por Carine Silva dos Santos
A inteligência é um dos fatores mais pesquisados pela Psicologia, tornando-se uma das avaliações mais tradicionais do campo psicológico. A história desse tipo de avaliação tem grandes contribuições do psicólogo francês Alfred Binet, que se propôs a estudar o Quociente de Inteligência (QI) por meio da psicometria, um tipo de investigação que, ao longo dos anos, passou por diversas mudanças.
De maneira semelhante, temos a forte influência de Charles Spearman (1863-1945), com a teoria do fator “G”, que gerou diversas repercussões no campo. Sua teoria postula a existência de uma inteligência geral que permeia todas as habilidades cognitivas. Essa ideia influenciou significativamente o desenvolvimento de testes psicométricos, como as Matrizes Progressivas de Raven, que foram criadas com base nas teorias de Spearman, juntamente da Psicologia da Gestalt e da Teoria do Desenvolvimento Cognitivo.
A partir desses autores, o desenvolvimento do Teste Não Verbal de Raciocínio para Crianças (TNVRI) foi grandemente influenciado. O TNVRI reflete a evolução das avaliações de inteligência, integrando os conceitos de Raven sobre medição de habilidades cognitivas e as ideias de Spearman sobre um fator geral de inteligência. O teste busca oferecer uma medida precisa da capacidade de raciocínio, utilizando tarefas que minimizam a influência de habilidades linguísticas e culturais, proporcionando assim uma avaliação mais justa e abrangente da inteligência.
O TNVRI seguiu os princípios do teste das Matrizes Progressivas de Raven, em especial ao se tratar dos estágios cognitivos das crianças entre 5 e 13 anos de idade, sendo para este os seguintes níveis: a) distinguir figuras idênticas de figuras diferentes e distintas, figuras similares de figuras dissimilares; avaliar a orientação da figura com relação a própria criança e a outros objetos no campo perceptual; b) perceber duas ou mais figuras discretas como formando um todo ou uma entidade individual organizada; c) analisar um todo em suas partes constituintes e distinguir entre o que aparece no real e o que ela própria acrescenta; e, por fim, d) comparar mudanças análogas nos constituintes percebidos e usar isso como um método lógico de raciocinar.
O processo de atualização de normas foi aprovado pelo Sistema de Avaliação de testes Psicológicos – SATEPSI, gerando evidências de fidedignidade ao que se propõe medir.
Dessa forma, o Teste Não Verbal de Raciocínio para Crianças continua a ser uma ferramenta valiosa na avaliação das habilidades cognitivas, oferecendo uma visão clara e objetiva do raciocínio infantil. É fundamental que os profissionais utilizem o teste junto de outros instrumentos para uma compreensão mais completa do desenvolvimento intelectual das crianças. Assim, o TNVRI representa não apenas uma possibilidade para a avaliação psicológica, mas, também, uma adaptação e evolução frente às novas demandas e conhecimentos da psicologia contemporânea para o público infantojuvenil.
Em suma, a evolução das avaliações de inteligência, do trabalho de Binet e Spearman até as atuais atualizações do TNVRI, demonstram o avanço contínuo na nossa compreensão e medição das capacidades cognitivas, refletindo um compromisso constante com a cientificidade na avaliação psicológica.
Carine Silva dos Santos
Psicóloga, consultora técnica em psicologia, especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, pós-graduação em Psicologia do Trânsito e da Mobilidade Humana, orientadora profissional e de carreira.
Referências
Binet, A., Major, S.. Avaliação da inteligência: contributos. [s.l: s.n.]. FCSH-UAC https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/6953/1/C%c3%8aciencia_2023DEZ03.pdf
Pasquali, L. (2024). TNVR – Teste Não verbal de Raciocínio para Crianças: livro de instrução (2ª ed., vol. 1). Vetor Editora.
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