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Orientação Profissional: um processo de escolha da profissão

Entrevista com a Psicóloga, mestre em Saúde Coletiva, Ana Célia Sousa Cavalcante.

1. Durante o Ensino Médio, os adolescentes se deparam com a possibilidade de escolher qual profissional gostaria de ser no futuro. Como acontece esse processo de primeira escolha profissional para o adolescente?

R- “O que eu quero ser quando crescer? ”Essa fala é interessante, e pode fazer parte do processo de escolha profissional do adolescente: É possível reformular essa pergunta, considerando que nas entrelinhas, o jovem pode dizer: “o que eu quero ser quando me deixarem crescer?”

O “me deixarem crescer” pode sinalizar conflitos ou dificuldades no processo de escolha, tais como, imaturidade, insegurança, pressão familiar/social, dúvidas, falta de informações, influências ou identificações, interferindo ou dificultando o processo de escolher.

Para Bohoslavsky (1982) teórico da área de orientação profissional que propôs a chamada “abordagem clínica”, a identidade ocupacional é formada a partir de um processo de contínua interação entre fatores internos e externos, sendo parte da identidade pessoal do indivíduo.

Além da abordagem clínica proposta por Bohoslavsky outras concepções teóricas exerceram grande contribuição para a temática da aquisição da identidade ocupacional. Donald E. Super (1950) contribuiu para o desenvolvimento da teoria desenvolvimentista ou evolutiva relativa à escolha profissional e faz parte de um processo evolutivo que perdura ao longo da vida, iniciando-se na infância e se transformando, conforme o desenvolvimento da personalidade, até a velhice.

Vários fatores podem dificultar ou mesmo interferir no processo de escolha profissional. Em tempos atuais, observam-se jovens inseguros, imaturos ou desinformados acerca do mundo ocupacional, e consequentemente é difícil imaginar alguém que consiga solenemente expressar “hoje eu vou escolher o que eu quero ser quando crescer”.

Segundo LEVENFUS, (1997)“ser quando crescer” faz parte deste processo, possibilita completar mais ciclos na vida, porque portadores de inteligência e linguagem nos permite crescer por nosso risco e conta. Às vezes, a criança, desde muito cedo, já brinca “de ser” professora, médica, artista…. Por exemplo, quando a mãe deixa o sapato e a bolsa ao alcance da criança, rapidamente ela se fantasia de profissional.

Da mesma forma, o menino também pode se colocar no papel de um profissional, que geralmente observa em familiares ou amigos mais próximos. Com este olhar a criança vai brincando de “ser quando crescer”.

Nesse sentido, é importante trabalhar questões relacionadas ao mundo ocupacional não somente no meio familiar, entre outros jovens ou na escola. É primordial a participação de um profissional que possa acolhero jovem em momentos de dúvidas, principalmente no Ensino Médio. Se antes, os adolescentes escolhiam o final desta etapa, atualmente eles são convocados a refletir sobre a escolha muito mais precocemente.

Nos últimos tempos, ao iniciar o Segundo Grau o adolescente é direcionado a uma área: você quer Humanas? Saúde? Exatas? E neste movimento, vão separando os estudantes ou deixando na mesma turma, de acordo com o interesse por determinada área de formação profissional.

E assim o adolescente vai procurando caminhos a trilhar, respostas que possam esclarecer alguns questionamentos, dúvidas, indecisões. Importante perceber que esse olhar precisa ser acompanhado por um adulto interessado em discutir, questionar, esclarecer, informar, apoiar o adolescente.

Às vezes, ter interesse, ser apaixonado, admirar uma profissão pode não ser suficiente. “Arquitetura” interessa porque é uma profissão linda, constrói ambientes lindos e bem decorados”. Mas o que estudar? Quais disciplinas deverá cursar? Quais estágios fazer? Quais ambientes poderá trabalhar? Vale ressaltar que o processo de escolha é intenso, complexo e exige tempo, apoio e informações para uma tomada de decisão madura.

É necessário ter discernimento a respeito de “quem eu quero ser quando crescer”. Essa indagação nos remete a um processo que poderá envolver família, escola, profissionais, mercado de trabalho, dentre outros.

No processo de Orientação Profissional com o adolescente é importante trabalhar questões relacionadas ao autoconhecimento. Promover reflexões sobre o jeito de ser, falar sobre aspectos individuais, interesses, habilidades, facilidades, tipo de leitura preferida, reflexivo/pragmático, facilidade em cálculo, preferência por aspectos objetivos/subjetivos, tipo de lazer, esporte, leitura, entretenimento.

O autoconhecimento é fundamental para o adolescente pensar quem é ele? Quem ele quer ser? Quem deixar de ser? Qual Estilo de Vida? O que gosta de fazer? O que prefere estudar? Qual tipo de Lazer? Esporte? Amizades? Curiosidades?

O adolescente precisa se projetar na idade adulta, perceber-se ocupando um lugar profissional, desempenhando uma ocupação, condizente com o seu jeito de ser. O fazer profissional envolve o jeito de ser, a personalidade e seus traços, e ao longo do tempo incorpora o perfil profissional. A atuação profissional promove identificação entre o eu pessoal e profissional.

Para poder escolher, é preciso conhecer e os principais aspectos a serem contemplados no processo de Orientação Profissional relacionam-se ao conhecimento do que de si está implicado na escolha profissional: motivações, ideais e identificações, medos, conflitos e angústias, interesses, habilidade e sobretudo disponibilidades.

De acordo com Valore (UFPR, 2001) os principais aspectos a serem contemplados no processo de Orientação Profissional relacionam-se: ao conhecimento de si, ou melhor, ao conhecimento do que de si está implicado na escolha profissional: motivações, ideais e identificações, medos, conflitos e angústias, interesses, habilidades e sobretudo disponibilidades.

 

2. No processo de escolha da profissão, o jovem lida diretamente com as expectativas e críticas dos pais, professores, amigos e colegas. De que forma o jovem pode gerenciar esse conjunto de expectativas e críticas externas?

R- As expectativas são importantes, tem jovem que diz: “não, meus pais não sabem nem a série que eu estou cursando”, então é relevante para o jovem saber que é importante para seus pais, que eles estão preocupados consigo, querendo ajudá-lo no sentido de se colocarem a disposição para conversar, saber quais seus interesses, indicar possíveis profissionais com os quais possa conversar, visitar o ambiente profissional, passar um dia, ou um turno para observar um profissional atuando, visualizar-se naquela experiência profissional.

Atualmente, não existe apenas um vestibular, existem várias etapas. O estudante de Ensino Médio faz ENEM no primeiro, segundo e terceiro ano. Então é muito importante o suporte da família, minimizando a ansiedade, a insegurança, o estresse porque quando o aluno se dedica muito ele acredita que a vaga dele está garantida, e muitas vezes não pensa na possibilidade de ficar fora das vagas.

Daí é importante a família acompanhar esse processo apoiando e percebendo, inclusive, os exageros, tais como, o menino ou a menina que passa a semana inteira virando noite para estudar. O adolescente acaba não tendo muito tempo para respirar, ter lazer e muito menos pensar no que ele quer ser.

O foco do adolescente, às vezes, é dar conta do conteúdo. Mas ter equilíbrio, segurança, e organização interna podem favorecera autoestima e autoconfiança, o que certamente facilitará o processo de escolha da profissão, a escolha que o jovem consegue fazer.

 

3. Um fator que interfere diretamente no desempenho dos jovens no período do vestibular é a ANSIEDADE. Muitos jovens não conseguem manter um ritmo de estudos, comparam seu desempenho com outros jovens, não apresentam bom desempenho durante a prova. Existem as expectativas de sucesso no ENEM, a instituição desejada para fazer a graduação e a escolha propriamente dita.

3.1. Como o jovem pode identificar a interferência negativa da sua ansiedade no seu processo de escolha e como ele pode regular essa ansiedade?

R- A ansiedade é fundamental, não vivemos sem expectativa, sem ansiedade. O que precisamos é colocá-la em meio termo, para não ficar indiferente, porque se você não tem expectativa, não está movido por aquela espera e pode ter o discurso: “todo ano tem Enem”.

Muitos jovens passam por essa fase de irem para escola, assistirem aula, revisões, sem estresse, “de boa”, enquanto outros não conseguem, não se permitem fazer outra coisa que não seja estudar.

Não pode namorar, muitos namoradinhos combinam encontros quinzenais, lanchar cedo para chegar em casa cedo e estudar, aquela coisa do compromisso, como se fosse uma obrigação, e acaba se tornando algo muito pesado: “não posso namorar, não posso ir para a academia, não posso ir para festa, porque se não vão dizer que eu não estou estudando”; às vezes o adolescente ao pegar no telefone ouve comentários do tipo: “ah rapaz desse jeito tu não vai passar”.

Sentem-se vigiados e cobrados e assim assumem essa postura de sacrifício e tudo que é sacrifício não tem prazer, é pura obrigação. Na realidade, o jovem precisa ter uma agenda que comporte estudo e lazer, a convivência com amigos, família, mesmo restrita, não pode ser eliminada. Estudar até adoecer, vale a pena?

O estudo precisa ser algo prazeroso, algo que te valoriza, enaltece a capacidade de domínio do conteúdo, sem que isso signifique um sacrifício. É um momento que precisa ser acompanhado pelos professores e familiares na promoção de apoio necessário ao equilíbrio e autoconfiança, sem excessos de ansiedade ou temores desnecessários.

É importante preservar o bem-estar e focar no propósito necessário e suficiente para atingir os objetivos com tranquilidade e segurança.

Em “Por uma Prática Promotora de Saúde em Orientação Vocacional” (Bock, 1995) relata o trabalho com grupos de adolescentes em orientação vocacional onde a finalidade última da intervenção é a promoção de saúde, buscando criar condições para que os indivíduos possam, no grupo, através dos vínculos aí vividos, se conhecerem melhor como sujeitos concretos, percebendo suas identificações e singularidades, percebendo e analisando suas determinações, ampliando e transformando, desta maneira, sua consciência e adquirindo assim melhores condições de organizar seus projetos de vida e especificamente, no momento, fazer sua escolha profissional.

 

3.2. Como as escolas podem colaborar com o processo de escolha profissional de seus alunos?

R- Felizmente a grande maioria de escolas particulares de Teresina já possuem em seu quadro de colaboradores psicólogos contratados, o que não deixa de ser um avanço e potencialidade no meio escolar. No contexto escolar, em geral o profissional de Psicologia elabora projetos de acordo com as necessidades/demandas do contexto.

De modo que, em instituições de Ensino Médio, ao longo do período letivo, existem atividades agendadas para realização de intervenções cujo foco maior é a informação profissional. Geralmente, a escola não tem condições para desenvolver um processo de orientação profissional em sua plenitude, pois a quantidade de alunos e de outras demandas são gigantes.

Então neste contexto, as escolas promovem atividades de Informação Profissional, tais como a Semana de Orientação/Informação Profissional, quando geralmente convidam profissionais (pais, parentes ou ex-alunos já inseridos no mercado de trabalho) para falarem sobre as suas experiências, ambiente de trabalho, rotina profissional no dia a dia.

Entendemos quão importante é a realização de visitas técnicas, levar alunos para conhecer em Universidades/Faculdades, empresas, serviços de saúde e demais campos de inserção profissional, identificados por levantamento de interesses dos alunos. Geralmente, esse tipo de intervenção já faz parte da agenda de trabalho do psicólogo escolar.

No entanto, em casos específicos de dificuldade na escolha, o psicólogo (a) conversa individualmente com o aluno, fala sobre a necessidade de chamar a família e orientar a respeito do processo de orientação profissional individual, favorecendo além do conhecimento do mundo ocupacional/profissional, autoconhecimento, autonomia para escolher, dentre outras demandas que estejam dificultando a tomada de decisão.

Enfim, em se tratando de situações em que a abordagem grupal não supre as necessidades do adolescente, uma alternativa, pode ser dialogar com o aluno/a e familiares a respeito das dificuldades relacionadas ao nível de informação profissional, autoconhecimento e autonomia para tomada de decisão. Importante envolver a família nesse processo.

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1 Comment

  1. Mírian Torres

    Gostei muito!
    Convivi e experenciei estas sufestões num Colégio que trabalhei e sei, por contatos, como foram importantes dm suas escolhas.

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