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Entrevista: A atuação do Psicólogo na Orientação Profissional

Sala de reunião com cinco pessoas, uma em pé e de costas para uma janela

1) Entre tantas áreas de atuação dentro da psicologia, por que a opção pela área de Orientação Profissional?

Eu tive muitas dúvidas no momento de fazer a escolha profissional. Cheguei a iniciar três cursos diferentes de graduação: Biologia, Psicologia e Publicidade. Além disso, passei por diferentes instituições de ensino durante minha formação em Psicologia.

Foi um período bem difícil, em que me sentia muito perdida em relação ao meu lugar no mundo, tanto no sentido da profissão que deveria seguir, quanto da fantasia de que mudando de instituição seria mais “feliz”. Durante a graduação, no entanto, meu foco sempre foi voltado para a Psicologia Hospitalar. Fiz inúmeros cursos e estágios na área, mas, após a formatura, observei que o mercado para a atuação em hospitais era extremamente restrito (hoje está um pouco melhor), e me senti muito desestimulada, e mais uma vez perdida.

Durante a graduação havia feito dois estágios na área de Orientação Profissional e tinha gostado bastante. Mas a opção de trabalhar na área veio mesmo com o ingresso no mestrado, na área de Educação. Escrevi um projeto sobre Orientação Profissional em Escolas Públicas e fui aprovada. Acabei estudando a evasão de estudantes no Ensino Superior, e fui iniciando na área, ministrei palestras em escolas, realizei trabalhos voluntários e participei de grupo de estudos.

No meu trabalho de mestrado, foi possível observar que a insegurança do estudante com relação à opção pelo curso de graduação era considerado um fator preditivo de evasão. Tudo isso me fez acreditar que eu poderia, por meio da Orientação Profissional, fazer a diferença na vida de jovens (que como eu na minha juventude) se sentiam perdidos sobre o que fazer com sua escolha profissional.

 

2) A Orientação Profissional é uma área de atuação exclusiva do Psicólogo ou profissionais de outras áreas também podem realizar esta atividade?

Não, a Orientação Profissional não é uma área exclusiva de atuação do psicólogo. Sendo assim, é possível encontrar profissionais com formações diversas realizando trabalhos de Orientação Profissional. Como é uma área muito ampla, que envolve desde o auxílio com a escolha profissional até o auxílio com a elaboração de um currículo, por exemplo, não necessariamente todas as atividades que envolvem a Orientação Profissional precisam ser realizadas por um psicólogo. No entanto, quando se trata de um atendimento clínico em consultório, eu considero que a formação em Psicologia se torna indispensável, não só pela possibilidade de fazer uso dos testes (exclusivos para psicólogos), mas principalmente por estarmos frente a situações que nem sempre estão relacionadas somente à questão profissional, mas, sim, a questões emocionais importantes, que necessitam de um olhar especializado.

 

3) E, em quais contextos ou locais o Orientador Profissional pode atuar, além da clínica?

O Orientador Profissional pode atuar em escolas, cursinhos pré-vestibulares, universidades ONGs, em postos de atendimento da prefeitura (orientando trabalhadores), e em empresas.

 

4) Existe diferença entre Orientação Vocacional e Orientação Profissional? E o coaching?

A Orientação Vocacional e Profissional são a mesma coisa. Inicialmente, o uso do termo Vocacional se referia à visão que havia sobre a escolha da profissão ser algo que pudesse ser “desvelado”, ou seja, o profissional deveria buscar no paciente a sua vocação (que já existia) e o trabalho estava muito relacionado a trazer isto à tona, utilizando como ferramenta principal os testes/inventários de interesses.

Com o desenvolvimento da área, observou-se que o indivíduo não possuía uma “vocação inata” que precisasse ser desvelada, mas, sim, que a escolha profissional poderia ser construída por meio de atividades e também testes psicológicos que se complementariam para o desenvolvimento de uma escolha que considerasse vários aspectos, que não só os interesses.

Então atualmente uma orientação precisa levar em conta também a história de vida, os valores, e estilo de vida profissional, as habilidades, o perfil de personalidade, dentre outras variáveis do indivíduo para garantir que ele faça um caminho bem-sucedido em termos de direcionamento da profissão a seguir.

O trabalho do Coaching, em termos de sua proposta inicial, está mais voltado ao treinamento de habilidades para alcançar um objetivo dentro da vida profissional. Hoje este conceito tem sido utilizado para diversos tipos de intervenção, sendo possível encontrar muitas definições para o trabalho realizado por este profissional.

 

5) Como é o mercado para quem quer iniciar o trabalho nessa área?

O mercado tem crescido! Quando se trata de consultório, a demanda maior ainda é de adolescentes que buscam auxílio para a escolha da profissão, mas tem aumentado a procura de adultos e aposentados que buscam orientação para tomadas de decisão na carreira.

Existe a possibilidade de realizar projetos em escolas e universidades, mas o acesso a estas instituições ainda é difícil e depende bastante de indicação. Tenho percebido que atualmente, sobretudo na região de São Paulo já se tornou um serviço mais conhecido pela população em geral, e isso tem contribuído para que mais pessoas busquem por profissionais de Orientação Profissional.

 

6) Quais características ou habilidades são importantes o orientador profissional ter?

Gostar de estar com jovens (visto que é o público que mais procura), ser uma pessoa criativa, sensível, com conhecimento sobre as profissões e o mercado de trabalho, sobre a educação superior, e sobre o desenvolvimento do adolescente.

É uma área que se utiliza de técnicas e instrumentos psicológicos, mas o mais importante é que o profissional tenha uma boa escuta do jovem, oferecendo o acolhimento necessário a esta fase de tantas dúvidas que o adolescente esteja vivendo.

 

7) Quais os pontos positivos e negativos dessa área de atuação?

É uma área extremamente apaixonante, por ser dinâmica, por lidar com adolescentes, que são muito espontâneos e engraçados, algumas vezes. Poder contribuir com o desenvolvimento deles, e ajudá-los a superar pelo menos um dos obstáculos enfrentados nessa fase tão difícil da vida é muito significativo. Acho que o mais gratificante é poder acompanhar o “depois” e ver que o seu trabalho fez a diferença na vida daquela pessoa.

Não vejo pontos negativos, penso que temos alguns desafios que fazem parte do trabalho com adolescentes atualmente. São muitos os casos de depressão, de falta de uma estrutura    emocional que os ajude a se tornarem um adulto saudável. Nestes casos, é muito importante que o profissional saiba discernir o limite tênue da intervenção em Orientação Profissional e da Psicoterapia.

8) O que você diria para aqueles que estão considerando a possibilidade de atuar nesta área?

Sempre digo para buscarem cursos e se prepararem, pois o impacto que temos na vida destes jovens é imenso! E termos cuidado na intervenção. Uma frase que criei e representa bem a minha percepção acerca do trabalho do orientador: “Nosso trabalho é ensiná-los a voar, e nunca o de definir qual o melhor percurso!” Se você conseguir desenvolver isso no seu orientando, ele terá recebido uma orientação para a vida, e não só para aquele momento.

Minicurrículo: Rafaela Brissac, psicóloga e mestre em Educação, conta sobre a sua trajetória como orientadora profissional, sobre as possibilidades e os desafios dessa área pouco explorada nos cursos de graduação em Psicologia.
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