por Juliana Corrêa Schwarz
Em meio aos desafios e pressões acadêmicas, programas de mindfulness e regulação emocional têm se mostrado cada vez mais eficazes para o bem-estar psicológico de estudantes universitários. Diversas pesquisas recentes apontam que esses métodos podem ajudar a lidar com o estresse e, também, contribuem para a melhora de habilidades cognitivas e emocionais essenciais. Vamos conhecer alguns desses estudos e os benefícios observados.
No estudo de Bartos et al. (2022), por exemplo, foi avaliado um programa que reúne práticas de yoga, psicologia positiva e inteligência emocional, com o objetivo de aumentar a atenção e o bem-estar em estudantes de música da Universidade de Granada, na Espanha. Em sessões semanais de uma hora ao longo de dois anos, 25 estudantes participaram das práticas de yoga e de atividades como meditação, registrando uma melhora significativa em atenção plena e regulação emocional.
Outro exemplo é o estudo de Schulte‐Frankenfeld e Trautwein (2022), da Itália, no qual foi utilizado um aplicativo de mindfulness com estudantes que trabalham e estudam. Durante oito semanas, os participantes usaram o aplicativo diariamente, realizando sessões curtas de meditação. Ao final do período, eles relataram menos estresse e uma melhora na capacidade de autorregulação, ou seja, desenvolveram habilidades que os ajudaram a gerenciar tarefas acadêmicas e de trabalho.
A pandemia do Covid-19 trouxe à tona o impacto do estresse sobre o desempenho acadêmico. Nos Estados Unidos, Mesghina et al. (2021) exploraram, em dois estudos, como o sofrimento causado pela pandemia afetou o aprendizado em aulas online. No primeiro estudo, descobriram que o alto nível de sofrimento estava relacionado a maiores distrações e dificuldade de aprendizagem. No segundo estudo, os pesquisadores testaram intervenções de mindfulness para reduzir essa distração e observaram que isso ajudou a controlar a divagação mental dos estudantes, embora o efeito positivo sobre o aprendizado ainda precise ser mais explorado.
Programas de regulação emocional online também têm demonstrado resultados positivos. Novamente nos Estados Unidos, Gatto et al. (2022) desenvolveram um programa de cinco semanas em uma plataforma online para ensinar estratégias de regulação emocional, como a reavaliação cognitiva e ferramentas de automonitoramento. Os participantes relataram menos emoções negativas e sofrimento psicológico após a conclusão, sugerindo que, mesmo em um formato online, o aprendizado de regulação emocional pode ser útil para reduzir o estresse e aumentar o controle emocional.
Krifa et al. (2022) aplicaram um programa focado em coerência, atenção, relacionamento e engajamento em estudantes de saúde na Tunísia. Esse treinamento online, que durou oito semanas, mostrou-se eficaz na redução dos sintomas de estresse, ansiedade e depressão, além de aumentar o bem-estar. Interessantemente, esses efeitos positivos se mantiveram por até três meses após o término do programa. Embora o engajamento acadêmico tenha voltado aos níveis iniciais após três meses, os estudantes reportaram uma melhoria na regulação emocional e um aumento no otimismo e na esperança, fatores que podem beneficiar a saúde mental a longo prazo.
A procrastinação é um desafio comum entre universitários, e os alemães Schuenemann et al. (2022) abordaram essa questão com um treinamento de regulação emocional. O programa, que incluía práticas de mindfulness e técnicas para lidar com emoções aversivas, foi eficaz em reduzir a procrastinação entre os participantes, pois eles aprenderam a aceitar e gerenciar melhor o desconforto emocional que pode surgir durante o estudo.
Para além dos efeitos imediatos sobre o estresse e o desempenho acadêmico, as práticas de mindfulness e regulação emocional, portanto, oferecem algo ainda mais profundo: o desenvolvimento do autoconhecimento. Quando os estudantes aprendem a observar suas emoções, a entender os gatilhos de estresse e a regular suas reações, eles adquirem ferramentas que vão além da vida universitária, impactando sua trajetória pessoal e profissional.
O autoconhecimento promove uma maior capacidade de enfrentar adversidades, tomar decisões com clareza e cultivar relações mais saudáveis. Essas práticas podem favorecer o amadurecimento emocional, que potencializa a saúde mental e o bem-estar a longo prazo.
Juliana Corrêa Schwarz
Psicóloga, mestre e doutoranda em educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental. Atua como psicóloga clínica e docente de psicologia em Curitiba.
Referências
Bartos, L. J., Funes, M. J., Ouellet, M. et al (2022). A Feasibility Study of a Program Integrating Mindfulness, Yoga, Positive Psychology, and Emotional Intelligence in Tertiary-Level Student Musicians. Mindfulness (v. 13, n. 10, p. 2507–2528).
Gatto, A. J., Elliott, T. J., Briganti, J. S., et al (2022). Development and Feasibility of an Online Brief Emotion Regulation Training (BERT) Program for Emerging Adults. Frontiers in Public Health (v. 10).
Krifa, I., Hallez, Q., Van Zyl, L. E., et al (2022). Effectiveness of an online positive psychology intervention among Tunisian healthcare students on mental health and study engagement during the Covid‐19 pandemic. Applied Psychology: Health and Well-Being (v. 14, n. 4, p. 1228–1254).
Mesghina, A., Wong, J. T., Davis, E. L., et al (2021). Distressed to Distracted: Examining Undergraduate Learning and Stress Regulation During the COVID-19 Pandemic. AERA Open (v. 7, p. 233285842110657).
Schuenemann, L., Scherenberg, V., Von Salisch, M., Eckert, M. (2022). “I’ll Worry About It Tomorrow” – Fostering Emotion Regulation Skills to Overcome Procrastination. Frontiers in Psychology (v. 13).
Schulte‐Frankenfeld, P. M., Trautwein, F. (2022). App‐based Mindfulness meditation reduces perceived stress and improves self‐regulation in working university students: A randomised controlled trial. Applied Psychology: Health and Well-Being (v. 14, n. 4, p. 1151–1171).