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Gênero, Patriarcado e Violência

por Todosana Beatriz Costa Maia e Clara Gabriela Lobato do Carmo.

Fotocomposição de um conjunto de recortes com um símbolo que representa o gênero feminio. De dentro do circulo e forma o símbolo feminino sai um braço que segura um mega fone. Abaixo deste recorte há um pedaço de papelão e abaixo do papelão há um pedaõ de grade de proteção de plástico.

Imagem por Freepik

Ao falarmos a respeito do patriarcado, gênero e violência se faz necessário entender que tais temáticas possuem em comum a relação de poder do sexo masculino sobre o feminino, assim como suas inferências na sociedade, subjetivação e posição da mulher como um ser.

Compreendendo que estes fenômenos transcorreram por toda a história da sociedade e suas relações e reforça a soberania masculina sobre o corpo feminino.

O sistema patriarcal existe há milhares de anos e se consolidou perpassando em diversas épocas. Essa forma de poder coloca o homem em uma esfera de superioridade e dominação, o centro de tudo, denominando de patriarca, enquanto a mulher é posta como subordinada e submissa a esse homem.

É um sistema que aprisiona e interfere em todas as esferas da sociedade, para além da relação homem-mulher e da construção dessa relação. Dessa forma, o direito patriarcal contamina também o Estado e faz relação direta com os interesses do modo de produção capitalista.

Safiotti (2004) expõe que “a liberdade civil depende do direito patriarcal” (p.57), direito o qual não se trata de uma relação privada e sim civil, onde atribui direitos sexuais e autoritários ao homem (patriarca) sobre as mulheres.

E se configura como uma relação hierárquica que perpassa todos os espaços da sociedade, ocorrendo a objetificação do corpo da mulher, representando uma estrutura de poder baseada na ideologia e na violência.

Desse modo, ressalta que o patriarcado se configura como um sistema que reforçará a relação de dominação-submissão, o controle da sexualidade feminina e como se desenvolve as relações homem e mulher, bem como busca favorecer o homem branco, cisgênero e heterossexual pois, no serviço da função patriarcal, o homem detém o poder de estipular determinadas condutas, e o respaldo de punir o que lhe entende como equívoco.

Desta forma, a culpa e a responsabilização da mulher por diversos fatores se fazem presentes, enraizados e normalizados socialmente, de modo que a mulher se encontra em autocobrança para conseguir realizar todas as responsabilidades que são impostas a ela, influenciando sua rotina, suas relações, sua saúde física e mental.

Além disso, também é culpabilizada por erros de homens, justificando o uso de tais vestimentas, comportamentos, gostos e lugares que se frequentam. As mulheres já nascem destinadas a sentirem culpa, são treinadas e moldadas para sentirem culpa, independente do motivo, mesmo que não haja fundamento aparente, culpabilizam-se, pois se vive em uma civilização da culpa e que também é reforçada socialmente. (Safiotti, 2015).

Dessa forma, o conceito de gênero tem fornecido uma crítica cultural sob a dominação masculina e subordinação e opressão feminina. Por isso, se faz necessário explanar sobre o debate de gênero que, inicialmente, teve seu significado intrinsecamente ligado ao sexo biológico, classificando e separando-os segundo diferenças anatômicas.

Contudo, ao longo dos anos, tal palavra ganha novos significados, marcando não apenas a diferenciação de sexos, mas também a construção e organização social dos indivíduos em sociedade, delimitando como os sujeitos vão se encaixar nas funções sexuais masculinas e femininas impostas pela construção cultural ao longo de séculos.

Faz-se necessário um olhar crítico para essas regras impostas aos sujeitos e questioná-las sobre sua propagação, repetição e normalização na sociedade.

De acordo com Scott (1995) a ideia de gênero indica construções culturais e as ideias sobre papéis adequados aos homens e às mulheres e refere-se às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres. O gênero conforme essa definição é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado.

Simone de Beauvoir (1980) discorre: “Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino” (Beauvoir, 1980, p. 99). Para a autora, nenhuma mulher nasce mulher, torna-se mulher.

Posto isso, observamos que papéis e hábitos da cultura consistem no ensino e perpetuação destes aos sujeitos, consolidando a mulher para exercer funções milenares que visam o interesse de uma sociedade residente de um sistema patriarcal que se beneficia desse lugar de subordinação.

Todavia, a violência de gênero não esta ligada apenas à violência contra a mulher. Estes conceitos foram explanados como sinônimos a partir do movimento feminista da década de 70 que, através da luta contra a violência de gênero, utilizavam o termo ‘’Violência contra a mulher’’, por ser o alvo principal da mesma.

Portanto, ao tratar da violência de gênero, entende-se que, mesmo em local de privilégio o homem também é vítima dos papéis estipulados como o dominador, forte, heterossexual, controlador e racional de uma ideologia sexista. Ao se afastar desses papéis, o homem sofre violência de gênero, até mesmo sofre para reagir, para se tornar agressivo, dominador e violento.

Baseado nisso, entende-se que a violência contra a mulher é existente e possui, também, caráter sexual, uma vez que a sociedade patriarcal, totalmente sexista, estipula um pacto masculino que assegura a opressão das mulheres e que trata o corpo feminino como um objeto sexual que tem por objetivo satisfazer os desejos dos homens e carregar seus herdeiros.

Lerner (2019) destaca a criação dessa violência desde a escravidão, a mesma cita que ‘’A escravidão teve início com homens escravizando mulheres e que uma história comum e universal de escravização de mulheres envolve o estupro.

Por mais que escravos homens tenham sofrido e ainda sofrem com a opressão (pois engana-se quem pensa que a escravidão é algo do passado), a opressão sexual, a rotina do assédio e abuso sexual, não costumavam fazer parte do seu dia a dia. Mas fazem parte da rotina das escravas mulheres. Desde o início da escravidão, homens escravos eram explorados para o trabalho. Já as mulheres escravas eram exploradas para o trabalho, para serviços sexuais e para reprodução. (Lerner, 2019)’’

Deste modo, podemos analisar como a figura da mulher tornou-se secundária perante a figura do homem, como este passou a exercer o controle perante o corpo feminino e como alguns hábitos e funções culturais incorporaram-se a ela, o que também não deixa de violar os seus desejos perante seu corpo. Desta forma, a violência sexual engloba o assédio, abuso sexual e tudo aquilo que viola a dignidade e o corpo da mulher, independente de sua relação com o abusador.

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Autoras

Todosana Beatriz Costa Maia, psicóloga formada pela Escola Superior da Amazônia, CRP10/08693. Psicóloga Clínica.

Clara Gabriela Lobato do Carmo, psicóloga formada pela Escola Superior da Amazônia, CRP10/ 08613. Psicóloga Clínica.

Referências

Beauvoir, S. (1980). O segundo Sexo: Fatos e Mitos. Tradução Sérgio Milliet. Ed. Nova Fronteira.

Lerner, G. (2019). A criação do Patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens. Tradução Luiza Sellera. Cultrix.

Saffioti, H. (2015). Gênero, patriarcado, violência (ed. 2). Fundação Perseu Abramo. Scott, J. Gender on the politics of history. Columbia

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