por Sonia Regina Baptista Cepellos
Disposta em 18 capítulos e organizada por Evandro Peixoto e Tatiana de Cássia Nakano, a obra está dividida em três partes e tem por objetivo apresentar bases teóricas e práticas necessárias para a utilização de procedimentos, métodos e técnicas da avaliação psicológica aplicados no contexto da psicologia do esporte e do exercício físico.
Em sua primeira parte, composta por 5 capítulos, o leitor encontrará métodos e técnicas específicos da avaliação psicológica no esporte, apresentando a observação, a avaliação qualitativa, os testes psicológicos e como proceder na integração dos dados recolhidos na avaliação.
Ajudar as pessoas a alcançarem o máximo de desenvolvimento e desempenho dentro de suas capacidades exige especialização e treinamento. É preciso buscar uma visão acerca do nível de desenvolvimento do atleta em seus contextos esportivo e pessoal, razão pela qual contar com informações obtidas além do atleta, incluindo treinadores, equipe e comissão técnica são práticas a serem consideradas, principalmente no que refere a decisões e intervenções que venham a ser necessárias.
Nesse contexto, destaca-se o objetivo e a relevância da avaliação psicológica dentro da psicologia do esporte, que é o de obter uma visão acerca do nível de desenvolvimento do atleta em seus contextos esportivo e pessoal, uma vez que o autocuidado físico e psíquico muitas vezes é procrastinado em detrimento da busca do alto desempenho esportivo.
A prática da avaliação psicológica na psicologia do esporte desenvolve-se não apenas na utilização de testes psicológicos, mas, também, revela a prática da observação como uma das ferramentas fundamentais na etapa de coleta de dados da avaliação psicológica de um atleta. A observação exige a habilidade do profissional em compreender o indivíduo dentro de um determinado contexto e em levantar informações de caráter qualitativo ao observar suas reações e comportamentos frente às situações específicas e fatores que venham a influenciar seu desempenho.
Além da observação, instrumentos qualitativos como a anamnese e as entrevistas são adotados na avaliação, objetivando recolher e absorver informações pertinentes que envolvam inclusive a realidade da instituição, suas regras, a dos atletas, da comissão técnica, dirigentes, todos os agentes envolvidos bem como suas relações.
No que se alinha à utilização dos testes psicológicos, a aplicabilidade da observação no processo de avaliação psicológica contribui com o levantamento de dados tanto do comportamento como das características intrínsecas do atleta, informações importantes ao profissional na promoção de melhorias ao bem-estar do atleta e consequentemente em seu desempenho.
Finalizando a primeira parte, os autores abordam “os desafios enfrentados pelos psicólogos do esporte para integrar informações provenientes de diferentes fontes que compõem o processo de avaliação” (p. 61). Baseando-se no processo da avaliação psicológica, destacam a importância da integração das informações recolhidas através das técnicas e instrumentos utilizados no processo, que tem por objetivo ampliar e favorecer tomadas de decisões benéficas ao avaliando ou, ainda, ao grupo de avaliandos.
Uma lista de instrumentos psicológicos utilizados no contexto da psicologia do esporte é sugerida, reforçando os resultados obtidos com entrevistas e a técnica da observação em diversas situações que, por sua vez, revela-se como uma fonte muito rica em informações. Além destas fontes fundamentais, como são chamadas, os autores discorrem sobre as complementares, referindo aqui o uso de testes não psicológicos voltados à identificação de habilidades emocionais e qualidade de vida, entre outros, bem como o uso de documentos técnicos.
Em sua segunda parte, os autores evidenciam a avaliação de constructos específicos e relevantes, tendo como foco a avaliação psicossocial, as razões que motivam a prática esportiva, as funções executivas dos atletas, seu desenvolvimento positivo, seus valores, sua resiliência, além da importância da avaliação neuropsicológica e de seu comportamento psicofisiológico.
Despertar para a importância de compreender o processo oriundo da interação entre os fatores ambientas e emocionais que cercam os adolescentes no programa de formação nas categorias de bases, programas esses que envolvem longos períodos de formação, treinamentos, competições e que trazem consigo, além da ausência familiar, dos amigos e da mudança de escola, carregam também altos graus de cobrança, a incerteza do futuro e de uma carreira de sucesso.
É papel do profissional proporcionar condições de equilíbrio entre a carreira e o bem-estar físico, mental e emocional do jovem atleta, buscando favorecer aspectos relevantes em sua performance.
Em uma esfera mais ampla do contexto da psicologia do esporte, cercar-se dos motivos que levam uma pessoa a praticar determinada atividade física ou um esporte, de maneira a conhecer seu perfil motivacional, é uma prática que muito revela e contribui para melhorar a qualidade do trabalho do profissional, uma vez que terá melhor compreensão do comportamento dessa pessoa.
O uso de questionários, inventários e escalas constituem a maneira mais objetiva de obter essas informações. Nesse sentido, são apresentados dois instrumentos que podem ser utilizados neste cenário, como o IMPRAFE-132 – Inventário de Motivos para a Prática Regular de Atividade Física e Esportiva e o MoTAM – Modelo Teórico de Avaliação de Motivos, trazendo uma breve descrição das teorias que os embasaram.
Destaque apresentado como parte do desempenho e performance dos atletas refere-se ao uso de imagens mentais que “compõem um grupo de técnicas e práticas empíricas que envolvem a capacidade de reproduzir mentalmente ações a priori executadas fisicamente” (p. 119), onde o atleta pratica através de imagens mentais suas ações motoras no esporte, o que muito favorece em prever, planejar e executá-las segundo estudos.
Além da apresentação dos modelos teóricos predominantes na técnica de uso de imagens mentais Applied Model for Imagery use in Sports (AMIUS) e Perspective, Emotion, Task, Timing, Learning, Environment and Physical (PETTLEP), encontram-se também as descrições das escalas de mensuração utilizadas no Brasil.
Em paralelo, o desenvolvimento saudável e positivo é abordado revelando o quanto o esporte contribui nessa questão, promovendo aspectos favoráveis como disciplina, trabalho em equipe, responsabilidade, autoestima, além do próprio papel social do esporte e sua influência sobre o desenvolvimento dos valores humanos, aspectos que podem ser estendidos aos diversos contextos da vida dos jovens atletas.
Prover condições para um desenvolvimento saudável é premissa a um futuro promissor e à habilitação das competências cognitivas e socioemocionais, com base na perspectiva do desenvolvimento positivo de jovens (DPJ) que “orienta programas esportivos pautando-se no objetivo de alinhar as competências e habilidades individuais de crianças e adolescentes com vivências relacionais positivas” (p. 147).
Modelos teóricos da abordagem DPJ são apresentados, pautados na valorização das características positivas tanto individuais como sociais do jovem, com maior incentivo às qualidades e interesses como forma de promover o desenvolvimento positivo e sua autoeficácia, ao perceber suas capacidades e realizações.
Questões importantes são apresentadas quanto à relação da avaliação psicológica com a interdisciplinaridade, tendo como objetivo ressaltar o lugar da avaliação neurológica no ambiente esportivo, ao avaliar e desenvolver intervenções nos principais constructos como atenção, memória, funções executivas, inteligência, percepção, entre outras. Identificar possíveis desordens neurológicas que estejam desencadeando alterações cognitivas, demandam informações pertinentes ao desenvolvimento do trabalho do psicólogo do esporte, obtidas pela avaliação neurológica através da entrevista, processo de observação e a utilização de instrumentos psicológicos, descritos e exemplificados no capítulo 11.
Outro fator abordado são as variáveis psicofisiológicas, reações físicas derivadas de uma reação psicológica ou vice-versa, e como elas podem interferir no rendimento e na prática de exercícios. São discutidas metodologias sobre como o psicólogo do esporte pode avaliá-las através de escalas e procedimentos sugeridos no capítulo 13, auxiliando-o no planejamento de possíveis intervenções que venham melhorar as condições do atleta.
A relação treinador x atleta e a influência e motivação que um treinador exerce são aspectos discutidos, trazendo a empatia como fator relevante, bem como sua capacidade em reconhecer as necessidades emergentes, expondo fatores relevantes na formação e no fator emocional dos atletas. Muito do comportamento do atleta e sua resiliência baseiam-se em apoio e suporte recebidos, principalmente em praticantes de esporte de rendimento, que se destacam por sua capacidade em adaptar-se às mais difíceis situações, tanto físicas como mentalmente.
Ao enfrentarem desafios diários em sua rotina, treinos e competições, e manterem-se firmes em seu objetivo, superando diversas limitações, caracterizadas pelo tipo de esporte que busca por resultados, vitórias e recordes, ocasionam grande pressão no atleta de alto rendimento. Sua avaliação no Brasil ocorre por meio da aplicação de uma escala desenvolvida especificamente para avaliação da resiliência esportiva, a Escala de Resiliência no Esporte (ER-Esp),
Chegando à terceira parte da obra, os últimos três capítulos descrevem exemplos práticos do processo de avaliação psicológica em três contextos: 1) os esportes de alto rendimento; 2) a relação dos constructos norteados pela Psicologia Positiva com a prática esportiva e 3) a autoeficácia profissional em equipes esportivas.
Sonia Regina Baptista Cepellos
Psicóloga, formada há 41 anos pela Faculdade de Psicologia Ciências e Letras São Marcos (SP) e há 26 é proprietária e diretora da Omega Livraria & Psicologia Integrada em Sorocaba /SP.
Referência
Peixoto, E. M., Nakano, T. C. (Orgs.) (2022). Métodos de avaliação em Psicologia do esporte (1ª ed.). Vetor Editora.