por Letícia Martins
A compreensão das Altas Habilidades e Superdotação (AH/SD) é essencial para profissionais da educação e psicologia que buscam entender as diferenças individuais dos alunos. Caracterizado pela presença de diferentes níveis de habilidades e uma variedade de características, o conceito de AH/SD abrange uma visão multidimensional do potencial humano.
A identificação precoce e a avaliação adequada de alunos com AH/SD são cruciais para garantir que recebam o suporte necessário para alcançar seu pleno desenvolvimento. No entanto, rotular um aluno como superdotado sem uma contextualização apropriada dentro do plano educacional pode ser prejudicial. É por isso que é fundamental embasar o processo de identificação em teorias sólidas e em resultados de pesquisas atualizadas.
Este artigo propõe discutir estratégias para identificar alunos com AH/SD de maneira eficaz e consistente com a literatura atual. Embora complexo, esse processo pode fornecer informações valiosas sobre o potencial dos alunos e orientar práticas docentes, desde o planejamento de aulas até a seleção de estratégias de ensino e métodos de avaliação do desempenho escolar.
A literatura destaca a importância da identificação precoce desses alunos para evitar problemas de ajustamento, desinteresse escolar e baixo rendimento acadêmico. Portanto, é crucial que o processo de identificação seja cuidadosamente planejado, levando em consideração uma definição adequada de superdotação para o contexto específico.
No entanto, a identificação de alunos com AH/SD não se resume a um único método ou instrumento. Uma variedade de ferramentas e abordagens pode ser utilizada, incluindo testes psicométricos, escalas de características, questionários, observação do comportamento e entrevistas com familiares e professores.
Nesse contexto, a Escala de Identificação das características de Altas Habilidades/Superdotação (EICAS-AH/SD) (Nakano & Zaia, 2022) e a Triagem de Indicadores de Altas Habilidades e Superdotação (TIAH/S) representam opções adicionais valiosas (Nakano & Zaia, 2023).
Essas escalas oferecem uma avaliação abrangente de comportamentos relacionados à capacidade intelectual, habilidades acadêmicas, criatividade, características socioemocionais e cognitivas. Profissionais qualificados para seu uso podem registrar observações detalhadas sobre o avaliado, como vocabulário avançado, amplo conhecimento sobre um determinado assunto e facilidade para lembrar informações.
Além disso, é importante expandir a avaliação além dos testes padronizados, considerando habilidades diversas como aritmética, habilidades espaciais-temporais, sequência lógica e resolução de problemas do cotidiano. A avaliação também deve incluir observações do desempenho e das habilidades da criança em atividades de seu interesse, como proposto por Renzulli (2002).
Da mesma forma, a avaliação da criatividade pode ser realizada através da análise de produtos criativos, além de testes específicos de criatividade. Essa abordagem mais ampla e holística da avaliação é essencial para identificar de forma eficaz alunos com altas habilidades/superdotação e garantir que recebam o apoio e os recursos necessários para seu desenvolvimento pleno.
É importante destacar que o papel do professor é crucial nesse processo de identificação. Os professores são os observadores mais próximos do comportamento e do desempenho dos alunos, podendo identificar características específicas como criatividade, liderança e interesse em áreas específicas. Existem indicadores de superdotação que podem auxiliar nesse processo, como os elaborados por Delou (1987), que incluem prazer em resolver problemas, defesa das próprias ideias, interesse por desafios, entre outros.
Portanto, o processo de identificação de alunos com altas habilidades/superdotação requer uma abordagem abrangente e multidimensional, envolvendo diversos instrumentos e fontes de informações, incluindo o próprio aluno, professores, colegas de turma e familiares. É essencial considerar a complexidade das interações entre os fatores ambientais, conforme sugerido por Bronfenbrenner (1999) e Chagas, Aspesi & Fleith (2005).
Letícia Martins
Psicóloga formada pela Estácio de Sá (CRP 12/25923), com formação em Prática Clínica em Terapia Cognitivo-Comportamental pela agência JR, em ABA e Autismo para Profissionais pela RB Psicologia. Pós-graduanda em Neuropsicologia e Psicopedagogia, atua na área clínica como Acompanhante Terapêutica.
Referências
Bronfenbrenner, U. (1999). Environment in perspective: Theoretical and operational models. Em S. L. Friedman & T. D. Wash (Orgs). Measuring environment across the life span: Emerging methods and concepts (pp. 3- 28). American Psychological Association. https://www.scirp.org/reference/referencespapers?referenceid=2666695
Chagas, J. F., Aspesi, C. C., Fleith, D. S. (2005). A relação entre criatividade e desenvolvimento: uma visão sistêmica. Em M. A. S. C. Dessen & A. L. Costa Jr. (Orgs.). A ciência do desenvolvimento: tendências atuais e perspectivas futuras (pp. 210-228). Porto Alegre.
Delou, C. M. C. (1987). Identificação de superdotados: uma alternativa para a sistematização da observação de professores em sala de aula. Dissertação de Mestrado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Nakano, T. C (2021). Triagem de Indicadores de Altas Habilidades/Superdotação (TIAH/S). Vetor Editora.
Nakano, T. C. (2021). Triagem de indicadores de altas habilidades/superdotação: versão professor. Vetor Editora.
Reis, S. M., Renzulli, J. S. (2004). Current research on the social and emotional development of gifted and talented students: Good news and future possibilities (41, pp. 119-130). Psychology in the Schools.
Renzulli, J. S. (1986). The three-ring conception of giftedness: A development model for creative productivity. Em R. J. Sternberg & J. E. Davidson (Orgs.). Conceptions of giftedness (pp. 53-92). Cambridge University Press.
Renzulli, J. S. (1992). A general theory for the development of creative productivity through the pursuit of ideal acts of learning (36, pp. 170-182). Gifted Child Quarterly.
Renzulli, J. S. (2002). Emerging conceptions of giftedness: Building a bridge to the new century (10, pp. 67-75). Exceptionality.
Renzulli, J. S., Smith, L. H., White, A. J., Callahan, C. M., Hartman, R. K. & Westberg, K. L. (2000). Scales for Rating the Behavior Characteristics of Superior Students. Revised edition (SRBCSS-R). Mansfield Center, CT: Creative Learning Press. 2002. https://www.researchgate.net/publication/234718050_Scales_for_Rating_the_Behavioral_Characteristics_of_Superior_Students_Technical_and_Administration_Manual_Revised_Edition
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