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Pós-operatório em Cirurgia Bariátrica | Entrevista

Uma pessoa de pele clara, com tatuagens visíveis nos braços, está sentada à mesa em frente a um microfone. A mesa exibe objetos como um copo térmico, um caderno e papéis. O ambiente sugere um espaço casual de entrevista ou podcast, com iluminação suave ao fundo.

Entrevista com Ilana Arêa Leão

  1. Após a realização da cirurgia bariátrica, os médicos realizam algumas recomendações para o melhor desenvolvimento dos resultados cirúrgicos. Quais seriam essas recomendações e como o psicólogo pode auxiliar o paciente na realização das recomendações?

R- As primeiras orientações pós-cirúrgicas são: a dieta sendo organizada pela própria equipe que, às vezes, é uma dieta líquida muito rigorosa e nós sabemos que a mastigação manda para o cérebro uma sensação de saciedade. Dessa forma, os pacientes têm muita dificuldade no início de não ter essa mastigação e aí é aonde entra o acompanhamento psicológico do pós-cirúrgico, justamente para tentar trabalhar essa ansiedade. A terapia é um espaço de fala que ele tem para colocar todas essas angústias de uma maneira geral para serem canalizadas, já que o alimento não está sendo mastigado. Outra recomendação da equipe é que o paciente esteja junto com a família, orientando, dando suporte. Sabemos que o mundo real não é idêntico ao mundo ideal, no mundo real, às vezes, as famílias não prestam esse suporte, não valorizam o processo pós-operatório, principalmente se eles são contra que o paciente o faça. O suporte terapêutico entra nesse momento como um vínculo muito bem estabelecido, onde o paciente não se sente só e nós passamos a fazer parte de uma rede de apoio de que o paciente precisa para atravessar todas as dificuldades do pós-operatório, principalmente no primeiro mês, que é um mês de mais adaptação, de mudanças radicais de alimentação. Assim, nesse primeiro mês, enquanto têm uma perda de peso considerável, faz muita diferença para o emocional dos clientes, mas acompanhamos esse processo tentando lembrar que não é algo milagroso e sim que precisa de todas as orientações possíveis. Obesidade é uma doença crônica, não tem cura, tem controle, portanto o paciente tem que entrar no processo cirúrgico sabendo que ele vai ser um magro obeso pela cronicidade da doença, que vai precisar de um acompanhamento nutricional e principalmente psicológico para não trocar o objeto da compulsão alimentar, porque na compulsão alimentar o objeto é a comida, mas quando ele emagrece, se ele não tem acompanhamento psicológico, o objeto pode ser outras coisas.

 

  1. Após a cirurgia, é necessário que a pessoa adote um novo estilo de vida. Como seria esse estilo de vida e quais os efeitos psicológicos dessas mudanças?

R – Esse estilo de vida vai desde o dia a dia dela, os horários de alimentação, o acompanhamento nutricional e o autoconhecer, porque, às vezes, o ser humano se sabota por não se conhecer tão bem. Aí é onde entra o acompanhamento psicológico dentro de uma perspectiva existencial do indivíduo, de se perceber melhor, se conhecer melhor, saber quem é sua rede de apoio e saber quais os maiores perigos que ele corre em relação a ele mesmo dentro de uma perspectiva de autossabotagem. Há pessoas que deixam de almoçar para comer uma barra de chocolate, por exemplo. Essa pessoa está precisando de uma reflexão mais profunda sobre o que é essa alimentação. Alguns, por falta de informação, acham, que por não sentirem fome, não têm que comer. Só que o alimento não é apenas para alimentar, é uma rede de vitaminas, proteínas e de tudo que faz parte do corpo do indivíduo, principalmente porque esse indivíduo vai estar em mudança comportamental no que diz respeito à atividade física.  Assim, se ele não tem esse suporte nutricional, corre o risco de desenvolver até uma desidratação, diarreias constantes, etc. Cirurgia bariátrica é um recurso e precisa ser muito bem decidida pelo paciente, pela equipe cirúrgica e com o aval da psicologia.

 

  1. Outra situação de mudança é com relação à autoimagem. O que acontece com ela após a cirurgia bariátrica?

R – Imagine uma pessoa que foi a vida toda gorda, uma criança gordinha, uma adolescente gordinha e se torna uma adulta obesa. Ela sempre se olhou de uma determinada forma e, de repente, ela perde quarenta, cinquenta quilos e olha no espelho, mas não se enxerga. Ela vê porque não é cega, mas não se enxerga e, às vezes, isso gera uma grande crise existencial. Existe uma distorção da imagem corporal. O que ela está vendo não é o que estava acostumada a ver no decorrer de toda uma vida. É nesse momento que entra o trabalho da psicoterapia para que o paciente se permita entrar em contato com aquele novo corpo que foi construído por ele, buscado por ele, conquistado por ele. Inclusive essas pessoas, quando não são bem acompanhadas, desenvolvem transtornos alimentares. São muitos casos de anorexia, bulimia, onde a causa está na questão existencial, está na distorção de imagem e precisa ser tratada em acompanhamento psicoterapêutico. É como se ele não se reconhecesse nesse corpo que está vendo no espelho. É uma nova percepção que se busca trabalhar com esse sujeito dentro do processo de pós-operatório.

 

  1. Estresse e ansiedade são situações que devem ser bem manejadas para evitar o ganho de peso. Como o psicólogo pode auxiliar essas pessoas a lidarem com o estresse e a ansiedade?

R- A ansiedade pode até ser bem positiva em algumas situações. Ela te movimenta, mas o que a gente vê no pós-operatório são níveis de ansiedade muito altos que não são administrados anteriormente à cirurgia. Se não foram bem compreendidos pelo paciente, esses níveis de estresse e ansiedade irão potencializar após a cirurgia, porque, às vezes, esse sujeito lida com o estresse e a ansiedade comendo, como se fosse uma forma de compensar: “Eu trabalhei muito hoje então eu mereço comer isso”; “Eu estou muito estressado, na minha vida está dando tudo errado, então eu mereço comer isso”. Se ele não muda a perspectiva dessa história do merecimento, como a ansiedade e o estresse fazendo parte do mundo contemporâneo e que recursos internos ele tem para lidar com essas adversidades, vai para o pós-operatório bem potencializado com relação a isso. É muito mais saudável e preventivo trabalhar características de personalidade e de comportamento no pré-operatório, porque no pós isso tende a piorar.

 

  1. Após a cirurgia bariátrica, existe a possibilidade de o paciente ter novo ganho de peso. Que tipo de orientação pode ser dado nesses casos?

R- O paciente faz a cirurgia. Nos dois primeiros anos, um ano e meio, dependendo do tipo de cirurgia, o indivíduo tem uma queda brusca do seu peso, em seguida ocorre um efeito platô, depois ele vai evoluindo, chegando ao peso adequado para aquela estrutura de corpo. E é aí que mora o perigo para as pessoas que não são acompanhadas no pós-cirúrgico. As pessoas que são acompanhadas no pós-cirúrgico introduzem na vida dela coisas que nunca faziam antes: atividade física, alimentação organizada, autocuidado e quando vem o efeito platô o paciente já está mais preparado para isso. Ele não se desespera achando que vai engordar de novo, não se desespera achando que perdeu o efeito da cirurgia. Por quê? Porque esses pacientes têm em mente que a obesidade é uma doença crônica e se é uma doença crônica ele vai ter que estar atento a ela para o resto da vida. Então atividade física não é só dois anos, é para o resto da vida. Prestar atenção ao que está comendo é para o resto da vida. Você não vai comer na quantidade que você comia antes, primeiro porque não cabe no seu organismo e segundo que, se você forçar, corre o risco de desenvolver transtornos alimentares (bulimia): você come trinta vezes e vomita vinte, por exemplo. Esse reganho de peso é esperado pela equipe, porém dentro da perspectiva de que o paciente também esteja esperando e esteja preparado para isso.

Comtato Psicotestes e Livros

Ilana Arêa Leão

Ilana Arêa LeãoPsicoterapeuta, especialista em Educação, Terapia Sexual, Traumas, Terapia de Casais e Comportamento Alimentar. Atua na abordagem Gestaltterapia e é Mestre em Psicologia Clínica.

 

 

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