escores, permitindo observar estratégias utilizadas, erros cometidos, perseverações e estilo cognitivo do paciente.
- Utilidade clínica: é eficaz na identificação de disfunções executivas em diversos contextos clínicos e neurológicos, como TDAH, TEA, depressão, ansiedade, doenças degenerativas, traumatismo cranioencefálico e reabilitação neuropsicológica.
Conclusão
As funções executivas são essenciais para o funcionamento global do ser humano. Sua avaliação precisa e contextualizada é vital para o diagnóstico e planejamento terapêutico eficaz. O teste Ice Cream, com sua base tecnológica inovadora e sólida fundamentação científica, representa uma evolução na prática neuropsicológica. Ele permite uma análise aprofundada, realista e confiável das habilidades executivas, promovendo um olhar mais humano, funcional e assertivo sobre o sujeito avaliado.
Sananda Lopes
Psicóloga, Neuropsicóloga, docente e escritora.
Referências
Barbosa, L. R., & Wechsler, S. M. (2014). Avaliação das funções executivas: revisão da produção científica brasileira (2002-2012). Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 5(1), 68–-84.
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Interdisciplinar/article/view/19036 Carneiro, L., & Bandeira, D. R. (2016).
Avaliação neuropsicológica no Brasil: panorama das pesquisas entre 2004 e 2014. Avaliação Psicológica, 15(3), 95–-404. https://doi.org/10.15689/ap.2016.1503.07
Fonseca, R. P. (2015). Avaliação neuropsicológica das funções executivas. In: R. P. Fonseca (Org.), Avaliação neuropsicológica (pp. 143–-165). Porto Alegre: Artmed.
Fonseca, R. P., Zimmermann, N., & Gindri, G. (2009). Avaliação das funções executivas em adultos: instrumentos disponíveis no Brasil. Psicologia: Reflexão e Crítica, 22(2), 247–-255. https://doi.org/10.1590/S0102-9722009000200011
Malloy-Diniz, L. F., Leite, W. B., Moraes, P. H. P., & Correa, H. (2010). Funções executivas: dos modelos teóricos à avaliação neuropsicológica. Temas em Psicologia, 18(2), 307-–316. https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2010000200004
Oliveira, C. R., & Gomes, C. M. A. (2011). Funções executivas: conceitos, abordagens e aplicações clínicas. Psico-USF, 16(3), 387–-395. https://doi.org/10.1590/S1413-82712011000300012
Seabra, A. G., & Dias, N. M. (2012). Funções Executivas: da teoria à prática. São Paulo: Memnon.